A experiência dissociativa no trauma: uma abordagem qualitativa
Data
2015-06-26
Tipo
Tese de doutorado
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Resumo
Peritraumatic dissociation has been considered an important feature to development of post-traumatic stress disorders, but this concept still remains unclear. Studies on the concept of dissociation are rare and prospective studies during or immediately after a trauma event are scarce. Most of them are retrospective, based on standardized questionnaires and carried out long after the trauma event. In order to adequately explore the peritraumatic dissociative phenomenon, we considered the nature of conscious human experience and the subjectivity of our object of study. We interviewed eight patients, victims of urban violence up to 1 month after the traumatic event. The interviews? content were compared, analyzed and encoded according to the Grounded Theory. The reported alterations by these individuals were coded on (A) their perceptions about the inner world, (B) the outer world, (C) as well as the impressions of third-party including the examiner?s observations. Patients manifested entire intermeshed experiences of feelings, expressions, beliefs and actions, all permeated with biographical details, but not integrated enough to allow their perceptual experience to be congruent, consistent and meaningful as the experience of being/existing. Peritraumatic dissociative experience presented itself as a failure in the capacity to synthesize the emerging signs of the inner (their mind/body unit) and outer world (other people and objects, including the space-time flow structure) in a consistent and meaningful way, departing from intact cognitive-perceptual tools. Adequate and faithful distinctions of a concept are the fundamental basis for classification, research and treatment. This finding implies on critical positioning to manage peritraumatic dissociation.
A dissociação peritraumática tem sido considerada um elemento importante para o desenvolvimento de transtornos pós-traumáticos e outros quadros psicopatológicos tardios. No entanto, ainda não existe um consenso sobre o conceito. Existem muitas visões diferentes sobre o fenômeno dissociativo, o que pode comprometer as bases da pesquisa e tratamento. Estudos conceituais são raros e a maioria das pesquisas sobre dissociação e trauma é retrospectiva, tardia em relação ao evento traumático e baseada em questionários padronizados que não traduzem completamente a experiência peritraumática. Considerando a necessidade de uma descrição mais fiel e apropriada para a experiência humana, investigamos a dissociação peritraumática diretamente a partir das entrevistas de 8 pacientes que sofreram violência urbana até 1 mês após o evento traumático. O conteúdo das entrevistas foi analisado, comparado e codificado de acordo com a Grounded Theory. As alterações relatadas por estes indivíduos foram codificadas em (A) suas impressões relativas ao mundo interno (a unidade mente/corpo), (B) aos objetos e ao meio externo, (C) e sobre as impressões de terceiros. A dissociação peritraumática foi elaborada como uma incapacidade da síntese entre estímulos emergentes do meio interno e do meio externo, incluindo o fluxo espaço-tempo, mesmo com ferramentas cognitivo-perceptuais íntegras. Esta síntese dá à consciência a qualidade de coerência e significado para totalidade perceptiva, possibilitando a existência. Esta proposta aponta para um caminho de investigação nas neurociências e pode contribuir na orientação terapêutica do dissociado para além do alívio dos sintomas, buscando novas formas de articulação de sentido do indivíduo consigo mesmo, com o meio e com a temporalidade evitando que o paciente instale a patologia traumática.
A dissociação peritraumática tem sido considerada um elemento importante para o desenvolvimento de transtornos pós-traumáticos e outros quadros psicopatológicos tardios. No entanto, ainda não existe um consenso sobre o conceito. Existem muitas visões diferentes sobre o fenômeno dissociativo, o que pode comprometer as bases da pesquisa e tratamento. Estudos conceituais são raros e a maioria das pesquisas sobre dissociação e trauma é retrospectiva, tardia em relação ao evento traumático e baseada em questionários padronizados que não traduzem completamente a experiência peritraumática. Considerando a necessidade de uma descrição mais fiel e apropriada para a experiência humana, investigamos a dissociação peritraumática diretamente a partir das entrevistas de 8 pacientes que sofreram violência urbana até 1 mês após o evento traumático. O conteúdo das entrevistas foi analisado, comparado e codificado de acordo com a Grounded Theory. As alterações relatadas por estes indivíduos foram codificadas em (A) suas impressões relativas ao mundo interno (a unidade mente/corpo), (B) aos objetos e ao meio externo, (C) e sobre as impressões de terceiros. A dissociação peritraumática foi elaborada como uma incapacidade da síntese entre estímulos emergentes do meio interno e do meio externo, incluindo o fluxo espaço-tempo, mesmo com ferramentas cognitivo-perceptuais íntegras. Esta síntese dá à consciência a qualidade de coerência e significado para totalidade perceptiva, possibilitando a existência. Esta proposta aponta para um caminho de investigação nas neurociências e pode contribuir na orientação terapêutica do dissociado para além do alívio dos sintomas, buscando novas formas de articulação de sentido do indivíduo consigo mesmo, com o meio e com a temporalidade evitando que o paciente instale a patologia traumática.
Descrição
Citação
MATTOS, Patricia Ferreira. A experiência dissociativa no trauma: uma abordagem qualitativa. 2015. Tese (Doutorado) - Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, 2015.