Perna perna e crassostrea brasiliana como sentinelas da contaminação por microplásticos em zonas costeiras

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Date
2022-10-31Author
Ribeiro, Victor Vasques [UNIFESP]
Advisor
Castro, Ítalo Braga [UNIFESP]Type
Dissertação de mestradoMetadata
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Perna perna and crassostrea brasiliana as sentinels of microplastic contamination in coastal zonesAbstract
A poluição marinha é um importante problema ambiental na atualidade, tendo as atividades
antropogênicas como fontes histórias de substâncias e materiais potencialmente danosos
para o ambiente. Resíduos sólidos, principalmente os plásticos, geram impactos aos
ecossistemas, e estudos sobre o tema têm aumentado nos últimos anos. Estima-se que em
2050 haverá mais plástico que peixes nos oceanos, devido a lenta degradabilidade que lhes
garante vasta distribuição, até em locais remotos. Microplásticos (MPs) são partículas
plásticas com tamanho entre 1 µm e 5 mm, resultantes do processo de degradação de
partículas maiores, ou já produzidas nesta faixa de tamanho. De fato, MPs têm sido
encontrados associados à tecidos de várias espécies de organismos aquáticos. Nesse sentido,
bivalves filtradores são particularmente suscetíveis a acumulá-los em seus tecidos. Dessa
forma, ostras e mexilhões parecem ser boas sentinelas da contaminação por MPs, por serem
sésseis, apresentarem ampla distribuição geográfica, e responderem fisiologicamente à
exposição a contaminantes ambientais. Apesar disso, poucos estudos realizados até o
momento avaliaram comparativamente a performance de diferentes espécies de bivalves no
que tange a seu emprego em monitoramentos ambientais. O Sistema Estuarino de Santos
(SES) está sob a influência de aportes de resíduos oriundos de diversas indústrias, além de
abrigar um relevante complexo portuário para a América Latina. Costões rochosos do SES
abrigam bancos naturais de Perna perna e Crassostrea brasiliana, cronicamente expostos
a um gradiente de contaminação. Com base neste cenário, hipotetizamos que diferenças
qualitativas e quantitativas no acúmulo de MPs podem ser detectadas entre estas espécies.
Assim, o presente estudo avaliou comparativamente o acúmulo de MPs considerando as
concentrações totais, forma, tamanho e composição polimérica em ostras e mexilhões
expostos à diferentes níveis de contaminação no SES. Foram encontrados 2.534 MPs
associadas ao tecido dos bivalves C. brasiliana e P. perna no SES. Os organismos obtidos
no ponto mais contaminado (S1) foram os que apresentaram os piores estados de nutrição
e saúde. Além disso, a concentração de MPs em bivalves de S1 estão entre os mais altos já
reportados para moluscos até o presente momento (até 44,1 itens.g
-1
). Os MPs amostrados
eram compostos principalmente de Celulose e polimetilmetacrilato (PMMA). Além disso,
MPs foram principalmente < 1.000 µm (67,6%), fibras (97,3%) e sem coloração (87%). A
avaliação espacial da distribuição de MPs em ostras e mexilhões do SES confirmou a
presença de um gradiente de contaminação que já fora identificado por outros estudos de
monitoramento da contaminação ambiental. As ostras apresentaram estado de nutrição e
saúde mais consistente ao longo do gradiente de contaminação, além de acumularem uma
maior diversidade de polímeros e mais MPs em pontos de amostragem sob menor pressão
antropogênica. Entretanto, as duas espécies foram igualmente capazes de diagnosticar
diferenças espaciais na concentração de MPs assim como os tipos mais frequentes de
polímeros, classes de tamanho, forma e cor. Portanto, as duas espécies apresentam alto nível
de equivalência quando usadas como sentinelas da contaminação por MP, apesar de
algumas diferenças interespecíficas. Nossa abordagem pode servir como um guia valioso
para selecionar espécies com bom desempenho para serem utilizadas em programas de
monitoramento ambiental nas perspectivas local e global. Currently marine pollution is an important environmental issue, with anthropogenic
activities and historical sources of residues and contaminants potentially harmful to natural
areas. Solid waste, especially plastics, generate impacts on ecosystems, and studies on the
subject have increased in recent years. It is estimated that by 2050 there will be more plastic
than fish in the oceans, due to the slow degradability contributing to their wide distribution,
even in remote zones. Microplastics (MPs) are plastic particles measuring between 1 µm
and 5 mm, resulting from the degradation process of larger particles, or already produced in
this size range. In fact, MPs has been found associated to tissues ofseveral species of aquatic
organisms. In this sense, filter-feeding bivalves are particularly sensitive to accumulating
them in their tissues. Thus, oysters and mussels seem to be good sentinels of MPs
contamination, as they are sessile, have a wide geographic distribution, and respond
physiologically to exposure to environmental contaminants. Despite this, few studies carried
out to date have comparatively evaluated the performance of different species of bivalves
in terms of their use in environmental monitoring. The Santos Estuarine System (SES) is
under the influence of inputs of waste from various industries, in addition to housing a
relevant port complex for Latin America. Rocky shores of the SES harbor natural banks of
Perna perna and Crassostrea brasiliana, chronically exposed to a contamination gradient.
Based on this scenario, we hypothesized that qualitative and quantitative differences in MPs
accumulation can be detected in these species. Thus, the present study comparatively
evaluated the MPs accumulation considering the total concentrations, shape, size and
polymeric composition in oysters and mussels exposed to different levels of contamination
in SES. We found 2,534 MPs associated to tissue of C. braziliana and P. perna. The
organisms obtained at the most contaminated site (S1) presented the worst nutritional and
health conditions. Furthermore, the MPs concentration in bivalves from S1 are among the
highest ever reported for molluscs to date (up to 44.1 particles.g
-1
). The MPs found were
mainly composed of Cellulose and polymethyl methacrylate (PMMA). In addition, MPs
were mostly < 1,000 µm (67.6%), fiber (97.3%) and colorless (87%). The spatial assessment
of the MPs distribution in the SES confirmed the presence of a contamination gradient that
had already been identified by previous environmental monitoring studies. The oysters
showed more consistent nutrition and health status along the contamination gradient, in
addition to accumulating a greater diversity of polymers and more MPs at sampling sites
under lower anthropogenic pressure. However, the two species were equally able of
diagnosing spatial differences in the MPs concentration and the most common types of
polymers and size, shape and color classes. Therefore, a high level of equivalence between
oysters and mussels can be expected in monitoring studies of MPs contamination, despite
some interspecific differences. Our approach can serve as a valuable guide for selecting
well-performing species for use in environmental monitoring programs from local and
global perspective