Humanos ou cobaias? Trajetórias de cuidado e o desafio do direito à saúde de pessoas travestis e transexuais.
Data
2019-09-09
Tipo
Dissertação de mestrado
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Resumo
This research aimed to understand the main difficulties and advances to ensure access to health in the context of Public Health Policy, from the perspective of transvestites and transsexuals that use the Health Clinic for transvestites and transsexuals of the Guilherme Álvaro Hospital, in the city of Santos - SP. We mapped the demand for the transsexualization process, as well as the socioeconomic and cultural conditions of this population. The issue of prejudgment, discrimination and violence suffered by transsexuals in their daily lives was addressed, especially with regard to assistance and shelter in the health service. These are people who express themselves in the world according to the gender which they identify themselves, regardless of the biological sex they were born with, making them targets of violence of all kinds and vexatious situations, because they are in disagreement with the cisheteronormative standards that govern our society. Initially, a systematic literature review was conducted as a methodological effort in order to identify the themes that have been explored in the tradition of health itself. We determined for a qualitative research, under the reference of critical and narrative hermeneutics, through the reconstruction of care trajectories. In this study, we detected that from the point of view of transsexuals’ people, the existence of the specific outpatient clinic sounds like an important social gain, coming from the movements between the interested population and the Sexual Diversity Commission of Santos. For being exclusively linked to SUS, even not have their own funds to pay for doctor’s visits, exams and treatments, it is possible to remain in the service, making it an important protagonist in terms of guaranteeing health as a right for all. We identified as the main advances in access to health, the assistance provided by professionals who work directly in the specific outpatient clinic, providing the acquisition of reports for the rectification of the first name and sex judicial process, acquisition of hormones and performance of surgeries, except for sexual reassignment. We attested that transsexuals’ people see transphobia, prejudgment, discrimination, violence and the nonuse of the social name as important factors that prevent them from accessing health, or even associating to it. They are treated with indifference and are often not even listened. They feel as if they were guinea pigs, due to lack of technical ignorance and practical knowledge of the professionals when they are approach with this theme. Interviewees emphasize that, the biggest barrier is the (de)user embracement and (de)assistance. We verified that the guarantee of the right to health depends on the relationships between health professionals and transsexuals’ people, through the recognition of this population and its singularities, as well as the implementation and strengthening of the LGBT public health policy. We have the challenge to ensure the rights to health of this population, injecting ways to raise awareness and qualify professionals, overcoming the barriers mentioned in this study, investing in a humanized user embracement, free of discrimination, prejudgment and violence, in order to flow the happiness projects of each person assisted.
A presente pesquisa visou compreender as principais dificuldades e avanços para a garantia do acesso à saúde, no contexto da Política Pública de Saúde, sob a ótica das pessoas travestis e transexuais que utilizam o ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais do Hospital Guilherme Álvaro, no município de Santos - SP. Mapeamos a demanda pelo processo transexualizador, bem como as condições socioeconômicas e culturais desta população. Foi abordada a problemática acerca do preconceito, discriminação e violência sofridos por pessoas transexuais em seus cotidianos, sobretudo no que concerne a assistência e acolhimento no serviço de saúde. Trata-se de pessoas que se expressam no mundo de acordo com o gênero o qual se identificam, independente do sexo biológico o qual nasceram, as tornando alvo de violência de toda ordem e situações vexatórias, por estarem em desacordo com os padrões cisheteronormativos que regem a nossa sociedade. Inicialmente, foi realizada uma revisão sistemática da literatura, como um esforço metodológico, no intuito de se identificar as temáticas que têm sido exploradas na tradição da própria saúde. Optamos por uma pesquisa qualitativa, sob o referencial da hermenêutica crítica e narrativa, por meio da reconstrução das trajetórias de cuidado. Detectamos neste estudo, que sob o ponto de vista das pessoas transexuais, a existência do ambulatório específico, soa como um ganho social importante, proveniente dos movimentos entre a população interessada e a Comissão de Diversidade Sexual de Santos. Por ser vinculado exclusivamente ao SUS, mesmo que não possuam verba própria para custear as consultas, exames e tratamentos, é possível manterem-se no serviço, tornando-o um importante protagonista em termos de garantia da saúde como direito a todos. Identificamos como principais avanços no acesso à saúde, a assistência prestada pelos profissionais que atuam diretamente no ambulatório específico, propiciando a aquisição de laudos para a retificação do prenome e sexo judicialmente, aquisição dos hormônios e realização das cirurgias, exceto a de redesignação sexual. Constatamos que as pessoas transexuais veem a transfobia, preconceito, discriminação, violência e o não uso do nome social como fatores importantes que o impedem de acessar à saúde, ou mesmo se vincularem a ele. São tratados com descaso e muitas vezes sequer são ouvidos. Sentem-se como se fossem cobaias, em razão do desconhecimento técnico e prático dos profissionais ao lhe darem com esta temática. Os entrevistados salientam, que ainda a maior barreira é o (des)acolhimento e a (des)assistência. Verificamos que a garantia do direito à saúde depende das relações entre os profissionais da saúde e as pessoas transexuais, através do reconhecimento desta população e das suas singularidades, bem como a implementação e o fortalecimento da política pública de saúde LGBT. Temos o desafio de garantir os direitos à saúde desta população, injetando meios que sensibilizem e qualifiquem os profissionais, perpassando as barreiras citadas neste estudo, investindo em um acolhimento humanizado, livre de discriminação, preconceito e violência, de maneira a fluir os projetos de felicidade de cada pessoa atendida.
