Análise Ambiental Integrada em contextos de pandemia

Data
2020
Tipo
Livro
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Resumo
As transformações sociais causadas pela industrialização e aceleradas pelos avanços científicos e tecnológicos trouxeram consequências socioambientais de grande impacto e de difícil resolução pela complexidade que comportam, pressionando para o fim de abordagens disciplinares fragmentadas. No entanto, para que tal mudança alcançasse efetividade e contribuísse de fato para a resolução de problemas socioambientais, foi imprescindível que uma transformação começasse a acontecer no ensino e pesquisa na área ambiental, possibilitando a adoção de propostas metodológicas interdisciplinares e transdisciplinares. E é neste contexto que a disciplina Metodologia de Pesquisa Interdisciplinar (MPI), do programa de Pós-Graduação Análise Ambiental Integrada, se insere, tendo por objetivo conduzir com os pós-graduandos uma reflexão a respeito das diferentes ferramentas metodológicas utilizadas em pesquisas de caráter quantitativo e qualitativo e que permitem, mediante abordagens interdisciplinares, diagnosticar e propor soluções para problemas socioambientais. Dentro dessa perspectiva, a proposta aqui apresentada fez parte da edição 2020 da referida disciplina e teve como marco temporal a pandemia de COVID-19. Duas semanas após o seu início, as aulas presenciais na Universidade Federal de São Paulo foram interrompidas, iniciando um período de insegurança e pouca clareza, por se tratar de uma pandemia causada por um vírus pouco conhecido até então. Desde 26 de fevereiro de 2020, quando o primeiro paciente identificado oficialmente na América Latina foi confirmado no Brasil, e de 7 de março de 2020, quando o primeiro óbito foi registrado na Argentina em nível regional, a questão de como lidar com a pandemia tornou-se cada vez mais o centro das atenções dos governos e da população, tanto das elites econômicas quanto dos movimentos populares. Esse quadro impactou todo o sistema de Educação no Brasil e no mundo, em todos os níveis de ensino, e acabou por paralisar temporariamente a referida disciplina. É fácil observar que a pandemia acrescenta um nível de dificuldade ao cenário já complexo que envolve as questões socioambientais que enfrentamos atualmente. Como apontado por diferentes analistas1, a pandemia não pode ser considerada a causa da crise econômica vivenciada em 2020, mas, de qualquer forma, seu gatilho. A eclosão desta crise expressa uma série de processos e contradições que continuam sem solução desde a crise econômica mundial anterior, que assolou muitos países nos anos de 2008-2009, e que caracterizam a dinâmica do capitalismo neoliberal. No caso específico da América Latina, o cenário regional atual e futuro de recessão e seus efeitos previsíveis de maior deterioração social e pobreza, aumenta a preocupação sobre as consequências que o mesmo terá sobre o modelo de governança neoliberal, os conflitos sociais e a ação dos setores populares, em muitos casos através de seus históricos movimentos. Por outro lado, as crescentes exigências das políticas públicas impostas pela expansão da pandemia, a fim de salvaguardar a saúde da população, também têm efeitos nas políticas e modelos econômicos. A crise tem mostrado que é necessário garantir a assistência do sistema público de saúde e, as características epidemiológicas da COVID-19, por sua vez, impõem restrições à vida social e econômica, expressas em uma política de isolamento social recomendada por autoridades em saúde, como a OMS. As respostas dos governos à pandemia, entretanto, seguiram, de forma geral, duas abordagens distintas, que geraram tensão na sociedade: se, por um lado, houve aqueles que priorizaram a saúde pública, adotando as medidas restritivas de isolamento social recomendadas para conter o número de casos e óbitos, ainda que com consequências para a economia, houve os que se preocuparam prioritariamente com os impactos econômicos da paralisação gerada por esse isolamento e assumiram o ônus das perdas humanas decorrentes do crescimento da COVID-19 na população ao adotarem restrições mais brandas às atividades econômicas e ao distanciamento social. Ainda assim, a crescente intervenção do Estado implantada em resposta à pandemia também foi expressa em outra tensão entre as pessoas que a entenderam como autoritária e repressiva no controle das populações e as outras que a entenderam como um fortalecimento do Estado social e do sistema público de saúde. Nesse choque de forças, e em meio ao cenário de vulnerabilidade social, económica e ambiental evidenciado pela pandemia, surgem questões importantes sobre como essa nova situação que se impõe interfere nas decisões para o estabelecimento de políticas e comportamentos que possam nos conduzir a um desenvolvimento mais socioambientalmente responsável, necessário e urgente frente ao panorama de crise ambiental e climática que estamos vivenciando. No calor desses acontecimentos e frente ao cenário de incerteza quanto à retomada das