A reinvenção de Fúlvio Abramo: relações entre história e literatura em Vita, de Benvenuto Cellini, e sua tradução na era Vargas (1934-1939)
Data
2024-09-11
Tipo
Dissertação de mestrado
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Resumo
Um texto historiográfico, por meio de seus recursos teórico-metodológicos, busca interpretar as ações, as sensibilidades e as ideias do sujeito, também responsabiliza-se por analisar a veiculação dos fenômenos políticos, sociais e culturais nas diferentes formas narrativas e nos diversos contextos temporais. Assim, em conformidade com essa lógica, nota-se que uma obra literária se estabelece a partir de uma relação dialética entre a realidade social e agência individual, bem como determinada por sua condição de produção. A partir dessa perspectiva, esta pesquisa tencionou investigar a tradução para a língua portuguesa do livro autobiográfico La Vita Di Benvenuto Cellini, Scritta Da Lui Medesimo, do escultor Benvenuto Cellini, escrito entre 1558 e 1566, publicada no Brasil pela Athena Editora, em 1939. A versão brasileira foi elaborada pelo jornalista Fúlvio Abramo, militante de esquerda ligado ao movimento trotskista, sob o pseudônimo de J. L. Moreira, na década de 1930, quando de seu encarceramento no presídio político Maria Zélia, em São Paulo, para torná-la também um instrumento de denúncia dos abusos de violência e da corrupção do sistema carcerário e policial dessa estrutura prisional, palco de torturas e assassinatos no contexto do período constitucional da Era Vargas. A partir das fontes pesquisadas e do cotejamento entre o texto original e o traduzido, a pesquisa delineou a teoria de que a tradução da obra desempenha a função de uma versão e não somente o dever de uma vertente comprometida com a fidedignidade. Desse modo, a questão que guia esta análise é a de que a tradução brasileira do livro autobiográfico de Cellini pode ser estudada sob a perspectiva histórico-cultural. Ademais, o estudo observou os conceitos da teoria do efeito estético de Wolfgang Iser e suas funções na versão brasileira, uma vez que, no texto, percebem-se significados implícitos, formações discursivas e sentidos ocultos deixados pelo autor, constituindo um discurso subliminar, que foi compreendido e interpretado de acordo com as competências específicas do sujeito-leitor, conforme as noções apontadas por Roger Chartier e, de acordo com o conceito de leitor implícito de Wolfang Iser.