A potência do incômodo como possibilidade: a construção da subjetividade negra para mulheres negras de pele clara

Data
2024-02-22
Tipo
Dissertação de mestrado
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Resumo
Buscando responder quais aspectos subjetivos e afetivos perpassam a vida de mulheres negras de pele clara e também descrever o que surge no campo da psique que pode impactar as saúdes dessa população, a presente dissertação realizou uma etnografia em um grupo de mulheres que se autodeclaram negras de pele clara. A dissertação investiga quais as implicações de ser negra da pele clara: o reconhecimento de sua identidade (descobrir-se negra); Verifica a possibilidade de existir formas de vivenciar o racismo particularmente experienciadas pelas interlocutoras posicionadas em suas identidades negras de pele clara; Descreve as relações que as interlocutoras estabelecem com sua ancestralidade negra e não-negra; Reflete sobre a relevância do fato de mulheres negras da pele clara posicionarem sua identidade como negra para a construção de suas identidades raciais bem como para uma sociedade racialmente igualitária. A dissertação apresenta como resultado principal a noção de furto subjetivo descrito pelas interlocutoras, pois mulheres negras de pele clara não se sabiam negras durante parte de suas vidas por conta da introjeção do mito do negro, que atrela símbolos negativos a negritude e faz com que a sujeita negra queira se embranquecer e negar sua negritude, processo esse que não gera nenhum benefício, ao contrário, gera uma alienação de si, paralisia diante de situações de violência racial, dificuldade de afirmar a negritude e sensação de ser impostora e todos estes prejuízos podem impactar suas saúdes física e psíquica. Além disso, a dissertação mostrou aspectos que se destacaram no campo: a sexualização desses corpos como consequência do racismo e a família inter-racial como um espaço que reproduz a alienação de si. Por fim, aponta para a consciência racial e o aquilombamento como caminhos para o desvio de violências raciais, o fortalecimento de subjetividades e consequentemente de suas saúdes e para a inclusão na organização política.
Seeking to address the subjective and affective aspects that permeate the lives of light-skinned black women and to describe the psychological implications that may affect the well-being of this population, this master's dissertation conducted an ethnography within a group of women who self-identify as light-skinned black females. The dissertation investigates the implications of being a light-skinned black person, including the recognition of their identity (first seeing themselves as black people); It also verifies the possibility of the existence of unique forms of racism experienced by these individuals positioned in their light-skin black identity. It describes the relationships these individuals have with their black and non-black ancestry and reflects on the importance of light-skinned black women identifying themselves as black people in the context of racial identity construction and a racially equitable society. The primary finding of the dissertation is the concept of subjective theft as described by the participants, where light-skinned black women did not recognize themselves as black individuals for a significant part of their lives due to the internalization of the myth of blackness, which attaches negative symbols to black identity and leads black people to desire to whiten themselves and deny their black identity. There are no benefits resulting from this process; On the contrary, it leads to self-alienation, paralysis in the face of racial violence, difficulty in affirming their blackness, and a sense of impostor syndrome. All these consequences can impact their physical and psychological well-being. Additionally, the dissertation highlighted certain aspects in the field, such as the sexualization of these bodies as a consequence of racism and interracial families as spaces that might perpetuate self-alienation. Finally, the dissertation points towards racial consciousness and community-building as paths to mitigate racial violence, strengthen individual subjectivities, improve their overall well-being, as well as promote participation in political organizations.
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Citação
FERREIRA, Carolina Cristal. A potência do incômodo como possibilidade: a construção da subjetividade negra para mulheres negras de pele clara. 2024. 161 f. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) - Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 2024.
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