A afetividade, o sofrimento ético-político e o cuidado à saúde mental em território de alta vulnerabilidade social

Data
2014-02-21
Tipo
Dissertação de mestrado
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Resumo
The methodology of Matrix Support presents itself as an important device in the management of health work, thus reference teams and matrix support are essential to the implementation of Extended Practice, which aims to establish a radical commitment to the people with illness and their singularities. Specifically in the field of mental health, this methodology helps to strengthen the mental health services in primary care, and contributes to the realization of some important principles of the Brazilian Public Health System (SUS) and the Psychiatric Reform itself. In this context it is introduced the theme of this research, which sought to investigate and understand, in the domain of lightweight technologies , the quality of the emotional bonds that permeate and underlie the meetings of various people involved in the composition of the micropolitical field of the mental health care in a region of high social vulnerability . We start from a worldview based on the Socio-Historical Psychology, which implies, among other things, conceiving subjectivity from the materiality of social relations. The instruments used for the construction of the qualitative information were participant observation, the field diaries and semistructured interviews with the professionals of the teams . The field diaries were the main guides of the entire analytical process. For the analysis and interpretation of the information we used Thompson´s Depth Hermeneutics (1995), Qualitative Epistemology by González Rey (2011;2012) , and the dialectic of inclusion -exclusion by Sawaia (2010 ) . The information was organized from the three levels of analysis proposed by Depth Hermeneutics, being: the Socio-Historical Analysis, the Formal Analysis and Interpretation / Reinterpretation. We used affection as a category of analysis, in order to understand the specific dynamics that operate in the meeting of the people involved in the care practice, and thus revealing the tone of the dimension of care practiced by these teams, with regard to stigma, prejudice and power relations, among others. Thus we come to the final three perspectives of interpretation / reinterpretation: firstly we discussed the impact of internalization of market values in the health field ,in the second perspective we discussed the psychological distress from the ethical-political sufferings, being both perceived as pain mediated by social injustices, and finally the third perspective that treats affectivity as a power of action , in that it puts individuals as subjects in the process of social emancipation . Therefore respect, trust, complicity and solidarity stood out as structuring affects of the dimension of care in health, because they are responsible for achieving the "good meetings ", boosters of the acting force of the subjects. Accordingly, we conclude that centralizing affectivity in building production practices in health care, especially in mental health, is above all being able to acknowledge the pain and suffering of the other and investing in the process of politicization of these subjects, enhancing the ability of each of them as a transforming agent of themselves and their reality, from the knowledge of the mechanisms that oppress them, dehumanize them and get them sick.
A metodologia do Apoio Matricial se apresenta como importante dispositivo na estão do trabalho em saúde, desta forma equipes de referência e apoio matricial são fundamentais para o exercício da Clínica Ampliada, que busca estabelecer um compromisso radical com o sujeito em adoecimento e suas singularidades. Especificamente no campo da saúde mental esta metodologia corrobora para o fortalecimento das ações de saúde mental na atenção básica, além de contribuir para a efetivação de alguns princípios importantes do SUS e da própria Reforma Psiquiátrica. Nesse contexto se insere a temática desta pesquisa que buscou investigar e compreender no âmbito das tecnologias leves, a qualidade dos vínculos afetivos que permeiam e balizam os encontros entre os diversos sujeitos envolvidos na composição do campo micropolítico do cuidado à saúde mental em território de alta vulnerabilidade social. Partimos de uma visão de mundo ancorada na Psicologia Sócio-Histórica, que implica, dentre outras coisas em conceber a subjetividade a partir da materialidade das relações sociais. Os instrumentos utilizados para a construção da informação qualitativa foram à observação participante, os diários de campo e as entrevistas semiestruturadas com os profissionais das equipes. Os diários de campo foram os principais norteadores de todo o processo analítico. Para a análise e interpretação das informações utilizamos a Hermenêutica de Profundidade de Thompson (1995); a Epistemologia Qualitativa de González Rey (2011; 2012); e a dialética da exclusão-inclusão Sawaia (2010). As informações foram organizadas a partir dos três patamares de análise propostos pela Hermenêutica de Profundidade sendo eles: a Análise Sócio-Histórica, a Análise Formal e a Interpretação/Reinterpretação. Utilizamos a afetividade enquanto categoria de análise a fim de conhecer a dinâmica particular que opera no encontro entre os sujeitos envolvidos na produção do cuidado e, desta forma, desvelar a tônica da dimensão cuidadora praticada por estas equipes, no que diz respeito aos estigmas, preconceitos, relações de poder, dentre outros. Desta maneira chegamos a três perspectivas finais de interpretação/reinterpretação; na primeira discutimos o impacto da interiorização de valores de mercado no campo da saúde, na segunda perspectiva discutimos o sofrimento psíquico a partir do sofrimento ético-político, sendo ambos percebidos como dores mediadas pelas injustiças sociais e por último a terceira perspectiva que trata a afetividade enquanto potência de ação, na medida em que coloca os indivíduos como sujeitos no processo de emancipação social. Desta forma o respeito, a confiança, a cumplicidade e a solidariedade se destacaram como afetos estruturantes da dimensão cuidadora em saúde, por serem responsáveis pela concretização dos “bons encontros” potencializadores da força de agir dos sujeitos. Nesse sentido concluímos que centralizar a afetividade na construção de práticas de produção do cuidado à saúde, principalmente na saúde mental, é, sobretudo, ser capaz de acolher a dor e o sofrimento do outro e investir no processo de politização destes sujeitos, potencializando a capacidade de cada um enquanto agente transformador de si e de sua realidade, a partir do conhecimento dos mecanismos que os oprimem, os adoecem e os desumanizam.
Descrição
Citação
ROSA, Karina Rodrigues Matavelli. A afetividade, o sofrimento ético-político e o cuidado à saúde mental em território de alta vulnerabilidade social. 2014. 206 f. Dissertação (Mestrado Interdisciplinar em Ciências da Saúde) - Instituto de Saúde e Sociedade, Universidade Federal de São Paulo, Santos, 2014.