Análise cristalográfica de cálculos urinários e sua associação com fatores metabólicos, climáticos e índice de desenvolvimento humano na população brasileira
Data
2020-03-05
Tipo
Tese de doutorado
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Resumo
The frequency of renal stones in Brazil has been evaluated in the last 30 years by investigators from the areas of Urology and Nephrology based on epidemiological data focused on the number of admissions in the emergency room and hospitalization due to episodes of renal colic. However, there is scarce data in Brazil evaluating kidney stone composition using physical analysis as proposed by international guidelines. Moreover, variations in demographic, economic and environmental factors might influence the worldwide distribution of urolithiasis but scarce data is available concerning their associations with stone composition worldwide. The aims of the present study were to evaluate the frequency and composition of kidney stones and their associations with temperature, humidity and human development index (HDI) in different parts of a large country as Brazil, presenting with a handful of social contrasts and a wide variation of climate. A total of 1,158 stones from distinct regions of the country were submitted to physical analysis, and the mean annual temperature and relative humidity of each city were considered separately. A sub-group of patients (n=204) whose 24hr urine samples were available, were tested for associations with metabolic disturbances. Calcium oxalate (CaOx) stones were disclosed in 60.9% (monohydrate and dihydrate) of patients followed by uric acid stones (pure/mixed with CaOx monohydrate) in 16.7%, pure or mixed apatite/CaOx dihydrate in 11.3%, struvite in 8.3%, brushite in 1.8% and cystine/rare types in 0.8%. People living in cities with a HDI < 0.800 had twice the odds of having a struvite stone versus those living in a HDI ≥ 0.800 (OR=2.14, 95% CI 1.11–4.11). A progressive increase in the frequency of struvite stones from 4.5% to 22.8% was detected between a HDI higher than 0.800 through lower than 0.700. No significant differences for other stone types were disclosed. In separate logistic regression models assessing the association of each stone composition with covariates, no significant association was detected with climate. Among patients whom underwent 24-hour urinary metabolic workup, no significant differences were observed in comparison to the literature. In conclusion, patients living in areas with low HDI were more prone to developing struvite stones, possibly due to a more restricted access to healthcare. Temperature and humidity did not represent an independent risk factor for any stone type in our population.
A frequência de cálculos renais na população brasileira tem sido avaliada ao longo dos últimos 30 anos através de pesquisas nas áreas de Urologia e de Nefrologia com base no número de admissões hospitalares por crises de cólica nefrética. Entretanto, não existem dados na literatura nacional relacionados à composição dos cálculos renais, que por sua vez deve ser obtida através de métodos cristalográficos de análise dos mesmos e de acordo com metodologias validadas internacionalmente. Este trabalho teve por objetivo avaliar a frequência e a composição de cálculos urinários em uma amostra populacional de várias regiões brasileiras e sua associação com temperatura, umidade e índice de desenvolvimento humano (IDH). Diante do aspecto continental do vasto território brasileiro, possíveis associações com diferentes tipos de clima, incluindo médias anuais de temperatura e umidade, poderiam influenciar a composição dos cálculos. Além disso, trata-se de um país com muitos contrastes sociais e grandes diferenças de acesso aos sistemas público e privado de saúde e, portanto, as disparidades sociais também foram consideradas neste trabalho como possíveis variáveis que poderiam influenciar a frequência de determinados tipos de cálculos em diferentes regiões brasileiras. Um total de 1.158 cálculos urinários provenientes de todas as regiões do país foi submetido à análise cristalográfica. A média anual de temperatura e umidade foi obtida individualmente para cada cidade da qual o cálculo era proveniente. O mesmo dado individual relacionado ao IDH foi obtido de cada cidade. Um subgrupo de pacientes (n=204) foi submetido à investigação de distúrbios metabólicos urinários através de coleta de urina de 24 horas. Cálculos de oxalato de cálcio (CaOx) foram evidenciados em 60,9% do total amostral (monohidratado e dihidratado) seguidos por cálculos de ácido úrico (16,7%), cálculos puros de apatita ou mistos de apatita e CaOx dihidratado (11,3%), estruvita (8,3%), brushita (1,8%) e cistina/tipos raros (0,8%). Pacientes provenientes de cidades com IDH <0,800 apresentaram o dobro da razão de chances para formação de cálculos de estruvita comparados aos pacientes residindo em áreas de elevado IDH (≥0,800) OR=2,14 [IC 95% 1,11-4,11]. Além disso, um aumento progressivo, variando de 4,5% a 22,8%, na frequência de cálculos de estruvita foi observado quando as faixas de IDH variaram de ≥0,800 a <0,700. Não foi observada associação do IDH com outros tipos de cálculos urinários. Para avaliação de possíveis associações entre temperatura e umidade nos diferentes climas brasileiros e a composição dos cálculos renais, foram criados modelos de regressão logística separados por tipo de cálculo renal. Nenhuma diferença significante foi observada entre a composição do cálculo e diferentes climas brasileiros. No subgrupo submetido à investigação metabólica não se observaram diferenças significantes em relação a populações de outros países já previamente estudados. Concluiu-se que pacientes que vivem em regiões de baixo IDH estão mais propensos a desenvolver cálculos de estruvita possivelmente relacionado ao seu acesso mais restrito ao sistema de saúde. Temperatura e umidade não representaram um fator de risco independente para nenhum tipo específico de cálculo renal na população estudada.
