A polissemia de "coxinha" no português paulista: uma abordagem segundo a Gramática das Construções Cognitiva
Data
2019-03-20
Tipo
Dissertação de mestrado
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Resumo
This dissertation describes and explains the polysemy of the word "coxinha" in Paulista Portuguese, in specific, and in Brazilian Portuguese, in general. Within the framework of Cognitive Linguistics, the approach is formulated according to Cognitive Construction Grammar, a model which emphasizes the development of new meanings out of conventional meanings associated to a grammatical construction. What the dissertation uses from the theory is the conception of meaning as encyclopedic, viewpointed, flexible, and usage-based. What it uses from the model is the conception of polysemy as a radial categorization of meanings motivated by metaphoric and metonymic patterns. Therefore, the word "coxinha" is the grammatical construction that this dissertation takes for its object, which does not include the grammatical constructions of which this is part. Therefore, we address (i) the description of the meanings that the construction shows and (ii) the explanation of its polysemy by means of two cognitive processes: metaphor and metonymy. The pursuit of such aims revealed the insufficiency of the cognitive processes to explain the value of judgement in two new meanings, present in Paulista Portuguese: the one related to the police officer and the one related to a voter profile. In order to explain both of them, we have to appeal to the concept of subjectification, developed by Functional Linguistics and absorbed by Cognitive Linguistics, and we conclude that the subjectification contributes to the systematic polysemy of nouns in the diminutive and participates in the designations we take for metonymic. The construction of the meanings is investigated diachronically: (i) the first meaning of the word "coxinha", entrenched in Brazilian Portuguese, is the name of a snack, and such designation is attributed to metaphor; (ii) the second meaning, new and originated in São Paulo, is a nickname for the civil servant, in general, and the military police officer, in particular, of São Paulo state, and such designation is attributed to metonymy associated with subjectification; and (iii) the third meaning, also new and originated in São Paulo, refers to right-wing voters according to a folk theory of politics, is also attributed to metonymy and subjectification. In this dissertation, metaphor and metonymy remain as cognitive processes responsible for conceptualization, a central phenomenon in Cognitive Linguistics, which defines it as dynamic and imagistic, while subjectification is situated in the realm of viewpoint. Since meaning is defined as viewpointed, encyclopedic, flexible and usage-based,it becomes necessary to distinguish between conceptualization based on cognitive processes and subjectification as a manifestation of viewpoint. Following the usage-based path, we chose the newspaper O Estado de São Paulo as a source of data. Although we do not include usage frequency in our aims, the word was found in several editorials, which led us to divide the tokens of the word in three groups for the formation of a corpus: (i) from 1894 to 1999, for the analysis of "coxinha" as a snack name; (ii) from 2000 to 2012, for the analysis of "coxinha" as the nickname of the police officer; and (iii) from 2013 to 2018, for the analysis of "coxinha" as a voter profile. The division does not imply that the meaning relative to the snack does not occur beyond the first period, or that the meaning relative to the police officer does not occur beyond the second. Our thesis is that perspectivization, a species of which subjectification is a specimen, plays a preponderant role in the development of the latest meanings, given that subjectification is both part of the systematic polysemy relative to the word-formation process and associates with metonymy. Thus, this dissertation contributes to the recognition of the role of metaphor and metonymy with a case study where, without perspectivization, cognitive processes are not enough to explain the value of judgement. By doing so, this dissertation articulates the situated and the distributed characters of cognition, as defended by Cognitive Linguistics and Cognitive Sociolinguistics.
Esta dissertação tem por objetivos descrever e explicar a polissemia da palavra “coxinha” no português paulista, em particular, e no português brasileiro, em geral. Sob o viés da Linguística Cognitiva, a abordagem se formula segundo a Gramática das Construções Cognitiva, modelo que enfatiza o desenvolvimento de significados novos a partir de significados estabelecidos em relação a uma construção gramatical. O que a dissertação emprega da teoria é a concepção do significado como enciclopédico, perspectivista, flexível e baseado no uso. O que emprega do modelo é a concepção de polissemia como categorização radial de significados motivados por padrões metafóricos e metonímicos. Assim, a palavra “coxinha” é a construção gramatical que esta dissertação toma por objeto, sem adentrar nas construções gramaticais de que faz parte, ou seja, nos dedicamos aqui (i) à descrição dos significados que a construção exibe e (ii) à explicação de sua polissemia por meio de dois processos cognitivos: a metáfora e a metonímia. A busca desses objetivos revelou a insuficiência dos processos cognitivos para explicar o juízo de valor em dois significados novos, presentes no português paulista: o correspondente ao policial e o correspondente a um perfil de eleitor. Para explicá-los, recorremos ao conceito de subjetivização, desenvolvido pela Linguística Funcional e absorvido pela Linguística Cognitiva, e concluímos que essa manifestação do ponto de vista constitui a polissemia sistemática dos substantivos no diminutivo e as nomeações que consideramos metonímicas. A formação dos significados é apresentada de forma diacrônica: (i) o primeiro significado da palavra “coxinha”, considerado como rotinizado no português brasileiro, é o nome de um salgado, e tal nomeação é atribuída à metáfora; (ii) o segundo significado, considerado como novo e de origem paulista, é uma alcunha para o funcionário público, em geral, e o policial militar, em particular, do