A presente pesquisa visou compreender as principais dificuldades e avanços para a garantia do acesso à saúde, no contexto da Política Pública de Saúde, sob a ótica das pessoas travestis e transexuais que utilizam o ambulatório de Saúde Integral para Travestis e Transexuais do Hospital Guilherme Álvaro, no município de Santos - SP. Mapeamos a demanda pelo processo transexualizador, bem como as condições socioeconômicas e culturais desta população. Foi abordada a problemática acerca do preconceito, discriminação e violência sofridos por pessoas transexuais em seus cotidianos, sobretudo no que concerne a assistência e acolhimento no serviço de saúde. Trata-se de pessoas que se expressam no mundo de acordo com o gênero o qual se identificam, independente do sexo biológico o qual nasceram, as tornando alvo de violência de toda ordem e situações vexatórias, por estarem em desacordo com os padrões cisheteronormativos que regem a nossa sociedade. Inicialmente, foi realizada uma revisão sistemática da literatura, como um esforço metodológico, no intuito de se identificar as temáticas que têm sido exploradas na tradição da própria saúde. Optamos por uma pesquisa qualitativa, sob o referencial da hermenêutica crítica e narrativa, por meio da reconstrução das trajetórias de cuidado. Detectamos neste estudo, que sob o ponto de vista das pessoas transexuais, a existência do ambulatório específico, soa como um ganho social importante, proveniente dos movimentos entre a população interessada e a Comissão de Diversidade Sexual de Santos. Por ser vinculado exclusivamente ao SUS, mesmo que não possuam verba própria para custear as consultas, exames e tratamentos, é possível manterem-se no serviço, tornando-o um importante protagonista em termos de garantia da saúde como direito a todos. Identificamos como principais avanços no acesso à saúde, a assistência prestada pelos profissionais que atuam diretamente no ambulatório específico, propiciando a aquisição de laudos para a retificação do prenome e sexo judicialmente, aquisição dos hormônios e realização das cirurgias, exceto a de redesignação sexual. Constatamos que as pessoas transexuais veem a transfobia, preconceito, discriminação, violência e o não uso do nome social como fatores importantes que o impedem de acessar à saúde, ou mesmo se vincularem a ele. São tratados com descaso e muitas vezes sequer são ouvidos. Sentem-se como se fossem cobaias, em razão do desconhecimento técnico e prático dos profissionais ao lhe darem com esta temática. Os entrevistados salientam, que ainda a maior barreira é o (des)acolhimento e a (des)assistência. Verificamos que a garantia do direito à saúde depende das relações entre os profissionais da saúde e as pessoas transexuais, através do reconhecimento desta população e das suas singularidades, bem como a implementação e o fortalecimento da política pública de saúde LGBT. Temos o desafio de garantir os direitos à saúde desta população, injetando meios que sensibilizem e qualifiquem os profissionais, perpassando as barreiras citadas neste estudo, investindo em um acolhimento humanizado, livre de discriminação, preconceito e violência, de maneira a fluir os projetos de felicidade de cada pessoa atendida.