A frequência de cálculos renais na população brasileira tem sido avaliada ao longo dos últimos 30 anos através de pesquisas nas áreas de Urologia e de Nefrologia com base no número de admissões hospitalares por crises de cólica nefrética. Entretanto, não existem dados na literatura nacional relacionados à composição dos cálculos renais, que por sua vez deve ser obtida através de métodos cristalográficos de análise dos mesmos e de acordo com metodologias validadas internacionalmente. Este trabalho teve por objetivo avaliar a frequência e a composição de cálculos urinários em uma amostra populacional de várias regiões brasileiras e sua associação com temperatura, umidade e índice de desenvolvimento humano (IDH). Diante do aspecto continental do vasto território brasileiro, possíveis associações com diferentes tipos de clima, incluindo médias anuais de temperatura e umidade, poderiam influenciar a composição dos cálculos. Além disso, trata-se de um país com muitos contrastes sociais e grandes diferenças de acesso aos sistemas público e privado de saúde e, portanto, as disparidades sociais também foram consideradas neste trabalho como possíveis variáveis que poderiam influenciar a frequência de determinados tipos de cálculos em diferentes regiões brasileiras. Um total de 1.158 cálculos urinários provenientes de todas as regiões do país foi submetido à análise cristalográfica. A média anual de temperatura e umidade foi obtida individualmente para cada cidade da qual o cálculo era proveniente. O mesmo dado individual relacionado ao IDH foi obtido de cada cidade. Um subgrupo de pacientes (n=204) foi submetido à investigação de distúrbios metabólicos urinários através de coleta de urina de 24 horas. Cálculos de oxalato de cálcio (CaOx) foram evidenciados em 60,9% do total amostral (monohidratado e dihidratado) seguidos por cálculos de ácido úrico (16,7%), cálculos puros de apatita ou mistos de apatita e CaOx dihidratado (11,3%), estruvita (8,3%), brushita (1,8%) e cistina/tipos raros (0,8%). Pacientes provenientes de cidades com IDH <0,800 apresentaram o dobro da razão de chances para formação de cálculos de estruvita comparados aos pacientes residindo em áreas de elevado IDH (≥0,800) OR=2,14 [IC 95% 1,11-4,11]. Além disso, um aumento progressivo, variando de 4,5% a 22,8%, na frequência de cálculos de estruvita foi observado quando as faixas de IDH variaram de ≥0,800 a <0,700. Não foi observada associação do IDH com outros tipos de cálculos urinários. Para avaliação de possíveis associações entre temperatura e umidade nos diferentes climas brasileiros e a composição dos cálculos renais, foram criados modelos de regressão logística separados por tipo de cálculo renal. Nenhuma diferença significante foi observada entre a composição do cálculo e diferentes climas brasileiros. No subgrupo submetido à investigação metabólica não se observaram diferenças significantes em relação a populações de outros países já previamente estudados. Concluiu-se que pacientes que vivem em regiões de baixo IDH estão mais propensos a desenvolver cálculos de estruvita possivelmente relacionado ao seu acesso mais restrito ao sistema de saúde. Temperatura e umidade não representaram um fator de risco independente para nenhum tipo específico de cálculo renal na população estudada.
Descrição
Citação
CUNHA, Tamara da Silva. Análise cristalográfica de cálculos urinários e sua associação com fatores metabólicos, climáticos e Índice de Desenvolvimento Humano na população Brasileira. 2019. 59f. Tese (Doutorado em Nefrologia) – Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo. São Paulo, 2019.