(im)Possibilidades discursivas das AIDS: uma abordagem psicanalítica da articulação entre sujeito, saber e verdade no processo saúde-adoecimento de homens gays que vivem com HIV

Carregando...
Imagem de Miniatura
Data
2023-12-08
Autores
Rocha, Francisco José de Araujo [UNIFESP]
Orientadores
Pereira, Pedro Paulo Gomes [UNIFESP]
Tipo
Dissertação de mestrado
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Resumo
A síndrome da imunodeficiência adquirida (HIV/AIDS) é uma epidemia globalizada contando já com mais de 75,7 milhões de pessoas infectadas e 32,7 milhões de óbitos devido a doenças relacionadas à aids desde a identificação dos primeiros casos em 1981. Há também uma epidemia paralela de significações, sendo construída por múltiplos significados, narrativas e discursos que se cruzam ou mesmo se sobrepõem. Os discursos biomédicos, religiosos e do ativismo social exerceram um papel crucial na construção dessas duas epidemias e parecem também interferir nos processos saúde-adoecimento das pessoas que vivem com HIV/AIDS. Através das narrativas de homens gays que vivem com HIV há três ou mais décadas, essa pesquisa buscou compreender as articulações entre sujeito, saber e verdade na relação daqueles homens com seus corpos e processo saúde-adoecimento. Para tanto foram realizado um mapeamento de significantes e uma análise discursiva tendo como referencial a teoria dos quatro discursos de Jacques Lacan. Através deste mapeamento discursivo, sob a perspectiva da psicanálise em interface com os campos da saúde coletiva e da antropologia, procurou-se verificar como esses discursos se relacionam com os processos saúde-adoecimento dos pacientes bem como quais os laços sociais e efeitos eles produzem. Como achado da pesquisa, ao se tomar o estigma como discurso do mestre, foi demonstrando como este produz posições de assujeitamento, identificações com o próprio vírus do HIV e como há uma montagem de uma realidade a partir de fantasias que interfere na própria construção do que seria ser uma pessoa que vive com HIV para cada um dos sujeitos. Um outro achado importante da pesquisa foi que que o corpo produzido por pelo saber biomédico é um corpo adoecido que deve ser submetido a regimes terapêuticos estritos e vigilância constante. Contudo esse corpo docilizado e colonizado pelo saber biomédico não coincidiu com o corpo constituído por pulsões e apreendido a partir das narrativas dos sujeitos em suas relações complexas com os processos saúde-adoecimento. Por fim, conclui-se que se faz urgente uma aposta na sustentação de uma escuta orientada pela psicanálise dentro dos aparelhos de saúde para que as pessoas que vivem com HIV possam narrar e testemunhar suas histórias e, então, produzirem posições discursivas que possibilitem subverter a lógica de assujeitamento do estigma.
The acquired immunodeficiency syndrome (HIV/AIDS) is a globalized epidemic, with more than 75.7 million people infected and 32.7 million deaths due to aids-related illnesses since the identification of the first cases in 1981. There is also a parallel epidemic of meanings, constructed by multiple significations, narratives, and discourses that intersect or even overlap. Biomedical, religious, and social activism discourses have played a crucial role in shaping these two epidemics and appear to interfere in the health-illness processes of people living with HIV/AIDS. Through the narratives of gay men living with HIV for three or more decades, this research aimed to understand the connections between the subject, knowledge, and truth in the relationship of these men with their bodies and the health-illness process. Therefore, a mapping of signifiers and a discursive analysis were carried out, using Jacques Lacan's theory of the four discourses as a reference. Through this discursive mapping, from the perspective of psychoanalysis in interface with the fields of public health and anthropology, the research sought to examine how these discourses relate to the health-illness processes of patients and what social bonds and effects they produce. As a research finding, by considering stigma as the discourse of the master, it was shown how it produces positions of subjectivation, identifications with the HIV virus itself, and how a reality is constructed from fantasies that interfere with the very construction of what it means to be a person living with HIV for each of the subjects. Another important finding of the research was that the body produced by biomedical knowledge is a diseased body that must be subjected to strict therapeutic regimens and constant surveillance. However, this docile and colonized body by biomedical knowledge did not coincide with the body constituted by drives and apprehended from the narratives of the subjects in their complex relationships with health-illness processes. Finally, it is concluded that there is an urgent need for an orientation towards psychoanalytic listening within healthcare systems so that people living with HIV can narrate and testify to their stories, thus producing discursive positions that allow the subversion of the logic of stigmatization.
El síndrome de inmunodeficiencia adquirida (VIH/SIDA) es una epidemia globalizada, con más de 75,7 millones de personas infectadas y 32,7 millones de muertes debido a enfermedades relacionadas con el SIDA desde la identificación de los primeros casos en 1981. También existe una epidemia paralela de significados, construida por múltiples significaciones, narrativas y discursos que se entrecruzan o se superponen. Los discursos biomédicos, religiosos y de activismo social desempeñaron un papel crucial en la construcción de estas dos epidemias y parecen interferir en los procesos de salud-enfermedad de las personas que viven con VIH/SIDA. A través de las narrativas de hombres gays que viven con VIH desde hace tres o más décadas, esta investigación buscó comprender las conexiones entre el sujeto, el conocimiento y la verdad en la relación de estos hombres con sus cuerpos y el proceso de salud-enfermedad. Para ello, se realizó un mapeo de significantes y un análisis discursivo utilizando la teoría de los cuatro discursos de Jacques Lacan como referencia. A través de este mapeo discursivo, desde la perspectiva del psicoanálisis en interfaz con los campos de la salud pública y la antropología, se buscó examinar cómo estos discursos se relacionan con los procesos de salud-enfermedad de los pacientes, así como qué lazos sociales y efectos producen. Como hallazgo de la investigación, al considerar el estigma como discurso del amo, se demostró cómo este produce posiciones de subjetivación, identificaciones con el propio virus del VIH y cómo se construye una realidad a partir de fantasías que interfiere en la propia construcción de lo que significa ser una persona que vive con VIH para cada uno de los sujetos. Otro hallazgo importante de la investigación fue que el cuerpo producido por el conocimiento biomédico es un cuerpo enfermo que debe someterse a regímenes terapéuticos estrictos y vigilancia constante. Sin embargo, este cuerpo docilizado y colonizado por el conocimiento biomédico no coincidió con el cuerpo constituido por pulsiones y aprehendido a partir de las narrativas de los sujetos en sus complejas relaciones con los procesos de salud-enfermedad. En conclusión, es urgente apostar por una escucha orientada por el psicoanálisis dentro de los sistemas de salud para que las personas que viven con VIH puedan narrar y testimoniar sus historias y, de esta manera, producir posiciones discursivas que permitan subvertir la lógica de la subjetivación del estigma.
Descrição
Citação
ROCHA, Francisco José de Araújo. (im)Possibilidades discursivas da AIDS: uma abordagem psicanalítica da articulação entre sujeito, saber e verdade no processo saúde adoecimento de homens gays que vivem com HIV. 2023. 137 f. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) - Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). São Paulo, 2023.