A construção do empoderamento de usuários e familiares nas práticas de um centro de atenção psicossocial

Data
2016-04-10
Tipo
Dissertação de mestrado
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Resumo
The Brazilian Psychiatric Reform is a process of reorientation and restructuring of mental health care in the country that involves the creation of new substitutive psychosocial services to the hospital-centered model and in the alignment of those to the conceptual perspective of deinstitutionalization, namely, the deconstruction of madness in the social field as alienation, disability and dangerousness locus where it?s social, scientific, political and culturally recognized. For this, these mental health treatment centers, particularly the psychosocial care centers, are intended to develop practices for the construction of the mentally ills citizenship, through the involvement of users and relatives and the promotion of their autonomy, value and social power. Therefore, it is important to understand, in the current national mental health care public policy, the process of empowerment of users and their families, understood as the increased autonomy and personal and collective power of individuals and groups subject to social oppression. Thus, we produced a participatory qualitative research, which was intended to investigate the construction of the empowerment of users and family members in the practices undertaken by the mental health treatment center from Itanhaém, São Paulo. For this, we conducted historical-documentary survey, participant observation, focus groups with users and families, and production of narratives by the groups in the institution. The research interlocutors participated in the interpretive process of the narratives and the collective experiences in last groups meetings, which enabled the critical and reflective deepening of participants. The information production analysis was built from the dialectical hermeneutics perspective and it was undertaken in four interpretive steps: personal empowerment; group empowerment; community empowerment; and care processes. We concluded that the empowerment process is different among subjects. For participant users, it is produced in the personal appreciation, the development of some self-help strategies, the production of initial networks of mutual help and support, and the creation of joint community actions with professionals. For family interlocutors, empowerment develops only in some practices of the service where they increase their self-esteem, resignify the family member sickening process and create their own care means. The practices of the service studied, also understood as care, provide empowerment of individuals through listening, reception care and group and community strategies that produce horizontal political relations and shared experience and knowledge between professionals and users/family. Contradictorily, the care developed also hinders the process of empowerment of individuals by focusing on drug treatment, hierarchy power relations between the actors, the heteromanagement of decisions and care and, consequently, political centrality in technical and medical professionals. We understand that the tension in care processes corresponds to the contradiction between the different models of care, the hegemonic psychiatric paradigm and the psychosocial care model, which act concurrently in the relationship between professionals and users/family. The empowerment process requires the involvement of all actors, in order to break the oppressive relations to the real increase in autonomy and power of these.
A Reforma Psiquiátrica Brasileira é um processo de reorientação e reestruturação da atenção à saúde mental no Brasil que implicou na criação de novos serviços psicossociais substitutivos ao modelo hospitalocêntrico e no alinhamento desses à perspectiva conceitual da desinstitucionalização, ou seja, de desconstrução da loucura no campo social como locus de alienação, incapacidade e periculosidade onde se encontra reconhecida sócio, científico, político e culturalmente. Para tanto, tais equipamentos de saúde mental, em especial os centros de atenção psicossociais ? CAPS ?, visam empreender práticas voltadas à construção da cidadania das pessoas em sofrimento psíquico por meio da implicação de usuários e familiares e da promoção de sua autonomia, valor e poder social. Nesse sentido, na atual política pública de atenção à saúde mental nacional, é relevante compreender o processo de empoderamento de usuários e familiares, entendido como o aumento de autonomia e poder pessoal e coletivo de indivíduos e grupos submetidos à opressão social. Assim, produzimos uma pesquisa qualitativa participativa que objetivou investigar como se constrói o empoderamento de usuários e familiares nas práticas empreendidas pelo Centro de Atenção Psicossocial II do município de Itanhaém/SP. Para isso, realizamos levantamento históricodocumental, observação participante, grupos focais com usuários e familiares e produção de narrativas a partir dos grupos na instituição. Os interlocutores da pesquisa participaram do processo interpretativo das narrativas, podendo modificá-las livremente, bem como das experiências grupais nos últimos encontros dos grupos, o que possibilitou o aprofundamento crítico e reflexivo dos participantes. A análise da produção das informações foi construída através da perspectiva da hermenêutica dialética e foi empreendida em quatro etapas interpretativas: empoderamento pessoal; empoderamento grupal; empoderamento comunitário; e processos de cuidado. Concluímos que o processo de empoderamento é distinto entre os sujeitos. Para os usuários participantes, ele é produzido na valorização pessoal, no desenvolvimento de algumas estratégias de cuidado de si, na produção de redes iniciais de ajuda e suporte mútuos, na elaboração de ações comunitárias conjuntas com profissionais. Para as famílias interlocutoras, o empoderamento desenvolve-se somente em algumas práticas do serviço onde aumentam sua autoestima, ressignificam o processo do adoecimento do familiar e criam meios de cuidado próprio. As práticas do serviço estudado, também entendidas como cuidado, propiciam o empoderamento dos sujeitos através da escuta, do acolhimento, dos dispositivos grupais e comunitários que produzem horizontalidade das relações políticas e compartilhamento de experiências e de conhecimentos entre profissionais e usuários/familiares. Contraditoriamente, o cuidado desenvolvido também obstaculiza o processo de empoderamento dos sujeitos por meio do foco no tratamento medicamentoso, da hierarquização das relações de poder entre os atores, da heterogestão de decisões e cuidado e, consequente, centralidade política nos profissionais técnicos e médicos. Compreendemos que a tensão nos processos de cuidado correspondem a contradição existente entre os distintos modelos de atenção, o paradigma psiquiátrico hegemônico e o modelo de atenção psicossocial, que agem concomitantemente na relação entre profissionais e usuários/familiares. O desenvolvimento de empoderamento necessita do comprometimento de todos os atores sociais a fim de romper com as relações de opressão para o concreto aumento de sua autonomia e poder.
Descrição
Citação
PEDROSO, Carlos Eduardo. A construção do empoderamento de usuários e familiares nas práticas de um centro de atenção psicossocial. 2016. 160 f. Dissertação (Mestrado Profissional) - Instituto de Saúde e Sociedade, Escola Paulista de Enfermagem, Universidade Federal de São Paulo, Santos, 2016.