Perfil inflamatório e presença de marcadores gênicos em pacientes pós traumatismo cranioencefálico: influência do uso do biperideno como droga antiepileptogênica
Data
2022-11-16
Tipo
Tese de doutorado
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Resumo
O traumatismo cranioencefálico (TCE) é uma condição importante e complexa causada por uma
força externa à cabeça, como impacto, aceleração ou desaceleração rápida, ondas de choque,
esmagamento ou penetração de um objeto, resultando em lesões do tipo focal ou difusa. Afetando
mais de 10 milhões de pessoas anualmente em todo o mundo, o TCE pode resultar na ocorrência
de crises convulsivas pós-traumáticas e no desenvolvimento de epilepsia pós-traumática (EPT)
de acordo com a intensidade da lesão. A inflamação e uma série de biomarcadores genéticos como
apolipoproteína E (ApoE) vem sendo estudados nesta condição sem ainda resultados conclusivos.
Além disso, a relação entre o sistema colinérgico e o desenvolvimento de EPT tem sido descrita
em estudos de laboratório e situações clínicas específicas. Em estudos com drogas
anticolinérgicas realizados por nosso grupo de pesquisa observamos que o biperideno reduziu a
frequência e a gravidade das crises espontâneas no modelo de epilepsia por pilocarpina.
Objetivos: Avaliar de maneira prospectiva o perfil da resposta inflamatória e a presença de
marcadores genéticos específicos em pacientes após traumatismo cranioencefálico. Métodos:
Foram recrutados pacientes que faziam parte de um estudo maior que buscou avaliar a capacidade
do biperideno em modificar a evolução da EPT. Tratou-se de um estudo duplo-cego, randomizado
com controle placebo. Amostras de sangue de 27 pacientes com TCE foram analisadas por qPCR
para expressão gênica. A expressão proteica foi analisada a partir do soro de 24 pacientes por
reação de quimioluminescência (Multiplex) e, por fim, verificamos a presença de polimorfismos
de nucleotídeo único (SNIPs) de ApoE e GAD por sequenciamento de Sanger. Além disso,
amostras de sangue total de 59 pacientes (52 vivos e 7 que acabaram vindo a falecer em
decorrência do TCE) foram coletadas em tubos de soro, tubos de EDTA e tubos de tempus®. O
soro foi utilizado para a extração do gDNA, e a expressão das proteínas foi analisada pela reação
de quimioluminescência. Multiplex. As coletas de sangue em tubo Tempus foram utilizadas para
expressão gênica por qPCR. Finalmente, sangue total foi usado para verificar a presença de
polimorfismos de nucleotídeo único (SNIPs) de ApoE e GAD por sequenciamento de Sanger.
Resultados: O grupo placebo foi composto por 34 pacientes e o grupo biperideno por 25
pacientes. O sequenciamento de Sanger mostrou que 33,9% dos pacientes apresentavam pelo
menos um alelo ε4 para ApoE, 62,7% dos pacientes apresentavam a presença do GAD SNIP
rs3791878 e 52,5% tinham o GAD SNIP rs769391. Apenas 32,2% apresentavam o alelo GAD
SNIP rs3828275. Em relação ao fator pró-inflamatório TNF-α e IL-10, a expressão gênica
(RNAm) foi maior nos pacientes que sofreram TCE moderado ou grave, enquanto a IL-6 foi
menor neste grupo. A expressão do gene TNF-α foi menor nos pacientes que desenvolveram
epilepsia quando comparados aos pacientes que não desenvolveram a doença. No entanto, a
expressão das proteínas TNF-α e IL-10 foi maior em pacientes que não possuíam um alelo para
ε4 quando comparados aos pacientes que possuíam pelo menos um alelo ε4 para APOE. A
expressão das proteínas TNF-α e CCL2 foi menor em pacientes que possuem ε3 em heterozigose.
Finalmente, a expressão da proteína IL-6 foi maior em pacientes que evoluíram para óbito. Sobre
os pacientes que morreram, 4 foram placebo e 3 biperideno. Todos eram E3/E3 para ApoE e
apenas um em cada grupo apresentou crise convulsiva aguda. A expressão gênica e proteica de
citocinas não teve diferença entre placebo e biperideno. Das 8 pessoas que desenvolveram EPT,
6 eram do grupo biperideno. Conclusão: Quanto mais grave o TCE maior a expressão gênica de
TNF-α, os níveis proteicos de IL-10, e menor a expressão gênica de IL-6. Aparentemente, a
presença de pelo menos um alelo ε4 para ApoE diminuiu os níveis proteicos de TNF- α e IL-10,
assim como o TNF- α e o CCL2 também se mostraram elevados nos pacientes com o alelo ε3 em
homozigose. A comparação entre os pacientes que desenvolveram epilepsia com aqueles que não
desenvolveram revelou a maior expressão de TNF- α no grupo que veio a desenvolver a doença.
A presença de ApoE 4 (pelo menos um alelo) esteve presente em 5 dos 8 pacientes com epilepsia,
enquanto nos pacientes que evoluíram a óbito, o genótipo E3E3 estava presente em 100% dos
casos. Os dados deste estudo ainda são inconclusivos quanto à eficácia do biperideno no
desenvolvimento de EPT após TCE. Mais estudos são necessários para aumentar o número de
indivíduos e a precisão da dose efetiva de biperideno para influenciar o prognóstico de EPT após
TCE. Poucos dados na literatura indicam que os biomarcadores para a EPT se sobrepõem à
resposta inflamatória e aos biomarcadores de TCE em geral. No geral, a descoberta de
biomarcadores para EPT está em um estágio inicial. É necessário um roteiro estratégico para
propor prioridades de pesquisa na descoberta de biomarcadores genéticos para TEP com
otimização do uso de recursos.