Estado de São Paulo, e tal nomeação é atribuída à metonímia associada à subjetivização; e (iii) o terceiro significado, também considerado como novo e de origem paulista, remete à posição político-partidária de direita segundo o senso comum e é igualmente atribuído à metonímia e à subjetivização. Na abordagem aqui desenvolvida, a metáfora e a metonímia se mantêm como processos cognitivos responsáveis pela conceptualização, fenômeno central na Linguística Cognitiva, que o define como dinâmico e imagístico, enquanto a subjetivização se situa na esfera do ponto de vista. Sendo o significado definido como perspectivista e enciclopédico, se faz necessária a distinção entre conceptualização, com base em processos cognitivos, e subjetivização, como manifestação do ponto de vista.Em busca de dados da língua em uso, escolhemos como fonte o jornal O Estado de São Paulo. Embora o trabalho não se incline ao estudo da frequência de uso, a palavra foi encontrada em diversos editoriais do periódico, o que levou à divisão das ocorrências da palavra “coxinha” em períodos, que, na formação do corpus, foram divididos em três: (i) de 1894 a 1999, para a análise de “coxinha” como nome de salgado; (ii) de 2000 a 2012, para a análise de “coxinha” como alcunha do policial; e (iii) de 2013 a 2018, para a análise de “coxinha” como um perfil de eleitor. A divisão não implica que o significado relativo ao salgado não ocorra além do primeiro período, tampouco que o significado relativo ao policial não ocorra além do segundo. A hipótese de trabalho é que a perspectivização, espécie da qual a subjetivização é um tipo, tem papel preponderante no desenvolvimento dos significados mais recentes, dado que a subjetivização atua tanto na polissemia sistemática relativa ao processo de formação da palavra “coxinha” quanto associada à metonímia. Assim, o trabalho acrescenta ao reconhecimento do papel da metáfora e da metonímia um caso em que, sem a perspectivização, os processos cognitivos não bastam para explicar o juízo de valor. Com isso, a dissertação articula o caráter situado e o caráter distribuído da cognição, conforme defendido pela Linguística Cognitiva e pela Sociolinguística Cognitiva.
Esta dissertação tem por objetivos descrever e explicar a polissemia da palavra “coxinha” no português paulista, em particular, e no português brasileiro, em geral. Sob o viés da Linguística Cognitiva, a abordagem se formula segundo a Gramática das Construções Cognitiva, modelo que enfatiza o desenvolvimento de significados novos a partir de significados estabelecidos em relação a uma construção gramatical. O que a dissertação emprega da teoria é a concepção do significado como enciclopédico, perspectivista, flexível e baseado no uso. O que emprega do modelo é a concepção de polissemia como categorização radial de significados motivados por padrões metafóricos e metonímicos. Assim, a palavra “coxinha” é a construção gramatical que esta dissertação toma por objeto, sem adentrar nas construções gramaticais de que faz parte, ou seja, nos dedicamos aqui (i) à descrição dos significados que a construção exibe e (ii) à explicação de sua polissemia por meio de dois processos cognitivos: a metáfora e a metonímia. A busca desses objetivos revelou a insuficiência dos processos cognitivos para explicar o juízo de valor em dois significados novos, presentes no português paulista: o correspondente ao policial e o correspondente a um perfil de eleitor. Para explicá-los, recorremos ao conceito de subjetivização, desenvolvido pela Linguística Funcional e absorvido pela Linguística Cognitiva, e concluímos que essa manifestação do ponto de vista constitui a polissemia sistemática dos substantivos no diminutivo e as nomeações que consideramos metonímicas. A formação dos significados é apresentada de forma diacrônica: (i) o primeiro significado da palavra “coxinha”, considerado como rotinizado no português brasileiro, é o nome de um salgado, e tal nomeação é atribuída à metáfora; (ii) o segundo significado, considerado como novo e de origem paulista, é uma alcunha para o funcionário público, em geral, e o policial militar, em particular, do Estado de São Paulo, e tal nomeação é atribuída à metonímia associada à subjetivização; e (iii) o terceiro significado, também considerado como novo e de origem paulista, remete à posição político-partidária de direita segundo o senso comum e é igualmente atribuído à metonímia e à subjetivização. Na abordagem aqui desenvolvida, a metáfora e a metonímia se mantêm como processos cognitivos responsáveis pela conceptualização, fenômeno central na Linguística Cognitiva, que o define como dinâmico e imagístico, enquanto a subjetivização se situa na esfera do ponto de vista. Sendo o significado definido como perspectivista e enciclopédico, se faz necessária a distinção entre conceptualização, com base em processos cognitivos, e subjetivização, como manifestação do ponto de vista.Em busca de dados da língua em uso, escolhemos como fonte o jornal O Estado de São Paulo. Embora o trabalho não se incline ao estudo da frequência de uso, a palavra foi encontrada em diversos editoriais do periódico, o que levou à divisão das ocorrências da palavra “coxinha” em períodos, que, na formação do corpus, foram divididos em três: (i) de 1894 a 1999, para a análise de “coxinha” como nome de salgado; (ii) de 2000 a 2012, para a análise de “coxinha” como alcunha do policial; e (iii) de 2013 a 2018, para a análise de “coxinha” como um perfil de eleitor. A divisão não implica que o significado relativo ao salgado não ocorra além do primeiro período, tampouco que o significado relativo ao policial não ocorra além do segundo. A hipótese de trabalho é que a perspectivização, espécie da qual a subjetivização é um tipo, tem papel preponderante no desenvolvimento dos significados mais recentes, dado que a subjetivização atua tanto na polissemia sistemática relativa ao processo de formação da palavra “coxinha” quanto associada à metonímia. Assim, o trabalho acrescenta ao reconhecimento do papel da metáfora e da metonímia um caso em que, sem a perspectivização, os processos cognitivos não bastam para explicar o juízo de valor. Com isso, a dissertação articula o caráter situado e o caráter distribuído da cognição, conforme defendido pela Linguística Cognitiva e pela Sociolinguística Cognitiva.