Os últimos sonhos: um estudo dos sonhos de pacientes em cuidados paliativos e as fases da finitude do modelo de Elisabeth Kübler-Ross
Data
2020-10-01
Tipo
Dissertação de mestrado
Título da Revista
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Resumo
As a consequence of better living conditions and the advancement of medical practices, increased life expectancy of the population coupled with the possibility of living with life-threatening disease for a long time represent a new collective experience. In response to issues related to a prolonged life span, the field of palliative care emerged: a transdisciplinary type of care, which, from a psychological perspective, was pioneered by, among others, Swiss psychiatrist Elisabeth Kübler- Ross. Throughout her career, beginning with her early research at the University of Chicago, Kübler-Ross conducted thousands of in-depth interviews and subsequentely developed a model in which she described five stages that a patient will or may experience as he or she becomes aware of the end of life: denial, anger, bargaining, depression and acceptance. This model was based primarily on subjects’ conscious discourse; however, for depth psychology, the psyche also expresses itself by way of the unconscious. The present work is a qualitative study of the end-of-life stages from the perspective of the unconscious, based on dreams collected from patients interviewed at the clinic for palliative medicine at Unifesp Medical School. The material underwent three phases of analysis: dream interpretation using the Jungian method of symbolic amplifications, classification of the stage of death according to the Kübler- Ross model conducted during the medical appointment, and a final analysis matching Kübler-Ross’ stages and the unconscious content. Nine subjects were studied, from which 27 dreams were collected. Based on the final comparative analysis between the understanding of the dream and the observed stage according to the Kübler-Ross model, three categorical axes were found: the coexistence of stages in the same dream and the potential for subsequent psychological development; the psychological opposition between conscious behavior and unconscious images; and the stage of acceptance and the process of individuation. Working with dreams in a hospital context proved to be an acessible resource, as patients were available to share their dreams, as well as a source of enrichment of the therapeutic bond. Above all, based on the Jungian approach, more psychic elements and a different developmental dynamic of end-of-life stages, as compared to those suggested by Kübler-Ross, were observed. Hence, working with dreams complements – or may even alter – the course of the psychological treatment.
Por consequência das melhores condições de vida da população e do progresso das práticas médicas, o aumento da expectativa de vida e a possibilidade de se viver por um longo período com doenças que a ameaçam é uma novidade coletiva. Em resposta às questões relacionadas ao prolongamento do tempo de vida, nasceram os cuidados paliativos, uma forma de cuidado transdisciplinar que, em sua perspectiva psicológica, teve como uma de suas pioneiras Elisabeth Kübler-Ross. A psiquiatra suíça fez ao longo de sua carreira milhares de entrevistas em profundidade desde o início de sua pesquisa desenvolvida na Universidade de Chicago e, assim, desenvolveu um modelo no qual descreve cinco fases pelas quais passa ou pode passar o paciente na conscientização do fim da vida: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Esse modelo se baseou especialmente no discurso consciente do sujeito; no entanto, para a psicologia profunda, a psique se apresenta também por meio do inconsciente. O presente trabalho se dedicou ao estudo qualitativo dos estágios da finitude sob a perspectiva inconsciente, cuja aproximação deu-se a partir da coleta de sonhos de pacientes entrevistados no ambulatório de medicina paliativa da Escola Paulista de Medicina da Unifesp. A análise do material foi feita em três etapas: análise dos sonhos pelo método junguiano da amplificação simbólica, classificação das fases da morte feita na consulta médica de cuidados paliativos segundo o modelo de Kübler-Ross e análise final relacionando os estágios de Kübler-Ross e os conteúdos inconscientes. Dos nove sujeitos acompanhados, foram coletados 27 sonhos. A partir da análise comparativa final entre a compreensão dos sonhos e a observação da fase de Kübler-Ross, os três eixos categóricos encontrados foram: a coexistência de fases em um mesmo sonho e o potencial desenvolvimento psicológico porvir; a oposição psicológica entre o comportamento consciente e as imagens inconscientes; e o estágio da aceitação e o processo de individuação. O trabalho com os sonhos no contexto ambulatorial se mostrou um recurso de fácil acesso, por conta da disponibilidade dos pacientes compartilharem seus sonhos, e uma fonte enriquecedora no vínculo terapêutico. Sobretudo, a partir da abordagem junguiana, foi possível observar que os conteúdos inconscientes apresentam mais elementos psíquicos e uma dinâmica de desenvolvimento dos estágios diferente da apontada por Kübler-Ross. Dessa forma, o trabalho com os sonhos complementa – ou mesmo pode alterar – os rumos do manejo clínico psicológico.
Por consequência das melhores condições de vida da população e do progresso das práticas médicas, o aumento da expectativa de vida e a possibilidade de se viver por um longo período com doenças que a ameaçam é uma novidade coletiva. Em resposta às questões relacionadas ao prolongamento do tempo de vida, nasceram os cuidados paliativos, uma forma de cuidado transdisciplinar que, em sua perspectiva psicológica, teve como uma de suas pioneiras Elisabeth Kübler-Ross. A psiquiatra suíça fez ao longo de sua carreira milhares de entrevistas em profundidade desde o início de sua pesquisa desenvolvida na Universidade de Chicago e, assim, desenvolveu um modelo no qual descreve cinco fases pelas quais passa ou pode passar o paciente na conscientização do fim da vida: negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Esse modelo se baseou especialmente no discurso consciente do sujeito; no entanto, para a psicologia profunda, a psique se apresenta também por meio do inconsciente. O presente trabalho se dedicou ao estudo qualitativo dos estágios da finitude sob a perspectiva inconsciente, cuja aproximação deu-se a partir da coleta de sonhos de pacientes entrevistados no ambulatório de medicina paliativa da Escola Paulista de Medicina da Unifesp. A análise do material foi feita em três etapas: análise dos sonhos pelo método junguiano da amplificação simbólica, classificação das fases da morte feita na consulta médica de cuidados paliativos segundo o modelo de Kübler-Ross e análise final relacionando os estágios de Kübler-Ross e os conteúdos inconscientes. Dos nove sujeitos acompanhados, foram coletados 27 sonhos. A partir da análise comparativa final entre a compreensão dos sonhos e a observação da fase de Kübler-Ross, os três eixos categóricos encontrados foram: a coexistência de fases em um mesmo sonho e o potencial desenvolvimento psicológico porvir; a oposição psicológica entre o comportamento consciente e as imagens inconscientes; e o estágio da aceitação e o processo de individuação. O trabalho com os sonhos no contexto ambulatorial se mostrou um recurso de fácil acesso, por conta da disponibilidade dos pacientes compartilharem seus sonhos, e uma fonte enriquecedora no vínculo terapêutico. Sobretudo, a partir da abordagem junguiana, foi possível observar que os conteúdos inconscientes apresentam mais elementos psíquicos e uma dinâmica de desenvolvimento dos estágios diferente da apontada por Kübler-Ross. Dessa forma, o trabalho com os sonhos complementa – ou mesmo pode alterar – os rumos do manejo clínico psicológico.