Comparação das características clínicas, laboratoriais e dos desfechos de pacientes com leucemia linfocítica crônica acompanhados em hospitais públicos ou privados no Brasil: uma análise retrospectiva do Registro Brasileiro de Leucemia Linfocítica Crônica
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Data
2020-12-18
Tipo
Dissertação de mestrado
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Resumo
Introduction: Chronic lymphocytic leukemia (CLL) typically occurs in elderly patients and has a highly variable clinical course. It is important to understand the aspects that affect the outcomes of CLL in a real-world setting. In addition to biological factors, socioeconomic and health system characteristics may also influence the clinical course and outcome of CLL. Data from the Brazilian Registry of CLL was analyzed to compare clinical and treatmentrelated characteristics in patients with CLL followed in public or private institutions in Brazil. Objective: To describe the clinical and laboratory characteristics and outcomes of a series of CLL patients followed in public or private hospitals in Brazil. Methods: The Brazilian Registry of CLL started in 2004 as a prospective non-interventional data collection tool. All patients with minimum available data required on patient and disease characteristics and survival were included. Results/discussion: From January 2004 to August 2020, 3053 patients from 37 centers met eligibility criteria for this analysis: 2449 (80%) were followed at public hospitals and 604 (20%) at private institutions. The majority were male (57%), with median age of 66 years (ranging from 23 to 106). Binet stage at diagnosis was A in 1678 (58%) patients, B in 652 (23%) and C in 540 (19%). FISH for del(17p) was performed in only 486 patients (16%), while FISH for the most common aberrations [del(13q), +12, del(11q), and del(17p)] was performed in 446 patients (15%). IGHV mutational status was performed in only 214 patients (7%), and karyotype in only 173 patients (6%). Comparing public and private hospitals, we observed that patients in public hospital are older (median age 66 years vs. 63 years for private hospitals, P<0.0001), had more advanced disease at diagnosis (frequency of Binet B or C was 44% in public vs. 33% in private hospital, P<0.0001), more frequently had elevated creatinine levels (18% vs. 10%, P<0.0001). All prognostic markers were performed more often in private than in public hospitals: FISH for del17p (42% of cases vs. 10%, respectively, P<0.0001), IGHV mutational status (13% vs. 6%, respectively,P<0.0001) and karyotype (16% vs. 3%, respectively, P<0.0001). The frequency of a positive FISH for del(17p) was similar between public and private hospitals (11% vs. 9%, P=0.65), as well as the frequency of unmutated IGHV status (60% vs. 49%, P=0.12). Analyzing 1080 patients who have been treated since 2008, treatment was performed after a median time follow up of 6 months (range: 0-290) after diagnosis. First line treatment was predominantly based on chlorambucil in 43% of cases and in fludarabine in 39%. Anti-CD20 monoclonal antibody was used in only 35% of cases (rituximab in 32% and obinutuzumab in 3%). Novel agents were used in first line in only 23 patients (2%) , 19 of which in the context of a clinical trial. In public hospitals there were significantly less patients receiving fludarabine-base regimens (36% vs. 52%, P<0.0001), and regimens containing anti-CD20 monoclonal antibodies (26% vs. 75%, P<0.0001). Overall survival at 7 years was significantly worse in public than in private hospitals (68% vs. 92%, respectively, P<0.0001). After a multivariate analysis, survival in patients from public hospitals remained significantly worse than in private hospitals (hazard ratio - HR 2.88, 95% confidence interval 1.59 – 5.24), after correcting for age, Binet staging and beta2-microglobulin. Treatment free survival at 7 years was also worse in public than in private hospitals (30% vs. 48%, respectively, P<0.0001), although the difference did not remain after correcting for Binet staging and beta2-microglobulin in a multivariate analysis (HR 0.91, 95%CI 0.50- 1.66, P=0.76). Conclusion: Our data indicate that there are striking differences among patients treated in public or private hospitals in Brazil. A worse clinical condition as well as the lack of accessibility to basic laboratory tests and adequate therapies may explain the worse outcome of patients treated in public institutions in Brazil.
