Nove pequenos ensaios de um compromisso ancestral

Data
2024
Tipo
Trabalho de conclusão de curso
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Resumo
Ao longo desse processo criativo, fui tecendo um território em que o afeto e a tradição ancestral serviram como instrumentos para ressignificar o espaço da memória, que o racismo havia delimitado como local exclusivamente de violência. A partir da reelaboração de trechos da minha vivência, enraizados no universo simbólico trazido por minha família, deixei de ocupar exclusivamente o papel de pesquisadora e assumi a posição de sujeito atuante, imbuído de uma participação ativa nesse processo de reconstrução da narrativa. Assim, revisito por meio da escrita o complexo universo de encruzilhadas que me compõem, volto meu olhar para álbuns de família e para a imagem do racismo, cujos gritos de ordem permeiam e cruzam nossas relações cotidianas. Nos meus escritos, tudo ganha som, cor, imagem e principalmente movimento. A escrita não se apresentou a mim como uma dádiva, mas sim, eu a escolhi como ferramenta de ocupação e resistência, capaz de dar forma às memórias dos saberes tradicionais da minha família, ressignificando o sentido de comunidade, afeto e felicidade. Trago minhas memórias, pois elas constituem o que há de mais valioso e autêntico em mim, mesmo que por muito tempo eu tenha desejado esquecer quem eu era. Assim como uma imagem nunca é igual a outra, meus escritos percorrem um fluxo disruptivo, em que a linearidade se dissolve. Por meio da escrita, esses saberes encontram caminhos para ocupar e subverter o não-lugar, conferindo novos significados à experiência e à resistência. Revisitar e reconstruir minhas memórias como um quebra-cabeça requer não apenas sabedoria e coragem, mas principalmente entender que a culpa não é uma criação minha. Escolhi pela escrita não para validar o conhecimento de meus antepassados ou para comprovar algo à branquitude, mas para me posicionar a partir desse território, reconhecendo que sou, como afirma Dandara Suburbana, um arquivo vivo em movimento. No contexto deste trabalho final, proponho trazer à tona a encruzilhada da qual sou filha - entre, escrita, oralidade, corpo, ancestralidade e religiosidade - apresentando um outro modo de escrita, de tempo e de vida.
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