A distância filogenética determina o saldo das interações entre plantas em dunas costeiras?

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Data
2023-12-08
Autores
Costa, Luisa Truffi de Oliveira [UNIFESP]
Orientadores
Castanho, Camila de Toledo [UNIFESP]
Tipo
Dissertação de mestrado
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Resumo
A ecologia filogenética de comunidades busca compreender quais os principais processos ecológicos em uma comunidade a partir da interpretação de padrões filogenéticos da comunidade. Essa abordagem foca principalmente em dois processos: a competição e o filtro ambiental. Assumindo que o conservadorismo de nicho é comum, ou seja, que o nicho de espécies mais próximas na filogenia seja mais similar do que de espécies mais distantes, comunidades com um padrão filogenético agregado são interpretadas como sendo principalmente afetadas pelo filtro ambiental e comunidades com padrão de sobredispersão filogenética como sendo mais afetadas pela competição. O filtro ambiental geraria uma comunidade agregada filogeneticamente porque seria esperado que quando sob o processo de filtro ambiental somente as espécies próximas que compartilham as características necessárias para viver em ambientes severos estariam presentes na comunidade. Por outro lado, a competição geraria uma comunidade sobredispersa filogeneticamente porque seria esperado que espécies próximas na filogenia tivessem maior sobreposição de nicho, levando à exclusão competitiva e em uma comunidade com poucas espécies aparentadas coexistindo. Outros processos ecológicos raramente são considerados em análises de ecologia filogenética. Esse é o caso da facilitação, um processo importante para ecologia vegetal porém pouco explorado pela ecologia filogenética e outras análises ecológicas. A facilitação ocorre quando a performance de uma planta é melhor quando próxima a uma vizinha facilitadora do que quando se desenvolve de forma isolada. A vizinha pode aliviar condições estressantes para plantas menos tolerantes por meio de alterações mbientais como alteração da intensidade solar excessiva, aumento da umidade ou aumento de nutrientes limitantes, por exemplo, pela fixação de nitrogênio. É possível esperar que a facilitação seja mais intensa entre espécies distantes na filogenia por causa da complementaridade de nicho. Até agora existem evidências empíricas e teóricas conflitantes para a utilização da distância filogenética como um proxy para o saldo da interação entre espécies e poucos trabalhos exploram diretamente o efeito da distância sobre o saldo das interações. Entre plantas, o hábito de vida e o estágio ontogenético são reconhecidos como importantes para determinar o saldo das interações. Essas características são, respectivamente, somente parcialmente conservadas e totalmente independentes da filogenia. Isso as torna características interessantes para analisar em conjunto com a distância filogenética. As dunas costeiras são um ambiente severo que pode limitar o desenvolvimento das plantas. Nesse ambiente já foram observadas interações de facilitação e competição, mas ainda carecem explicações sobre quais os principais fatores que determinam o saldo das interações. Neste trabalho avaliamos o efeito da distância filogenética no saldo das interações entre plantas nas dunas costeiras. Também investigamos se o efeito da distância filogenética é modulado pelo hábito de vida e pelo estágio ontogenético das plantas em interação. Para isso, realizamos uma meta-análise, na qual selecionamos estudos que compararam o desempenho de plantas com plantas vizinhas e plantas isoladas em dunas costeiras do mundo todo. Encontramos que a distância filogenética não afeta o resultado das interações entre plantas (163 observações de 25 estudos), nem a combinação de formas de vida, similaridade de hábitos de vida ou estágio ontogenético modulam o efeito da distância filogenética no saldo das interações. Tanto interações positivas quanto negativas foram observadas para interação entre espécies próximas na filogenia e para espécies distantes. Portanto, contrariamente às nossas expectativas, a distância filogenética não foi relevante na determinação das interações entre plantas nas dunas costeiras, mesmo quando considerando o hábito de vida e o estágio ontogenético. Este resultado apoia algumas críticas à ecologia filogenética, principalmente o uso da distância filogenética para inferir processos ecológicos. E também reforça que determinar o saldo das interações entre espécies é uma tarefa complexa e é necessária cautela ao usar proxies para inferi-lo.
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