Introdução: A Leucemia Linfocítica Crônica (LLC) ocorre tipicamente em pacientes idosos e apresenta grande variabilidade na apresentação clínica. É importante entender os aspectos que influenciam os desfechos da LLC no mundo real. Além de fatores biológicos, fatores socioeconômicos e de sistemas de saúde podem influenciar o curso clínico da LLC. Nesse sentido, dados do Registro Brasileiro de LLC foram analisados para comparar características clínicas e relacionadas a tratamento em pacientes com LLC em seguimento em hospitais públicos ou privados no Brasil. Objetivo: Comparar as características clínicas, laboratoriais e os desfechos de pacientes com LLC em seguimento em hospitais públicos ou privados no Brasil. Métodos: O Registro Brasileiro de LLC começou em 2004 como uma ferramenta de coleta de dados prospectivo e não-intervencionista. Para essa análise, nós incluímos todos os pacientes com o mínimo de dados disponíveis para analisar as características do paciente,da doença e da sobrevida global. Resultados/discussão: De janeiro de 2004 a agosto de 2020, 3053 pacientes de 37 centros preencheram os critérios de elegibilidade: 2449 (80%) eram acompanhados em hospitais públicos e 604 (20%) em hospitais privados. A maioria era do sexo masculino (57%), com mediana de idade de 66 anos (variando de 23 a 106). O estadiamento Binet ao diagnóstico era A em 1678 pacientes (58%), B em 652 (23%) e C em 540 (19%). FISH para del(17p) foi realizada em apenas 486 pacientes (16%), enquanto FISH para as aberrações mais comuns [del(13q), +12, del(11q), e del(17p)] foi realizada em 446 pacientes (15%). O estado mutacional do IGHV foi realizado em apenas 214 pacientes (7%), e o cariótipo em apenas 173 pacientes (6%).Comparando hospitais públicos e privados, pacientes em hospitais públicos são mais idosos (mediana de idade de 66 anos vs. 63 anos para hospitais privados, P<0,0001), tem estadiamento clínico mais avançado ao diagnóstico (Binet B ou C foi em 44% em hospitais públicos vs. 33% em hospitais privados, P<0,0001), e maior frequência de creatinina elevada (18% vs. 10%, P<0,0001). Todos os marcadores prognósticos estavam mais disponíveis em hospitais privados do que públicos: FISH para del17p (42% vs. 10%, respectivamente P<0,0001), estado mutacional do IGHV (13% vs. 6%, respectivamente, P<0,0001) e cariótipo (16% vs. 3%, respectivamente, P<0,0001). A frequência de FISH positivo para a del(17p) foi similar entre hospitais públicos e privados (11% vs.9%, P=0,65), assim como a frequência de IGHV não-mutado (60% privados vs. 49% públicos, P=0,12). Analisando 1080 pacientes que foram tratados após 2008, o tratamento foi realizado após uma mediana de seguimento de 6 meses (intervalo: 0-290) após o diagnóstico. A primeira linha de tratamento foi baseada em clorambucil em 43% dos casos e em fludarabina em 39%. Anticorpo monoclonal anti-CD20 foi usado em apenas 35% dos casos (rituximabe em 32% e obinutuzumabe em 3%). Novos agentes (ibrutinibe, venetoclax ou acalabrutinibe) foram usados em primeira linha em apenas 23 pacientes (2%), sendo 19 desses no contexto de estudo clínico. Em hospitais públicos significativamente menos pacientes receberam regimes baseados em fludarabina (36% vs. 52% em hospitais privados, P<0,0001), e regimes contendo anticorpos monoclonais anti-CD20 (26% vs. 75%, respectivamente, P<0,0001). A sobrevida global em 7 anos foi significativamente pior entre pacientes acompanhados em hospitais públicos do que nos privados (68% vs. 92%, respectivamente, P<0.0001). Após análise multivariada, a sobrevida de pacientes em hospitais públicos permaneceu significativamente menor (razão de risco – hazard ratio HR 2,88, 95% intervalo de confiança 1,59 – 5,24), após correção para idade, estadiamento de Binet e beta-2-microglobulina elevada. A sobrevida livre de tratamento em 7 anos também foi significativamente pior em hospitais públicos do que em privados (30% vs. 48%, respectivamente, P<0,0001). Entretanto, essa diferença não permaneceu significativa após corrigirmos para estadiamento de Binet e beta-2-microglobulina elevada em análise multivariada (HR 0,91, IC95% 0,50- 1,66, P=0,76). Conclusão: Observamos significativas diferenças entre pacientes tratados em hospitais públicos ou privados no Brasil. A pior condição clínica do paciente e a falta de acesso a exames laboratoriais essenciais e a terapias adequadas podem explicar o pior desfecho de pacientes tratados em instituições públicas no Brasil.
