O insucesso em escolas técnicas públicas paulistanas: representações de educadores, estudantes e familiares sobre o ensino médio integrado

Data
2023-02-28
Tipo
Tese de doutorado
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Resumo
A modalidade de ensino técnico integrado ao ensino médio ofertada nas escolas técnicas prevê a articulação da educação básica à educação profissional. Na cidade de São Paulo, as escolas técnicas estaduais e federais, que ofertam essa modalidade de ensino, possuem processo seletivo para ingresso com alta concorrência, fato que se explica pelo número reduzido de vagas, o qual não atende a demanda pelo ensino médio. São escolas que se apresentam como "escolas públicas de qualidade", possuem bons indicadores em seus cursos de ensino médio integrado, tais como baixo índice de abandono, quando comparadas às médias das escolas brasileiras, destacam-se em avaliações e exames educacionais oficiais, como o Enem, e veem seus estudantes egressos conquistarem aprovação em vestibulares renomados. Apesar de possuírem cargas horárias extensivas que as aproximam do conceito de ensino integral, estudos retratam que a exigência de alto rendimento dos estudantes, nessas escolas, reforça a seletividade e a competitividade entre eles, o que pode resultar em sofrimento, eventuais reprovações e/ou abandono. Este trabalho buscou, por meio do contraste entre duas escolas técnicas de educação profissional, uma federal e uma estadual, identificar e analisar as representações sociais de gestores, coordenadores, professores, estudantes e suas mães sobre o insucesso escolar. Compreendemos por insucesso quando o estudante não tem o desempenho esperado pela instituição, o que pode levá-lo à reprovação, à repetência e até mesmo ao abandono ou à evasão. Utilizamos como referencial teórico os estudos sobre representações sociais de Serge Moscovici e os estudos sobre a cultura escolar, cotejados com a literatura pertinente ao tema. A pesquisa se pauta em uma metodologia qualitativa com a produção de dados realizada, em ambas as escolas, no período compreendido entre novembro de 2020 e julho de 2021, por meio de entrevistas com gestores, docentes, estudantes e mães de estudantes. A esses dados acrescentam-se aqueles oriundos da análise de documentos legais e institucionais das duas escolas. Delineamos como problema de pesquisa identificar e refletir sobre os sujeitos que fracassam em contextos de sucesso, bem como sobre os significados do fracasso nesses contextos. Os resultados do contraste entre as escolas nos mostram que, embora existam diferenças entre as culturas escolares identificadas, há recorrências entre as representações, que variam de acordo com o lugar de fala dos participantes. As recorrências, que se relacionam com o insucesso, apontam para a representação de um aluno idealizado, selecionado pelo processo seletivo. A representação sobre o aluno imaturo, que não corresponde ao ideal delineado pelos educadores e que se distancia da representação da adultização, é amplificado pelo hibridismo constitutivo dessas escolas, que mesclam características da educação básica e do ensino superior. A persistência de elementos constitutivos da escola moderna na cultura escolar segue contribuindo para o insucesso de estudantes, em instituições que, embora sejam reconhecidas pelo sucesso, apresentam limitações para acolher as individualidades desses jovens e suas dificuldades escolares.
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