atividades acadêmico-científicas em 2020, o PPGAAI propõe a retomada da disciplina de MPI de forma remota, um desafio aceito pelos professores responsáveis pela edição 2020 da disciplina e, acredita-se, cumprido satisfatoriamente, a despeito das dificuldades encontradas. No retorno às aulas, agora de forma virtual, vislumbrou-se uma oportunidade de se adotar a pandemia como tema norteador das reflexões sobre as metodologias de pesquisa interdisciplinares, sugestão prontamente aceita pelos pós-graduandos, que também viram uma oportunidade de refletir como essas metodologias poderiam ajudar a entender os diferentes cenários apontados pela grave situação que que se instalou. Nascia então, a ideia desta obra, colocada em prática, de modo coletivo, por todos os participantes, professores e alunos. A disciplina MPI tem metodologia de ensino inspirada no método de aprendizado baseado em problemas (PBL), no qual, a partir de um problema (ou, no caso, o tema provocador da pandemia de COVID-19), a construção de conhecimento e o desenvolvimento do pensamento crítico são estimulados. A disciplina foi estruturada em uma sequência de 11 (onze) encontros, intercalando aulas ministradas pelos professores, rodas de conversa e debates virtuais qualificados pela leitura de artigos selecionados, além de sessões de tutoria. Para essas sessões, os alunos foram divididos em grupos de trabalho mediados por um ou dois docentes da disciplina, com o objetivo de desenvolver capítulos que abordassem o estudo de temas relevantes da área ambiental, sob um contexto de pandemia, a partir de uma abordagem de metodologia de pesquisa interdisciplinar, que possa ser utilizada para a compreensão da realidade e proposição de caminhos. Os temas foram definidos a partir de uma roda de conversa virtual, utilizando a plataforma Google Meets, na qual os alunos de MPI foram estimulados, a partir do debate, a indicar assuntos que fossem do seu interesse. Os professores então organizaram os temas trazidos pelo debate em grandes eixos, e os alunos compuseram os grupos de trabalho a partir do interesse declarado em cada eixo, com foco na elaboração dos capítulos que compõem este livro. O Capítulo I, escrito pelos professores responsáveis pela disciplina, revisa os conceitos de metodologia de pesquisa associados a cenários complexos, com destaque para os aspectos envolvidos na pesquisa interdisciplinar, apresenta uma retrospectiva histórica e parte da reflexão a respeito das inúmeras visões que atribuem sentido ao termo sustentabilidade para contextualizar os diferentes temas que serão abordados nos capítulos seguintes e brevemente apresentados a seguir. O Capítulo II discute como o atual fenômeno da globalização afeta o ambiente e a vida das pessoas, tornando-se de um dos mais significativos agentes causadores de impactos negativos, sendo um dos responsáveis pela propagação das pandemias. responsável, dentre outras consequências, pelo surgimento das grandes pandemias. São apresentados conceitos e autores que debatem as principais estratégias metodológicas para a realização de diagnósticos precisos do cenário atual, de modo a que se possa fazer proposições para a construção de novos futuros e monitorar sua implementação. O Capítulo III introduz a questão da percepção ambiental, das representações sociais e da Educação Ambiental de forma a conduzir uma reflexão de como pesquisas nestas áreas contribuem para refletirmos e repensarmos a sociedade, nossa percepção e representação de mundo e meio ambiente, bem como quais metodologias são comumente utilizadas nestas áreas, com foco principal na análise fílmica. O Capítulo IV discute as mudanças climáticas e seus impactos, relacionando-os com o cenário de pandemia e a um contexto de vulnerabilidade socioambiental. Considerando que os impactos das mudanças climáticas não afetam igualmente todos os membros da sociedade, o capítulo analisa como os diferentes graus de vulnerabilidade socioambiental se tornam fatores determinantes na fatalidade da COVID-19 no Brasil, trazendo algumas metodologias para estudos interdisciplinares de diagnóstico, coleta de dados e construção do índice de vulnerabilidade à transmissão de doenças. O Capítulo V versa sobre a problemática dos Resíduos de Serviço de Saúde (RSS) e suas questões socioambientais frente à pandemia de COVID-19. São apresentadas as metodologias para diagnóstico, que incluem a criação de banco de dados e dashboards, as metodologias para tratamento e destinação dos RSS e o uso de questionários e entrevistas para Educação Ambiental em tempo de pandemia. Por fim, é importante destacar que este E-Book é o primeiro de uma série de livros sobre metodologias interdisciplinares, e que novos volumes desta série serão escritos em futuras edições da disciplina de MPI.
Descrição
Citação
NAKAYAMA, Cristina Rossi; FARIAS, Luciana Aparecida; MORAES, Maria de Lourdes Leite de; ZYSMAN, Neiman (Org.). Análise Ambiental Integrada em contextos de pandemia. São Paulo: CD.G Editora, 2020. 215 p.
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