Etnografias de infâncias calungas: um estudo sobre o cotidiano de crianças de um bairro periférico em São Vicente/SP

Data
2019-08-06
Tipo
Dissertação de mestrado
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Resumo
Understanding childhood as a social construction in a time-space and children as subjects of rights that actively participate in this social construction, that is, they produce cultures. In this way we followed up the daily life of 4 children "calunga" (term with African root naming who is born in São Vicente coast of São Paulo) living in a outskirts of the city of São Vicente-SP and attending the "Camará" (a non-governmental organization). Our objective was to increase knowledge about their lives so that this study can subsidize public social policies, in relation to the construction of future actions and projects in line with the reality, language and wishes of this public. For this, a qualitative study was carried out with theoretical and methodological basis on ethnography. The children followed up two girls and two boys, aged between 9 and 12 years. The children acted as coauthors of the present research, that is, they expressed the meanings of their lives and the researcher was the mediator of the organization of these expressions. These same children allowed the access and the sociability in their houses, the circulation in the neighborhood in playful adventures, being in institutional spaces of the NGO, in more serious conversations about dating, violence, culture and others subjects. All these experiences were recorded in field diaries and were organized into categories of analysis, namely: importance of the street to their lives; playful ways of children occupying the neighborhood and the city; its relations with the traffic and the police; sexuality and gender differences; the relationship of children with the NGO involved; and, finally, art, culture and funk dances. The main results were in relation to the inventive and playful ways of moving around the neighborhood they called "missions". In these adventures, they claimed a less "adult-centric" city, transgressing and inventing their own rules of use or practice of spaces. From their collective organization and imagination, which was not neutral to stereotypes and capitalistic signs, they produced new contours and functionalities to the spaces, opening the possibility of resistance to situations that is invisible to the State, such as the lack of spaces for children. The technical product of this research was a children's book that tells a "mission" of 4 black children in a peripheral neighborhood, being accessible material for children, adults, educators and other interested parties.
Compreendendo a(s) infância(s) como uma construção social em um tempo-espaço e as crianças como sujeito de direitos que participam ativamente dessa construção social, ou seja, produzem culturas, acompanhamos o cotidiano de 4 crianças “calunga” (termo com raiz africana que nomeia quem nasce em São Vicente/SP) moradoras de um bairro periférico da cidade de São Vicente-SP e frequentadoras do “Camará”(uma Organização Não Governamental). Nosso objetivo foi de ampliar conhecimentos sobre as vidas dessas crianças de modo que esse estudo possa subsidiar às políticas públicas sociais, no tocante a construção de ações e projetos futuros em consonância com a realidade, linguagem e desejos desse público. Para isso realizou-se um estudo qualitativo com base teórica e metodológica na etnografia. As crianças acompanhadas foram duas meninas e dois meninos, de idade entre 9 e 12 anos. As crianças atuaram como coautores da presente pesquisa, ou seja, elas mesmas expressaram os sentidos de suas vidas sendo o pesquisador mediador da organização dessas expressões. Essas mesmas crianças permitiram o acesso e o convívio em suas casas, na circulação pelo bairro em aventuras brincantes, no estar em espaços institucionais da ONG, em conversas mais sérias sobre namoro, violência, cultura, etc. Todas essas vivências foram registradas em diário de campo e foram organizadas em categorias de análise, a saber: importância da rua para suas vidas; modos brincantes das crianças ocuparem o bairro e a cidade; suas relações com o tráfico e a polícia; sexualidade e diferenças entre os gêneros; a relação das crianças com a ONG que participavam; e, por fim, a arte, cultura e os bailes funk. Os principais resultados foram em relação aos modos inventivos e brincantes de circularem pelo bairro em que elas chamavam de “missões”. Nessas aventuras, elas reivindicavam uma cidade menos “adultocêntrica”, transgredindo e inventando suas próprias regras de uso ou prática dos espaços. A partir de sua organização coletiva e imaginação, que não era neutra a estereótipos e signos capitalísticos, produziam novos contornos e funcionalidades aos espaços, abrindo a possibilidade de resistência a situações de negligência do Estado, como a falta de espaços próprios para as crianças. O produto técnico dessa pesquisa foi um livro infantil em que conta uma “missão” de 4 crianças negras em um bairro periférico, sendo material acessível para crianças, adultos, educadores e demais interessados.
Descrição
Citação
Pré-visualização PDF(s)