Práticas de letramento em contextos não formais: possibilidades na (re)construção de identidades e criação de novas narrativas sobre si

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Data
2019-09-30
Autores
Saad, Mayte Ache [UNIFESP]
Orientadores
Vovio, Claudia Lemos [UNIFESP]
Tipo
Dissertação de mestrado
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Resumo
This research presents two main questions as background: the social disadvantages in which adolescents who live in vulnerable territories are immersed, particularly the ones related to the opportunities of access and dissemination of the uses of writing; and the role of social organizations, situated in the broad and diverse context of non-formal education, which aim to complement the learnings of formal system, in order to contribute to the promotion of human rights and the overcoming of adolescents disadvantageous conditions in the social environment. In this respect, this study concerned an investigation of a group of adolescents, who participate in one of these organizations, located in the district of M´Boi Mirim, in the outskirts of São Paulo, seeking to identify the literacy practices they take part in, as well as to comprehend how they signify these events of uses of writing and construct their identities in this process. Our interest was to verify to what degree these experiences favor the expansion of opportunities of choice and participation of adolescents in a society affected by social inequalities. The theoretical contributions come from the Literacy Studies in a socio-historical and cultural perspective, comprehended as multiple, diverse and marked by power relations, the Cultural Studies that deal with identity construction and the enunciative-discursive approach of the Bakhtin´s Circle. The data used in this qualitative and interpretative research was generated from observation and video recording of these literacy events, the construction of self narratives, the conversation circles with the adolescents, and the semi-structured interviews with the adolescents and the social educator of the group. The results indicate the existance of a plurality of literacy events offered to adolescents, which are permeated by the reception, appropriation and production of multimodal texts, related to the oral expression, the music, the images and the use of the space and body, beyond writing. We identified collaborative practices, where adolescents, focused on their interests, would take different roles related to the social uses of writing, negotiate ideas and actions, position themselves and perform in public mediated by different languages. At the same time, the presence of literacy events marked by social control and tutelage related characteristics, which mobilized school and religious discourses, and those connected to mass cultural models was identified. Despite these challenges, the discursive positions of the adolescents regarding the literacy practices they take part in the social organization reveal they appreciate and recognize the importance of these experiences, which help them expand their possibilities of expressing themselves, participating more actively in diferent spheres (mainly the school sphere) and constructing new paths which allow them to choose and dream.
Esta pesquisa parte de duas questões como pano de fundo: as desvantagens sociais às quais estão imersos adolescentes que vivem em territórios de alta vulnerabilidade social, particularmente, no que se refere às oportunidades de acesso e difusão de práticas de usos da escrita; e o papel desempenhado por organizações sociais, que se situam no amplo e heterogêneo campo da Educação Não Formal, e que têm como proposta a complementação de aprendizagens em relação ao sistema formal, visando contribuir para a promoção de direitos e para a superação das condições de desvantagem desses adolescentes no jogo social. Nesse sentido, este estudo envolveu a imersão em uma turma de adolescentes, participante de uma dessas organizações, localizada na subprefeitura de M´Boi Mirim, na periferia de São Paulo, buscando identificar as práticas de letramento que são oferecidas, assim como compreender os significados que os participantes atribuem a tais situações envolvendo os usos da escrita e como constroem-se identitariamente nesse processo. Interessou-nos verificar em que medida essas experiências favorecem a ampliação das oportunidades de escolha e de participação dos adolescentes em uma sociedade marcada por desigualdades sociais como a nossa. Os aportes teóricos advêm dos Estudos do Letramento numa perspectiva sócio-histórica e cultural, considerando-os múltiplos, heterogêneos e imbrincados em relações de poder, dos Estudos Culturais, que tratam da construção identitária, e da abordagem enunciativo-discursiva do Círculo de Bakhtin. A metodologia assumida, de cunho qualitativo-interpretativista, envolveu a geração de dados por meio da observação participante e gravação em vídeo de eventos de letramento, da construção de autobiografias orais, da realização de rodas de conversa com os adolescentes e de entrevistas semiestruturadas com os adolescentes e com o educador social do grupo. Os resultados encontrados nos indicam a oferta aos adolescentes de uma pluralidade de práticas perpassadas pela recepção, apropriação e produção de textos multimodais, nos quais a oralidade, a música, as imagens e o uso do espaço e do corpo constituem esses letramentos, além da escrita. Identificamos propostas colaborativas e abertas à experimentação de papéis diversos, voltadas aos interesses dos adolescentes, nas quais negociavam entre si, se colocavam ativamente nas discussões e se apresentavam a partir de diferentes linguagens. Ao mesmo tempo, verificamos a presença de letramentos marcados por características de conformação social e de tutela, que mobilizavam traços e discursos escolares, religiosos e de reprodução de modelos culturais de massa. Apesar desses desafios, os posicionamentos discursivos dos adolescentes acerca desses letramentos, permeados por valorações altamente positivas, nos sugerem um reconhecimento do papel dessas experiências que tomam parte na Associação na ampliação de suas possibilidades de se expressar e de ser, no favorecimento de uma participação com mais autonomia e segurança em diferentes esferas nas quais atuam (principalmente na escolar) e na construção de trajetórias nas quais podem escolher e sonhar.
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