Por uma poesia dos restos: o feio e o insignificante em Manoel de Barros

Data
2017
Tipo
Artigo
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Resumo
The words want to be myself. I bring roughness to their mouth. I scratch them off of their varnish and metaphysical flights (BARROS, 1996, p. 333-334 - editor's translation): here is how, according to Manoel de Barros, he carries out his poetical act. To make his poetry unvarnished, therefore, he must extricate it from everything that got it lost and perverted. This is, then, a chance for the Poet to disinvent and unwrite all the arbitrarily constituted meanings and all the signs instituted in authoritarian ways. Manoel de Barros builds his poetics that eschews elevation and defends the irrelevance and the unimportance of poetry upon the ruins of logos. Hence, there are poems of his which carry a repository of hackneyed forms, of fragments of daily language and images of the world that somehow intermingle with a certain aesthetic of ugliness: by means of displacement, deviation and transgression of all linguistic and rhetorical organization - a mise en abyme exercise revealed by titles such as "Compendio" ("Companion"), "Tratado" ("Treatise"), "Gramatica" ("Grammar"), "Livro" ("Book"), he inagurates unwordiness as a scene peopled by figures such as "cuspe" ("spit"), "bosta" ("shit"), "detritos semoventes" ("walking detrituses"), "urinois" ("urinals"), and many others. Therefore, In this article, we aim to study the ways of the poetic word that is made opaque and which grants that "whatever is good for the dustbin is good for poetry" (BARROS, 2010, p. 147).
“As palavras querem me ser. Dou-lhes à boca o áspero. Tiro-lhes o verniz e os voos metafísicos” (BARROS, 1996, p. 333-334): eis como, segundo seus próprios termos, Manoel de Barros exercita-se no ato poético. Desenvernizar a poesia é, pois, desembaraçá-la de tudo aquilo que a perdeu e a perverteu. É, então, oportunidade para o Poeta de desinventar e desescrever todos os sentidos arbitrariamente constituídos, todos os signos autoritariamente instituídos. Sobre a ruína do logos, Manoel de Barros edificará uma poética que recusa toda elevação e defende a insignificância e a desimportância da poesia. Descobrir-se-ão assim poemas que resgatam um repositório de formas desgastadas, de fragmentos da linguagem cotidiana e de imagens do mundo que, de um modo ou de outro, confundem-se com certa estética do feio: a golpes de deslocamentos, de desvios e de transgressões de toda organização linguística e retórica - em um exercício de mise en abyme para o qual apontam títulos que levam os termos “Compêndio”, “Tratado”, “Gramática”, “Livro”, inaugura-se uma inaudita cena da despalavra, por onde deambulam figuras como “cuspe”, “bosta”, “detritos semoventes”, “urinóis”, e outras tantas marginais. Neste artigo, procurar-se-á, pois, acompanhar os movimentos de uma palavra poética tornada opaca que entende, é Manoel de Barros quem o diz, que “o que é bom para o lixo é bom para poesia” (BARROS, 2010, p. 147).
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Citação
Olho D Agua. Sao Paulo, v. 9, n. 1, p. 122-132, 2017.
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