O consumo de psicoativos entre mulheres brasileiras e associações com comportamentos de riscos: dados do I e II Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD)
Data
2018-12-20
Tipo
Tese de doutorado
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Resumo
Introduction: Several studies point out that consumption of licit and illicit drugs is on
the rise among Brazilian women, specially alcohol and amphetamine-type stimulants
(ATS). This population is particularly more vulnerable, not only to the physiological
effects of psychoactive substances consumption, but also to the exposure of many
consumption-related risks.
Objectives: This study tackles these issues, exploring the use of substances by this
population and the factors associated with use via three studies described in the
following scientific publications.
Study 1: The study described the consumption of ATS in a national sample of the
Brazilian population and investigated possible differences among gender, and
associations of levels of consumption with sociodemographic factors, and with the use
of other psychoactive substances. Study 2: It described and compared the alcohol
consumption prevalence rates in a nationally representative sample of Brazilian
women between 2006 and 2012, and analysed associations with unprotected sex,
early pregnancy and abortion. Study 3: It presented the prevalence rates of rape in
Brazil and investigated its associations with alcohol consumption.
Method: All three studies were carried out through data analysis of two waves of the
Brazilian National Alcohol and Drugs Survey (BNADS), performed in 2006 and in 2012,
with nationally representative home samples of the Brazilian population, with 3,007
individuals in 2006, and 4,607 in 2012. The work investigated the consumption of licit
and illicit psychotropic substances, as well as the main risk factors related to physical
and mental health and risk behaviours. The three studies used different subsamples
of the original sample of 7,614 individuals. Study 1: Subsample of LENAD II with 3,828 individuals, aged between 15 and 64 years old. Study 2: Subsample of 4,256 women,
14 years old and older, with 1,719 respondents of 2006, and 2,537 of 2012. Study 3:
Subsample of LENAD II with 4,283 respondents, aged 14 years old and older, with
1,918 men and 2,365 women. Multivariate analyses using different weighted
regression models were chosen to calculate odds (odds ratios- OR), adjusted for the
associations in the three studies using Stata 13. Studies 1 and 2 presented structural
equation modelling (SEM), using PROCESS (version 2.16) for SPSS (version 21.0)
and MPlus (version 7.4), respectively.
Results: Study 1: The prevalence rates of lifetime and last year ATS use among the
general Brazilian population were 4.1% and 1.6%, respectively. Higher income
individuals and users of other psychoactive substances presented higher chances of
ATS use. Higher level of education was identified as a protecting factor, decreasing
the chances of ATS consumption. The conditional model showed that concomitant
cocaine use cancelled out that protective effect. Study 2: The prevalence rate of binge
drinking among women was 35.1% and 47.1% in 2006 and 2012, respectively, a
significant increase, especially among women aged 40 to 59 years old. There was no
significant difference in the period in terms of the prevalence of alcohol use disorder
among women in Brazil. Binge drinking (without alcohol use disorder) was found to
increase the odds of unprotected sex and abortion. The path analysis showed that
early pregnancy was a mediator of the relationship between alcohol consumption and
abortion. Study 3: The prevalence rate of rape among the Brazilian population older
than 14 years old was estimated as 2.6%, with 1.7% among men and 3.5% among
women. For both sexes, the highest prevalences were concentrated among those
aged between 26 and 59 years (3.3%), those with low educational levels (3.8%), and
those who were single, divorced or widowed (3.1%). Among individuals who were
diagnosed with alcohol use disorder, according to the DSM-5 (Diagnostic and
Statistical Manual of Mental Disorders), 6% reported having been raped, as did 3.3%
of those who reported binge drinking. Logistical and multivariate regression analyses
showed that, for both women and men, age (those between 26 and 59 years), marital
status (single), alcohol use disorder and binge drinking are factors associated with an
increased probability of being raped, whereas a higher educational level (more than 9
years of schooling) was shown to be capable of reducing the odds of being raped. Conclusions: The results provide a broad view on the consumption of different
substances among the Brazilian population, focusing on the exposure to the risk
behaviours related to the consumption of psychoactive substances. The work explores
how the consumption of substances has a negative impact on the psychosocial welfare
of individuals. The knowledge of the risks associated with the researched outcomes is
fundamental to the formulation of prevention strategies. The implementation of such
strategies applied to substance use and violence are of crucial importance, since they
can ease the problems related to this scenario, by promoting quality of life to the
population, and at the same time reducing the costs of the health care system.
