Entrecruzamentos do filosófico com o literário: Devir pelas veredas do Grande Sertão

Data
2019-10-02
Tipo
Dissertação de mestrado
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Resumo
This dissertation aims to establish intersections of the literature of Grande Sertão: Veredas, novel by Brazilian writer João Guimarães Rosa, with the conceptual creation of Gilles Deleuze, sometimes in the company of Felix Guattari. Initially, it is about the idea of capturing forces of difference and of the sertão, meaning “the backcountry”, in the expression of their thoughts, and how the two authors, escaping the tradition of representation, of mimesis and of shackles imposed by the primacy of identity, made their writings affirmative potencies of life. We investigate how Deleuze's philosophical writing, in its criticism of the dogmatic image of thought, approaches Rosa's literary writing for the benefit of the metamorphoses that fit us. Therefore, aligned with Deleuze's thought, we seek to investigate how from the Grande Sertão, that is, the possibility of thinking about the majority, the representation or the identity of such a space, the veredas escape, the paths, the escape lines, the minority-becomings, and how such deviations permit the encounter with the dissimilarity, with what is unspeakable, inaudible, which shakes everything that imposes itself as a dominant form of expression. We are going to see how such escape lines cross the language of Grande Sertão: Veredas, deterritorializing it, producing a link of the individual in the political-immediate, intersecting author and sertão in a writing exercise whose almost-musical syntax takes the language to a limit. Finally, we analyze how Riobaldo's narrative engenders rhizomatic interlocutions: symbiosis experiences of the reader with a sertão unrelated to the linearity of chronological time, and how Diadorim draws Riobaldo irresistibly into an experience of becoming with the difference, and how he finds a new life with the jagunçagem, meaning “a group of poor nomad warriors”, the war machine, with his animal-becomings, whose revolutionary potency, which resists the attempts of appropriation by the sedentary state, deterritorializes, transforms and revitalizes our thinking and our feeling.
A dissertação busca estabelecer entrecruzamentos da literatura de Grande Sertão: Veredas, do escritor brasileiro João Guimarães Rosa, com a criação conceitual de Gilles Deleuze, por vezes em companhia de Félix Guattari. Inicialmente trata-se da ideia de captura de forças da diferença e do sertão na expressão de seus pensamentos, e de como os dois autores, ao escaparem da tradição da representação, da mimese e dos grilhões impostos pelo primado da identidade, fizeram de suas escritas potências afirmativas da vida. Investigamos como a escrita filosófica de Deleuze, em sua crítica à imagem dogmática do pensamento, se aproxima da escrita literária de Rosa em benefício das metamorfoses que nos cabem. Destarte, em consonância com o pensamento de Deleuze, buscase investigar como do Grande Sertão, isto é, da possibilidade de se pensar o majoritário, a representação ou a identidade de um tal espaço, escapam as veredas, as linhas de fuga, os devires minoritários, e como tais desvios permitem o encontro com a dessemelhança, com o que é indizível, inaudível, que abala tudo que se impõe como forma de expressão dominante. Veremos como tais linhas de fuga atravessam a linguagem de Grande Sertão: Veredas, desterritorializando-a, produzindo uma ligação do individual no imediato-político, entrecruzando autor e sertão num exercício de escrita cuja sintaxe quase musical leva a língua a um limite. Finalmente, analisa-se como a narrativa de Riobaldo engendra interlocuções rizomáticas: experiências de simbiose do leitor com um sertão alheio à linearidade do tempo cronológico, e de que modo Diadorim atrai Riobaldo irresistivelmente para uma experiência de devir com a diferença, e como este encontra uma nova vida junto à jagunçagem: nômade, guerreira, com seus devires-animais, cuja potência revolucionária, que resiste às tentativas de apropriação pelo aparelho de Estado sedentário, desterritorializa, transforma e revitaliza nosso pensar e nosso sentir.
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