Adesão ao tratamento, qualidade de vida e aspectos neuropsiquiátricos: uma investigação sobre a interface de fenômenos complexos na experiência de vida de pessoas vivendo com HIV/AIDS

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Data
2016-12-01
Autores
Portela, Natasha Cabrera Piñeiro [UNIFESP]
Orientadores
Zihlmann, Karina Franco [UNIFESP]
Tipo
Trabalho de conclusão de curso de graduação
Título da Revista
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Resumo
Introdução: No cenário do cuidado integral às pessoas vivendo com HIV/Aids (PVHA) várias questões complexas se articulam, como a adesão ao tratamento, a qualidade de vida e aspectos neuropsicológicos. Torna-se necessária uma investigação que possa abarcar interfaces desses fenômenos e permitir uma compreensão mais acurada das vivências objetiva e subjetiva desses sujeitos. Objetivos: Investigar adesão ao tratamento, qualidade de vida e aspectos neuropsiquiátricos (transtornos mentais) de pacientes vivendo com HIV/Aids (PVHA) de um ambulatório de especialidades em DSTs/Aids, bem como analisar a interface entre esses fenômenos do ponto de visa qualitativo e quantitativo. Métodos: Trata-se de um estudo transversal quali-quantitativo, cuja coleta de dados ocorreu entre janeiro de 2016 a julho de 2016 em um ambulatório de especialidade em DST/Aids da região da Baixada Santista. A avaliação foi realizada a partir de uma amostra de conveniência, com um protocolo de avaliação composto por uma entrevista semiestruturada com dados sócio demográficos e roteiro temático; instrumento de avaliação da adesão ao tratamento e ao serviço; instrumento de avaliação da qualidade de vida HIV/Aids – Targeted Quality of Life instrument (HAT-QoL) e o inventário Mini International Neuropsychiatric Interview (MINI). Resultados e Discussão: Participaram do estudo 84 pessoas PVHA. Observou-se que 57,1% da amostra eram do sexo masculino, com idade média de 47,5 anos (DP = 10,4) A cor branca foi autorreferida por 42,86% dos participantes. Quanto à escolaridade, 38,10% possuíam ensino médio completo. Em relação ao estado civil, 54,76% eram solteiros e 35,71% relataram não ter filhos. Quanto à situação laboral, verificou-se que 36,90% são empregados e 28,57% aposentados. A avaliação socioeconômica aferiu que grande parte pertence à classe C. Em relação ao tempo de diagnóstico, 57,14% dos entrevistados conheciam a sorologia anti-HIV há mais de dez anos e 52,38% eram pacientes da instituição a mais de 10 anos. Cerca de 75% da amostra relataram infecção oportunista passada, mas apenas 8,33% apresentavam infecção oportunista atual. Quanto ao resultado da carga viral, 64,28% dos pacientes possuíam carga viral indetectável (< 40 cópias RNA viral/m). Com relação ao uso da TARV, 52,40% faziam uso dos medicamentos a mais de 10 anos e o número de medicamentos variava de um a quatro medicamentos, sendo que 39,29% tomavam dois tipos medicamentos. Apenas 23,81% sabiam descrever adequadamente o esquema prescrito, relatando os nomes corretos dos medicamentos e as doses indicadas. Além disso, 63,10% pacientes adotam um sistema próprio para saber quais e quantos medicamentos deveriam ingerir e os respectivos horários, mesmo que não soubessem os nomes ou as dosagens conforme receitado. A verificação da prescrição dos esquemas TARV nos prontuários e o cruzamento com as informações colhidas pelo instrumento de avaliação da adesão pudemos observar que estavam em concordância em 85,71% dos autorrelatos. As medidas de adesão mostraram que 86,90% participantes relataram cumprirem o esquema prescrito com níveis de adesão maiores ou iguais a 95%. Com relação à qualidade de vida, os domínios que apresentam a média de escores mais baixos (abaixo de 75 pontos) foram “funções gerais”, “preocupações financeiras”, “preocupação com o sigilo”, “conscientização sobre o HIV” e “atividades sexuais”. Os domínios com as maiores pontuações foram “confiança no profissional” e “preocupações com medicação”. A média de todos os domínios da escala HAT-QoL foi de 66,1 (DP = 20,14). Em relação aos aspectos neuropsiquiátricos verificou-se que 59,52% preencheram os critérios para algum transtorno psiquiátrico. A média de transtornos psiquiátricos atuais por indivíduo foi de 2,4 diagnósticos por paciente. Os diagnósticos mais frequentes foram: episódio depressivo maior atual (52%); episódio depressivo maior recorrente (38%), agorafobia atual (32%) e transtorno de ansiedade generalizada (26%). Risco de suicídio atual foi aferido em 21 pacientes (42%), sendo que o alto risco foi verificado 16% da amostra. Não houve, neste estudo, associação significativa entre adesão ao tratamento e variáveis sociodemográficas. Foram associados significativamente à adesão a adoção de um “sistema próprio” (p=0,0020); presença de transtornos neuropsiquiátricos atuais ou passados (p= 0,0202); número de transtornos neuropsiquiátricos atuais (p=0,0119); episódio depressivo maior atual (p= 0.0486) e síndrome psicótica atual (p=0.0162). No modelo multivariado, somente duas variáveis conjuntamente (“sistema próprio” e “presença de transtornos neuropsiquiátricos atuais ou passados”) foram suficientes para explicar a adesão coerente nos pacientes, sendo que a regressão logística com as variáveis estatisticamente significantes no modelo bivariado mostrou que essas variáveis mantinham significância estatística e independentemente associada à adesão coerente, entretanto a variável “sistema próprio” mostrou-se mais relevante no modelo multivariado. Conclusão: Considerando-se a importância da variável “sistema próprio” para o seguimento do esquema medicamentoso, foi possível identificar a centralidade do protagonismo dos pacientes, em um movimento ativo e criativo que os leva a adesão à terapêutica. Sendo assim, a principal ação voltada para a adesão deve ser um olhar cuidadoso para a forma como os próprios pacientes constroem seu repertório de conhecimentos e estratégias, considerando e valorizando seus pontos de vista singulares.
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Citação
PORTELA, Natasha Cabrera Piñeiro. Adesão ao tratamento, qualidade de vida e aspectos neuropsiquiátricos: uma investigação sobre a interface de fenômenos complexos na experiência de vida de pessoas vivendo com HIV/AIDS. 2016. 71 f. Trabalho de conclusão de curso de graduação (Psicologia) - Instituto de Saúde e Sociedade, Universidade Federal de São Paulo, Santos, 2016.
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