Introdução: Diversos estudos apontam o aumento do consumo de substâncias psicoativas lícitas e ilícitas na população feminina, em especial o consumo de álcool e estimulantes do tipo anfetamina (ATS). Esta população é particularmente mais vulnerável, não só aos efeitos fisiológicos do consumo de psicoativos, mas também à exposição a diversos riscos relacionados ao uso. Objetivos: O presente estudo abordou este tema explorando o consumo dessas substâncias nesta população e os fatores associados ao uso através de três estudos descritos nas seguintes publicações científicas. Estudo 1: Descreveu o consumo de ATS em uma amostra representativa da população brasileira e investigou possíveis diferenças de sexo, associações do consumo com fatores sociodemográficos e uso de outras substâncias psicoativas. Estudo 2: Descreveu e comparou as prevalências do consumo de álcool em uma amostra nacionalmente representativa de mulheres brasileiras em 2006 e 2012 e analisou associações com sexo desprotegido, gestação precoce e abortamento inseguro. Estudo 3: Apresentou as prevalências de estupro no Brasil e avaliou associações com diferentes padrões de consumo de álcool. Método: Os estudos foram realizados por meio da análise dos dados advindos de duas ondas do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD), realizados em 2006 e 2012 com amostras domiciliares nacionalmente representativas da população brasileira, sendo 3007 indivíduos em 2006, e 4607 em 2012. O inquérito investigou o consumo de substâncias psicotrópicas lícitas e ilícitas, os principais fatores de risco relacionados a saúde física e mental e comportamentos de risco. Os 3 estudos utilizaram diferentes recortes da amostra original de 7.614 participantes. Estudo 1: Subamostra do LENAD II com 3.828 participantes com idade entre 15 e 64 anos. Estudo 2: Subamostra de 4256 mulheres com 14 anos ou mais, sendo 1.719 respondentes de 2006 e 2.537 de 2012. Estudo 3: Subamostra do LENAD II com 4283 respondentes com 14 anos ou mais, sendo 1918 homens e 2365 mulheres. Análises multivariadas utilizando diferentes modelos ponderados de regressão foram usadas para calcular as razões de chances (RC) ajustadas para as associações nos 3 estudos, utilizando o pacote estatístico Stata 13. Os estudos 1 e 2 apresentaram modelos de equações estruturais, utilizando o PROCESS (versão 2.16) do SPSS (versão 21) e o MPlus (versão 7,4), respectivamente. Resultados: Estudo 1: As prevalências do uso de ATS na vida e no último ano na população geral foram, respectivamente, 4,1% e 1,6%. Indivíduos com maior renda e usuários de outras substâncias psicoativas apresentam maiores chances de usar ATS. Maior nível educacional foi identificado como um fator protetor, diminuindo as chances de consumo. O modelo de equações estruturais mostrou que o uso concomitante da cocaína anula o fator protetor da educação. Estudo 2: A prevalência do consumo em binge entre mulheres foi de 35,1% e 47,1% em 2006 e 2012, respectivamente, sendo o aumento significativo entre as mulheres entre 40-59 anos de idade. Não houve diferença significativa nas prevalências do transtorno por uso de álcool. Beber em binge (mesmo sem transtorno por uso de álcool) aumentou a probabilidade de sexo desprotegido e abortamento inseguro. O modelo de equações estruturais mostrou que gestação precoce é um mediador da relação entre o consumo de álcool e o abortamento inseguro. Estudo 3: A prevalência de estupro na população brasileira com mais de 14 anos foi estimada em 2,6%, sendo 1,7% entre homens e 3,5 % entre mulheres. A prevalência foi maior na faixa etária que compreende respondentes entre 26 e 59 anos, chegando a 3,3%, com chances de ser vítima de estupro significativamente aumentadas em quase 4 vezes, tanto para homens quanto para mulheres. Entre os indivíduos com diagnóstico para transtorno por uso de álcool de acordo com o DSM- 5, 6% relataram ser vítimas de estupro, bem como 3,3% daqueles que relataram beber pesado episódico (binge). Análises de regressão logística indicaram que tanto para mulheres quanto para homens, a idade (aqueles entre 26 e 59 anos), o estado civil (solteiro), o diagnóstico de transtorno por uso de álcool e o beber pesado episódico são fatores associados ao aumento da probabilidade de vitimização por estupro, enquanto maior nível de educação (mais do que 9 anos de estudo) revelou-se um fator capaz de diminuir as chances desta ocorrência na população geral e entre mulheres. Conclusões: Os resultados fornecem uma visão abrangente sobre o consumo de estimulantes do tipo anfetamina na população geral e de álcool entre as mulheres brasileiras, enfatizando a relação do consumo com a exposição a comportamentos de risco. A implementação de estratégias de prevenção ao consumo de substâncias e seus desfechos negativos é de fundamental importância, uma vez que podem amenizar os problemas relacionados a este cenário, promovendo maior qualidade de vida para a população e diminuindo os gastos pessoais, sociais e de saúde nos serviços secundário e terciário.
