Masculinidades mágicas: práticas mágico-religiosas e as feitiçarias nas formas de "ser e fazer-se homem" na Amazônia Colonial (1750-1773)
Data
2024-03-12
Tipo
Dissertação de mestrado
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Resumo
A presente pesquisa tem como objetivo analisar a construção e o exercício de certos comportamentos masculinos de homens envolvidos com o uso de práticas mágico-religiosas na capitania do Grão-Pará na segunda metade do século XVIII. Tendo por base metodológica a categoria gênero, questionamos como o uso destas práticas mágico-religiosas (bolsas de mandinga, orações aos santos, o uso de hóstias e de pedras d’ara) se relacionavam à construção, ao reforço ou à performance de certos tipos e práticas de masculinidades que fugiam ou não dos modelos de bom cristão e marido da época moderna. Para tanto, analisamos os casos de homens (brancos, indígenas, mamelucos e negros) processados pelo Tribunal do Santo Ofício português sob acusação do crime da feitiçaria na capitania do Grão-Pará, sobretudo entre os anos de 1750-1773. Selecionamos, entre confissões e processos inquisitoriais, constados no Livro da Visitação do Santo Ofício da Inquisição ao Estado do Grão-Pará e também em outros documentos do fundo do Santo Ofício custodiados pelo Arquivo Nacional da Torre do Tombo (ANTT), aqueles referentes a homens acusados de usar práticas de feitiçaria para fins amatórios e protetivos. Antes, porém, se fez necessário estudarmos a concepção jurídica e teológica da época moderna lusa em torno do crime e da crença da feitiçaria diabólica e também como esta crença se encontrava presente nos relatos e nos discursos dos missionários inseridos na América Portuguesa. E, para melhor contextualização dos processos analisados, procuramos compreender o processo de missionação e colonização da região da Amazônia Colonial, apresentamos alguns tipos sociais masculinos existentes na capitania do Grão-Pará, bem como estudamos e investigamos como as reformas pombalinas e as normativas da Igreja Católica prescreviam os padrões de masculinidade e a ordem matrimonial no contexto metropolitano e colonial por meio dos regimentos, das ordenações régias e de tratados morais. Por fim, além dos homens, analisamos alguns casos de mulheres processadas pelo uso de práticas de feitiçaria amatória na capitania do Grão-Pará a fim de identificar a existência de algumas diferenças entre as motivações de homens e de mulheres na recorrência destas práticas mágico-religiosas.