Interações agudas do chá de ayahuasca com agentes usados em anestesia (propofol e morfina), observadas em modelos animais

Data
2009-05-27
Tipo
Dissertação de mestrado
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Resumo
Ayahuasca tea (AYA) is a beverage with psychoactive properties, prepared by the cooking of two plants: Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) C.V. Morton (Malpighiaceae) (stem bark) and the leaves of Psychotria viridis (Ruiz & Pav.) (Rubiaceae). The major hallucinogenic compound present in P. viridis is DMT, but when it is ingested by oral route it is quickly inactivated by MAO-A present in the bowel, which is avoided by the combination of â- carbolines IMAO, present in B. caapi. Despite the constantly increasing use of AYA, there are few studies about the possible interactions produced by this tea in association with other drugs. The aim of this study was to evaluate the possible interactions between AYA and two other drugs used in anesthesia procedures: morphine and propofol; with doses established from the amount ingested by people in the rituals (equivalent of 120 mg/kg). The doses tested varied from 120 mg/kg (1X or 1 dose), to 2400 mg/kg (20X or 20 doses). Concerning pharmacological screening test (PST), AYA showed some signs of toxicity when administered by ip route (decreased of motor activity, hypersensitivity about stimulus and intense tremor). The oral route was better tolerated than ip. Administration of AYA (1X and 10X) did not interfered with motor coordination in the rota-rod test, but AYA 10X showed a biphasic effect on the motor activity test, because it decreased the initial ambulation (until 30 min), followed by an increase between 2h and 4h. AYA 10X increased the sleeping time induced by hexobarbital, however when AYA was administered 24h before hexobarbital did not occurred any interference in the sleeping time. Concerning grooming, the groups treated with AYA 10X showed a decrease of this signs. Results of association of AYA + morphine on the PST, mice showed Straub tail more intense and durable when compared with morphine group and ataxia and tremor when compared with AYA group. In the test of motor coordination, the group treated with the association of drugs, showed a lower motor activity when compared with the morphine group followed by an increase after 2h when compared to the other groups. The results obtained in hot plate test showed a potencialization of the morphine effects; however these results are not confirmed by abdominal contortions and formalin test. Intestinal transit test did not show any results about interaction. To qualitatively evaluate the effect of the association AYA + propofol in the PST, the data showed a potencialization of tremors induced by AYA more intense and durable. In the rota-rod test was observed a diminishing tendency in the AYA + propofol group. On the sleeping time test, AYA 1X decreased the sleeping time induced by propofol. Therefore, AYA interfered with the propofol effects. In summary, the whole results indicate some association interaction among AYA and morphine and propofol. These interactions were subtle and need proper clinical experimentation to verify its occurrence in humans.
O chá de ayahuasca (AYA) é uma bebida com propriedades psicoativas preparada a partir do cozimento de duas plantas: o cipó Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) C.V. Morton (Malpighiaceae) e as folhas de Psychotria viridis (Ruiz & Pav.) (Rubiaceae). A DMT, presente nas folhas da P. viridis, é o principal componente alucinógeno do chá, mas quando ingerida é rapidamente inativada pela MAO-A presente nos intestinos, o que é evitado com a associação das ß-carbolinas inibidoras da MAO que estão presentes na B. caapi. Apesar do aumento do número de usuários deste chá, ainda existem poucos estudos a respeito das possíveis interações de seus princípios ativos com outras drogas, o que torna cada vez mais importante conhecer as possíveis interações entre o chá e fármacos empregados na clínica. No presente trabalho foi avaliada a possível interação do chá de ayahuasca com dois agentes de muita importância em anestesia: propofol e morfina. As doses utilizadas no estudo foram obtidas a partir da dose média consumida pelo ser humano nos rituais (equivalente a 120 mg/kg, encontrada em 70 mL do chá), definidas como 1 vez (1X) até 20 vezes (20X) ou 2400 mg/kg. No teste do “screening” farmacológico (SF) os animais apresentaram alguns sinais de toxicidade, quando administrado por via ip (diminuição da atividade motora, hipersensibilidade a estímulos e tremor intenso). A administração oral do chá (1X e 10X) não provocou alterações no teste do rotarod, mas no teste da atividade motora, os animais que receberam AYA 10X apresentaram efeito bifásico (diminuição inicial da ambulação até 30 min, seguida de aumento entre 2h e 4h). A dose de 10X aumentou o tempo de sono induzido pelo hexabarbital e diminuiu o tempo de “grooming”, em experimento onde este parâmetro foi quantificado. Em relação à associação chá de ayahuasca com morfina, no teste do SF observou-se que os animais apresentaram cauda de “Straub” mais intensa e duradoura quando comparado com o grupo morfina; ataxia e tremores quando comparados com o grupo AYA. No teste da atividade motora, o grupo que recebeu AYA 1X + morfina apresentou menor atividade locomotora do que o grupo que recebeu apenas a morfina, porém após 2h houve aumento da locomoção em relação a todos os outros. Os resultados obtidos no teste da placa quente demonstram uma potencialização dos efeitos da morfina, embora estes resultados não sejam confirmados pelo teste de contorções abdominais (CA) e formalina. Também não foi demonstrada qualquer interação no grupo administrado com a associação de chá e morfina no teste do trânsito intestinal. O chá isoladamente não apresentou efeito antinociceptivo no teste da placa quente, mas apresentou efeito antinociceptivo central e periférico nos testes de CA e formalina. Ao se avaliar qualitativamente o efeito da associação AYA e propofol, no teste do SF observou-se uma potencialização dos tremores induzidos pelo chá, que se manifestaram mais intensos e prolongados. No teste do rota-rod foi observado uma tendência de prejuízo no grupo que recebeu o chá e em seguida o anestésico. Já no teste do tempo de sono, AYA 1X diminuiu este parâmetro, portanto, interferindo com os efeitos do propofol. Em síntese, o conjunto de resultados indica alguma interação no que se refere à associação do chá de ayahuasca com a morfina e o propofol. Essas interações foram discretas e necessitariam de experimentação clínica apropriada para verificar sua ocorrência no ser humano.
Descrição
Citação
PIRES, Júlia Movilla. Interações agudas do chá de ayahuasca com agentes usados em anestesia (propofol e morfina), observadas em modelos animais. 2009. 110 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, 2009.
Pré-visualização PDF(s)