Introdução: Diversos estudos apontam o aumento do consumo de substâncias psicoativas lícitas e ilícitas na população feminina, em especial o consumo de álcool e estimulantes do tipo anfetamina (ATS). Esta população é particularmente mais vulnerável, não só aos efeitos fisiológicos do consumo de psicoativos, mas também à exposição a diversos riscos relacionados ao uso. Objetivos: O presente estudo abordou este tema explorando o consumo dessas substâncias nesta população e os fatores associados ao uso através de três estudos descritos nas seguintes publicações científicas. Estudo 1: Descreveu o consumo de ATS em uma amostra representativa da população brasileira e investigou possíveis diferenças de sexo, associações do consumo com fatores sociodemográficos e uso de outras substâncias psicoativas. Estudo 2: Descreveu e comparou as prevalências do consumo de álcool em uma amostra nacionalmente representativa de mulheres brasileiras em 2006 e 2012 e analisou associações com sexo desprotegido, gestação precoce e abortamento inseguro. Estudo 3: Apresentou as prevalências de estupro no Brasil e avaliou associações com diferentes padrões de consumo de álcool. Método: Os estudos foram realizados por meio da análise dos dados advindos de duas ondas do Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (LENAD), realizados em 2006 e 2012 com amostras domiciliares nacionalmente representativas da população brasileira, sendo 3007 indivíduos em 2006, e 4607 em 2012. O inquérito investigou o consumo de substâncias psicotrópicas lícitas e ilícitas, os principais fatores de risco relacionados a saúde física e mental e comportamentos de risco. Os 3 estudos utilizaram diferentes recortes da amostra original de 7.614 participantes. Estudo 1: Subamostra do LENAD II com 3.828 participantes com idade entre 15 e 64 anos. Estudo 2: Subamostra de 4256 mulheres com 14 anos ou mais, sendo 1.719 respondentes de 2006 e 2.537 de 2012. Estudo 3: Subamostra do LENAD II com 4283 respondentes com 14 anos ou mais, sendo 1918 homens e 2365 mulheres. Análises multivariadas utilizando diferentes modelos ponderados de regressão foram usadas para calcular as razões de chances (RC) ajustadas para as associações nos 3 estudos, utilizando o pacote estatístico Stata 13. Os estudos 1 e 2 apresentaram modelos de equações estruturais, utilizando o PROCESS (versão 2.16) do SPSS (versão 21) e o MPlus (versão 7,4), respectivamente. Resultados: Estudo 1: As prevalências do uso de ATS na vida e no último ano na população geral foram, respectivamente, 4,1% e 1,6%. Indivíduos com maior renda e usuários de outras substâncias psicoativas apresentam maiores chances de usar ATS. Maior nível educacional foi identificado como um fator protetor, diminuindo as chances de consumo. O modelo de equações estruturais mostrou que o uso concomitante da cocaína anula o fator protetor da educação. Estudo 2: A prevalência do consumo em binge entre mulheres foi de 35,1% e 47,1% em 2006 e 2012, respectivamente, sendo o aumento significativo entre as mulheres entre 40-59 anos de idade. Não houve diferença significativa nas prevalências do transtorno por uso de álcool. Beber em binge (mesmo sem transtorno por uso de álcool) aumentou a probabilidade de sexo desprotegido e abortamento inseguro. O modelo de equações estruturais mostrou que gestação precoce é um mediador da relação entre o consumo de álcool e o abortamento inseguro. Estudo 3: A prevalência de estupro na população brasileira com mais de 14 anos foi estimada em 2,6%, sendo 1,7% entre homens e 3,5 % entre mulheres. A prevalência foi maior na faixa etária que compreende respondentes entre 26 e 59 anos, chegando a 3,3%, com chances de ser vítima de estupro significativamente aumentadas em quase 4 vezes, tanto para homens quanto para mulheres. Entre os indivíduos com diagnóstico para transtorno por uso de álcool de acordo com o DSM- 5, 6% relataram ser vítimas de estupro, bem como 3,3% daqueles que relataram beber pesado episódico (binge). Análises de regressão logística indicaram que tanto para mulheres quanto para homens, a idade (aqueles entre 26 e 59 anos), o estado civil (solteiro), o diagnóstico de transtorno por uso de álcool e o beber pesado episódico são fatores associados ao aumento da probabilidade de vitimização por estupro, enquanto maior nível de educação (mais do que 9 anos de estudo) revelou-se um fator capaz de diminuir as chances desta ocorrência na população geral e entre mulheres. Conclusões: Os resultados fornecem uma visão abrangente sobre o consumo de estimulantes do tipo anfetamina na população geral e de álcool entre as mulheres brasileiras, enfatizando a relação do consumo com a exposição a comportamentos de risco. A implementação de estratégias de prevenção ao consumo de substâncias e seus desfechos negativos é de fundamental importância, uma vez que podem amenizar os problemas relacionados a este cenário, promovendo maior qualidade de vida para a população e diminuindo os gastos pessoais, sociais e de saúde nos serviços secundário e terciário.