Para uma cartografia da servidão inconsciente em o Anti-Édipo de Deleuze e Guattari
Data
2019-10-25
Tipo
Dissertação de mestrado
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Resumo
May 68 profoundly marked the political context that mobilized the creation of AntiOedipus. More than a historical event in which determinism and causality can be detected, Deleuze and Guattari claim that May 68 belongs to the order of a pure happening [événement]. First of all, it is a political happening that opens a new field of possible, new life possibilities that imply, in turn, an affective mutation, a new perspective on the intolerables of social life. However, given the aspects that took over the post-68 political events, the authors' diagnosis was assertive: the possible field was continually closed not only by reactionary and fascist forces, but also by socalled left-wing organizations. The revolutionary desire of the masses was also betrayed and repressed by the organizations and the men who supposedly represented them. But why did the masses let themselves be repressed and deceived? Why were they against their own interests and aborted a revolution that seemed imminent? In this perspective, Anti-Oedipus has as its starting point and guiding thread the question raised by Spinoza: why are men led to fight for their servitude as if it were for their freedom? This research seeks to map the lines that make up the problem of voluntary servitude, from its formulation by La Boétie in the sixteenth century, going through Spinoza and Reich to the heart of Anti-Oedipus, in which the problem arises in terms of unconscious servitude. In this attempt, we pursue to research how Deleuze and Guattari lie beyond the Freudian Marxism in order to create a new conception of unconscious desire, which implies a redefinition of materialism from the desiring production category. This initial prospection allows us to show how the authors construct a perspective on unconscious servitude, based on a critique of the political-libidinal economy of social formations. Inseparable criticism of a symptomatology of the affinity coefficients between the desiring and social regimes of one and the same production. The branch of this conceptual circuit emphasizes the role of primary repression and the setting up of social repressionpsychic repression system as fundamental operators for the problematization of servitude in Anti-Oedipus. Finally, we try to outline some elements of the ethicalpolitical dimension inherent in the schizoanalytic critical program, with regard to combating unconscious servitude.
Maio de 68 marcou profundamente o contexto político que mobilizou a criação de O anti-Édipo. Mais do que um evento histórico, no qual se pode entrever determinismos e causalidades, Deleuze e Guattari afirmam que Maio de 68 pertence à ordem de um acontecimento puro. Trata-se de um acontecimento político que abre um novo campo de possíveis, novas possibilidades de vida que implicam, por sua vez, uma mutação afetiva, uma nova perspectiva dos intoleráveis da vida social. No entanto, ante os aspectos que assumiram os eventos políticos pós-68, o diagnóstico dos autores era assertivo: o campo de possíveis foi continuamente fechado não apenas por forças reacionárias e fascistas, mas também pelas organizações ditas de esquerda. O desejo revolucionário das massas foi traído e reprimido também pelas organizações e os homens que supostamente as representavam. Mas por que as massas se deixaram reprimir e enganar? Por que foram contra seus próprios interesses e abortaram uma revolução que parecia iminente? Nesse horizonte, O anti-Édipo tem como ponto de partida e fio condutor a interrogação levantada por Espinosa: por que os homens são levados a lutar por sua servidão como se fosse por sua liberdade? A presente pesquisa busca cartografar as linhas que compõem o problema da servidão voluntária, desde sua formulação por La Boétie, no século XVI, passando por Espinosa e Reich, até chegar ao coração de O anti-Édipo, em que o problema se coloca em termos de uma servidão inconsciente. Nesse intento, procuramos deslindar como Deleuze e Guattari se situam para além do freudomarxismo, a fim de criar uma nova concepção de desejo inconsciente, que implica uma redefinição do materialismo a partir da categoria de produção desejante. Esta prospecção inicial permite mostrar como os autores constroem uma perspectiva sobre a servidão inconsciente, baseada numa crítica da economia político-libidinal das formações sociais. Crítica indissociável de uma sintomatologia dos coeficientes de afinidade entre os regimes desejante e social de uma única e mesma produção. A ramificação desse circuito conceitual enfatiza o papel do recalcamento originário e da montagem dos sistemas de repressão-recalcamento como operadores fundamentais para a problematização da servidão em O anti-Édipo. Por fim, procuramos esboçar alguns elementos da dimensão ético-política inerente ao programa crítico esquizoanalítico, no tocante ao combate à servidão inconsciente.
Maio de 68 marcou profundamente o contexto político que mobilizou a criação de O anti-Édipo. Mais do que um evento histórico, no qual se pode entrever determinismos e causalidades, Deleuze e Guattari afirmam que Maio de 68 pertence à ordem de um acontecimento puro. Trata-se de um acontecimento político que abre um novo campo de possíveis, novas possibilidades de vida que implicam, por sua vez, uma mutação afetiva, uma nova perspectiva dos intoleráveis da vida social. No entanto, ante os aspectos que assumiram os eventos políticos pós-68, o diagnóstico dos autores era assertivo: o campo de possíveis foi continuamente fechado não apenas por forças reacionárias e fascistas, mas também pelas organizações ditas de esquerda. O desejo revolucionário das massas foi traído e reprimido também pelas organizações e os homens que supostamente as representavam. Mas por que as massas se deixaram reprimir e enganar? Por que foram contra seus próprios interesses e abortaram uma revolução que parecia iminente? Nesse horizonte, O anti-Édipo tem como ponto de partida e fio condutor a interrogação levantada por Espinosa: por que os homens são levados a lutar por sua servidão como se fosse por sua liberdade? A presente pesquisa busca cartografar as linhas que compõem o problema da servidão voluntária, desde sua formulação por La Boétie, no século XVI, passando por Espinosa e Reich, até chegar ao coração de O anti-Édipo, em que o problema se coloca em termos de uma servidão inconsciente. Nesse intento, procuramos deslindar como Deleuze e Guattari se situam para além do freudomarxismo, a fim de criar uma nova concepção de desejo inconsciente, que implica uma redefinição do materialismo a partir da categoria de produção desejante. Esta prospecção inicial permite mostrar como os autores constroem uma perspectiva sobre a servidão inconsciente, baseada numa crítica da economia político-libidinal das formações sociais. Crítica indissociável de uma sintomatologia dos coeficientes de afinidade entre os regimes desejante e social de uma única e mesma produção. A ramificação desse circuito conceitual enfatiza o papel do recalcamento originário e da montagem dos sistemas de repressão-recalcamento como operadores fundamentais para a problematização da servidão em O anti-Édipo. Por fim, procuramos esboçar alguns elementos da dimensão ético-política inerente ao programa crítico esquizoanalítico, no tocante ao combate à servidão inconsciente.