Aplicação de modelo de predição de prognóstico em nefropatia por IgA na população brasileira

Data
2024-11-14
Tipo
Tese de doutorado
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Resumo
INTRODUÇÃO: A nefropatia por IgA (NIgA) é o padrão histopatológico mais comum de doença glomerular primária em todo o mundo e continua sendo uma das principais causas de doença renal crônica (DRC) e insuficiência renal. Um desafio significativo no acompanhamento da NIgA é o risco extremamente heterogêneo de declínio progressivo da função renal, observando-se risco de evolução para DRC em estágio terminal em 10 anos que varia entre 5% e 60%. Embora se recomendasse a estratificação de risco de pacientes com NIgA, para decidir sobre a realização ou não de tratamento imunossupressor, não existia uma ferramenta para prever com precisão a progressão da doença renal. Na tentativa de maximizar acertos na previsão da evolução em longo prazo de pacientes com NIgA, foi criada e validada uma calculadora internacional de risco específica para NIgA (International IgAN Prediction Tool at biopsy). O objetivo principal deste estudo foi aplicar a equação de risco que define prognóstico renal em pacientes com NIgA, determinando um ponto de corte no resultado de risco para a nossa população, que se associe com maior risco para desfechos renais. MATERIAL E MÉTODOS: Trata-se de um estudo observacional, retrospectivo e unicêntrico. Foram incluídos 131 pacientes com idade igual ou superior a 18 anos, com diagnóstico de NIgA, confirmado por biópsia renal, com acompanhamento regular no ambulatório de glomerulonefrites da UNIFESP/EPM entre os anos de 2005 e 2015 com um mínimo de 5 anos de seguimento. A calculadora internacional de risco global para progressão de DRC foi aplicada para cada paciente. O desfecho primário de interesse utilizado foi o mesmo do estudo original de validação da calculadora e correspondia a um desfecho composto que chamamos de DRC terminal (taxa de filtração glomerular estimada, TFGe < 15 ml/min ou terapia renal substitutiva ou transplante renal) e/ou a diminuição de 50% na TFGe no período de até 60 meses após a biópsia renal. RESULTADOS: Dos 131 pacientes incluídos, 57,3% eram do sexo masculino e tinham idade média de 46,5 anos e tempo de acompanhamento de 133,6 meses; 61,8% eram da raça branca; a TFGe média na época da biópsia foi de 64,94 ± 21,30 em ml/min/1,73 m2 e a proteinúria de 2,53 ± 1,84 g/dia. O fator antinúcleo esteve reagente em 9,9% dos pacientes no momento da biópsia com negativação posteriormente. Os desfechos estudados ocorreram em 39 paciente correspondendo a 29,8%; quanto maior o risco detectado com o uso da calculadora, maior foi a prevalência dos desfechos. Foi possível determinar um ponto de corte de 22,78% como o mais sensível e específico para diferenciar baixo/moderado risco de alto/altíssimo risco para os desfechos renais. A redução > 50% na TFGe, TFGe < 15 ml/min, e redução > 50% na TFGe e/ou TFGe < 15 ml/min mostraram-se relacionadas de forma estatisticamente significante com: “maiores escores” de MEST T e presença de crescentes (MEST C) na época da biópsia renal, detecção de FAN reagente no momento da biópsia renal, maiores níveis de proteinúria na época da biópsia renal e atual. O risco de evoluir para diminuição de 50% na TFGe foi de 49,2 vezes quando o resultado da calculadora foi maior que 27,78% (odds ratio, OR=49,2 com IC95%(OR)= [15,9;152,6]). A sobrevida global estimada foi de 100%, 98,8% e 84,8% em 5,10 e 15 anos respectivamente, sendo maior em pacientes com hematúria menor que 100.000/ml (p = 0,036). A sobrevida livre de piora de função renal foi maior entre os indivíduos com proteinúria < 1g/dia (p = 0,001) e a sobrevida livre de diálise foi maior entre os indivíduos com TFGe > 60 ml/min (p = 0,028). CONCLUSÃO: Demonstrou-se a aplicabilidade da avaliação de risco em NIgA pela calculadora internacional na população brasileira, sem interferência da raça e com determinação de um ponto de corte robusto, que diferenciou pacientes de baixo risco de progressão daqueles de alto risco de progressão para DRC em estágio final. É possível que tais aspectos mereçam maior atenção na tomada de decisão ao propor-se uma terapêutica imunossupressora mais agressiva.
Descrição
Citação
LUCIANO, Eduardo de Paiva. Aplicação de modelo de predição de prognóstico em nefropatia por IgA na população brasileira. 2024. 78 f. Tese (Doutorado em Nefrologia) - Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, 2024.
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