Saúde e trabalho na bananicultura em uma região do Vale do Ribeira

Data
2020-01-30
Tipo
Tese de doutorado
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Resumo
Introduction: Banana cultivation has undergone several transformations to meet the demands of capitalist society, in a scenario of work overload, increased use of pesticides and risks to workers' health and safety. Objective: To investigate workers' health status and understand the relationship between health and work in banana cultivation in a region of Vale da Ribeira. Methods: Quantitative and qualitative study conducted in three steps. (1) Selection of workers in banana farming linked to a SP Registry Family Health Strategy (FHS) and application of the Sociodemographic Profile, Health and Work Conditions in Banana Farming Questionnaire (SPHWC), Nordic Musculoskeletal Questionnaire (NMQ) and Self-Report Questionnaire 20 (SRQ-20). (2) Pulmonary function test (spirometry) with subjects from the previous stage. Data from steps 1 and 2 were analyzed using the R Development Core Team® statistical system, with a significance level of p≤0,05. (3) Individual interviews recorded and transcribed in full for thematic content analysis, with subjects who reported some health problem detected in the previous steps. Results: Participed in stage 1, 36 workers from 10 rural properties, without general size and oriented by the employer and agribusiness system (80,0%). Most individuals were male (94,4%), with a mean age of 37,4 years, married (86,1%), with up to two children (51,6%) and elementary school incomplete (50,0%). Monthly income of one to two minimum wages (71,4%), in informal employment (33,3%) and with up to 10 years of work in banana cultivation (66,7%). Musculoskeletal disorders were reported in 66,7% of individuals, mainly in the lumbar (63,9%), shoulders (47,2%) and knees (44,4%) regions. Stressful or tiring work tasks were reported mainly in cutting (64,5%), load (61,3%) and fertilization (16,1%), associated with muscle fatigue (p= 0,001) and work load from 6 to 10 hectares/worker (p= 0,026). The presence of common mental disorders (CMD) was predominant in 25,0% of the associated individuals and informally at work (p= 0,005). In stage 2, there were 30 subjects and there was a prevalence of ventilatory dysfunction in 26,7% of cases, with mild (13,3%) and moderate (10,0%) obstructive ventilatory disorders, and mild mixed ventilatory disorder (3,3%). All workers were exposed to pesticides and the higher the exposure to pesticides, the greater the presence of lung disorders. In stage 3, 11 workers participated and from the interviews there were notes about hard work and tiring, with physical overload, forced and tiring; many demands and pressures to achieve goals and maintain productivity and product quality; high turnover; work in adverse weather conditions; naturalization of hard work, pain and suffering; humiliation; fear; disrespect; repetitive strain injuries/work-related musculoskeletal disorders (RSI/WRMD); pesticide exposure and related health problems; inadequate provision and no provision of individual protection equipment (IPE); late payments and non-payment of salaries, restriction of freedom and Inadequate housing. Final Considerations: Workers changed their health status, showing musculoskeletal disorders, respiratory disorders and common mental disorders, as well as suffering and wear caused by working in poor banana growing conditions.
Introdução: A bananicultura tem passado por inúmeras transformações para atender às demandas da sociedade capitalista, em um cenário com sobrecargas de trabalho, ampliação do uso de agrotóxicos e riscos para a saúde e segurança dos trabalhadores. Objetivo: Investigar o estado de saúde dos trabalhadores e compreender as relações existentes entre a saúde e o trabalho na bananicultura, em uma região do Vale do Ribeira. Métodos: Estudo quantitativo e qualitativo realizado em três etapas. (1) Seleção de trabalhadores da bananicultura vinculados à uma Estratégia de Saúde da Família (ESF) de Registro-SP e aplicação do Questionário de Perfil Sociodemográfico, de Características de Saúde e de Trabalho na Bananicultura (QPSCSTB), Questionário Nórdico de Sintomas Osteomusculares (QNSO) e Self Reporting Questionnaire 20 (SRQ-20). (2) Teste de função pulmonar (espirometria) com os sujeitos da etapa anterior. Os dados das etapas 1 e 2 foram analisados através do sistema estatístico R Development Core Team®, com nível de significância de p≤ 0,05. (3) Entrevistas individuais gravadas e transcritas na íntegra para análise de conteúdo temática, com os sujeitos que apresentaram algum problema de saúde detectados nas etapas anteriores. Resultados: Na etapa 1, participaram 36 sujeitos de 10 propriedades rurais, no geral de pequeno porte e pautadas no sistema patronal e do agronegócio (80,0%). A maioria dos sujeitos eram do sexo masculino (94,4%), média de idade de 37,4 anos, amasiados ou casados (86,1%), com até dois filhos (51,6%) e ensino fundamental incompleto (50,0%). A renda mensal era de um a dois salários mínimos (71,4%), em situação de trabalho informal (33,3%) e com até 10 anos na bananicultura (66,7%). Os distúrbios osteomusculares foram apontados em 66,7% dos sujeitos, principalmente nas regiões lombar (63,9%), ombros (47,2%) e joelhos (44,4%). Foram relatadas tarefas de trabalho penosas ou cansativas principalmente no corte (64,5%), carregamento (61,3%) e adubação (16,1%), com associação à fadiga muscular (p= 0,001) e carga de trabalho de 6 a 10 hectares/trabalhador (p= 0,026). A presença de transtornos mentais comuns (TMC) foi prevalente em 25,0% dos sujeitos e associada com a informalidade no trabalho (p= 0,005). Na etapa 2, participaram 30 sujeitos e houve prevalência de disfunção ventilatória em 26,7% dos casos, com distúrbios ventilatórios do tipo obstrutivo leve (13,3%) e moderado (10,0%), e distúrbio ventilatório misto leve (3,3%). Todos os trabalhadores estiveram expostos aos agrotóxicos e quanto maior o tempo de exposição aos agrotóxicos, maior foi a presença de distúrbios pulmonares. Na etapa 3 participaram 11 trabalhadores e das entrevistas surgiram trabalho penoso, cansativo, com sobrecarga física, forçado e exaustivo; muitas exigências e pressões para alcançar metas e manter a produtividade e a qualidade dos produtos; alta rotatividade; trabalho em condições climáticas adversas; naturalização do trabalho penoso, da dor e do sofrimento; desgaste; humilhação; medo; desrespeito; LER/DORT; exposição aos agrotóxicos e problemas de saúde relacionados; fornecimento inadequado e não fornecimento de EPI; atrasos e não pagamentos de salários, cerceamento da liberdade e moradias inadequadas. Considerações Finais: Os trabalhadores apresentaram alterações do estado de saúde, sendo evidenciados distúrbios osteomusculares, distúrbios respiratórios e transtornos mentais comuns, além do sofrimento e do desgaste gerado pelo trabalho em condições precárias na bananicultura.
Descrição
Citação
SIMAS, José Martim Marques. Saúde e trabalho na bananicultura em uma região do Vale do Ribeira. 2020. 160 f. Tese (Doutorado Interdisciplinar em Ciências da Saúde) - Instituto de Saúde e Sociedade, Universidade Federal de São Paulo, Santos, 2020.