Fatores associados ao tempo de jejum de pacientes pediátricos internados para procedimento cirúrgico: características individuais e prática assistencial
Data
2023-02-28
Tipo
Dissertação de mestrado
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Resumo
Introdução: A prescrição de jejum noturno pré-operatório a partir da meia noite é uma prática tradicional com intuito de evitar a aspiração do conteúdo gástrico por via traqueal no momento da indução anestésica. Atualmente, sabemos que reduzir o tempo de jejum pré-operatório para procedimentos eletivos em pacientes saudáveis não aumenta as taxas de aspiração brônquica, acelera a recuperação pós-operatória, diminui a resposta metabólica ao trauma cirúrgico, favorece a redução do íleo adinâmico e melhora sintomas como náuseas, vômitos, sensação de fome e sede no pós-operatório. Da mesma forma, diminuir o jejum pós-operatório reduzo o tempo para a tolerância da dieta geral, auxiliando a convalescência cirúrgica. Justificativa: Apesar das recomendações atuais, nem sempre é possível a efetivação desta estratégia na prática assistencial. Desta forma, o conhecimento da dimensão de inadequação à estas recomendações e o estudo das características de atendimento em enfermarias de cirurgia pediátrica possibilita identificar fatores modificáveis dos serviços prestados. Objetivos: Identificar fatores associados e estimar o tempo de jejum pré e pós-operatório de pacientes pediátricos internados para procedimentos cirúrgicos. Casuística e Métodos: Estudo observacional do tipo coorte contemporânea conduzido na enfermaria de cirurgia pediátrica do Hospital São Paulo durante os anos de 2020 e 2021. A amostra foi constituída por 284 pacientes pediátricos admitidos para procedimento cirúrgico eletivo ou de urgência. Dados foram obtidos por meio de um questionário aplicado aos responsáveis e da coleta de informações do prontuário médico. Os resultados foram apresentados como médias com desvio padrão, mediana com intervalo interquartil e prevalências com intervalo de confiança. Para quantificar o acaso nas associações das variáveis com o jejum pré-operatório (medido contínuamente), foi utilizado teste de Mann-Whitney e a regressão linear simples e múltipla. No caso do jejum pós-operatório foi considerado adequado quando menor ou igual a 6 horas e (variável categórica dicotômica) e foi utilizado a regressão logística simples e múltipla. Resultados: Encontradas medianas do tempo de jejum pré-operatório de 11 horas e 40 minutos, pós-operatório de 3 horas e 40 minutos e jejum total de 20 horas. O tempo de jejum pré-operatório para cirurgias eletivas foi menor do que que para as cirurgias de urgências (p=0,025). Todos os pacientes permanecerem em jejum pré-operatório com tempo superior às recomendações atuais. Os fatores associados ao maior tempo de jejum pré-operatório (minutos) foram: a maior idade em anos (β=10; IC95%=5,2-14,8) e a ocorrência de cirurgia anterior (β=76,6; IC95%=28,0-125,1). Já os fatores associados ao tempo de jejum pós-operatório superior a 6 horas foram: a não realização do pós-operatório imediato na enfermaria cirúrgica (OR=6,05; IC=2,25-16,22), a presença de complicações intraoperatórias (OR=3,53; IC=1,19-10,47), o porte cirúrgico maior (OR=3,85; IC=1,49-9,93), cirurgia do tipo abdominal (OR=36,52; IC=13,48-98,91) e presença de vômitos nas primeiras 24 horas de pós-operatório (OR=3,44; IC=1,54-7,69). Conclusão: A totalidade dos pacientes apresentou jejum pré-operatório prolongado, provavelmente, pela falta de um protocolo institucional. Um olhar atento deve ser direcionado às crianças com maior idade e com cirurgia anterior. Em relação a recomendação de reiniciar dieta no primeiro dia de pós-operatório, esta meta na maioria dos casos foi atingida. Treinamento e organização da equipe assistencial quanto às características dos pacientes, dinâmica do atendimento e intercorrências clínicas, em diversos setores, podem contribuir com uma maior adequação do início da dieta no pós-operatório.