Introdução: A Leucemia Linfocítica Crônica (LLC) ocorre tipicamente em pacientes idosos e apresenta grande variabilidade na apresentação clínica. É importante entender os aspectos que influenciam os desfechos da LLC no mundo real. Além de fatores biológicos, fatores socioeconômicos e de sistemas de saúde podem influenciar o curso clínico da LLC. Nesse sentido, dados do Registro Brasileiro de LLC foram analisados para comparar características clínicas e relacionadas a tratamento em pacientes com LLC em seguimento em hospitais públicos ou privados no Brasil. Objetivo: Comparar as características clínicas, laboratoriais e os desfechos de pacientes com LLC em seguimento em hospitais públicos ou privados no Brasil. Métodos: O Registro Brasileiro de LLC começou em 2004 como uma ferramenta de coleta de dados prospectivo e não-intervencionista. Para essa análise, nós incluímos todos os pacientes com o mínimo de dados disponíveis para analisar as características do paciente,da doença e da sobrevida global. Resultados/discussão: De janeiro de 2004 a agosto de 2020, 3053 pacientes de 37 centros preencheram os critérios de elegibilidade: 2449 (80%) eram acompanhados em hospitais públicos e 604 (20%) em hospitais privados. A maioria era do sexo masculino (57%), com mediana de idade de 66 anos (variando de 23 a 106). O estadiamento Binet ao diagnóstico era A em 1678 pacientes (58%), B em 652 (23%) e C em 540 (19%). FISH para del(17p) foi realizada em apenas 486 pacientes (16%), enquanto FISH para as aberrações mais comuns [del(13q), +12, del(11q), e del(17p)] foi realizada em 446 pacientes (15%). O estado mutacional do IGHV foi realizado em apenas 214 pacientes (7%), e o cariótipo em apenas 173 pacientes (6%).Comparando hospitais públicos e privados, pacientes em hospitais públicos são mais idosos (mediana de idade de 66 anos vs. 63 anos para hospitais privados, P<0,0001), tem estadiamento clínico mais avançado ao diagnóstico (Binet B ou C foi em 44% em hospitais públicos vs. 33% em hospitais privados, P<0,0001), e maior frequência de creatinina elevada (18% vs. 10%, P<0,0001). Todos os marcadores prognósticos estavam mais disponíveis em hospitais privados do que públicos: FISH para del17p (42% vs. 10%, respectivamente P<0,0001), estado mutacional do IGHV (13% vs. 6%, respectivamente, P<0,0001) e cariótipo (16% vs. 3%, respectivamente, P<0,0001). A frequência de FISH positivo para a del(17p) foi similar entre hospitais públicos e privados (11% vs.9%, P=0,65), assim como a frequência de IGHV não-mutado (60% privados vs. 49% públicos, P=0,12). Analisando 1080 pacientes que foram tratados após 2008, o tratamento foi realizado após uma mediana de seguimento de 6 meses (intervalo: 0-290) após o diagnóstico. A primeira linha de tratamento foi baseada em clorambucil em 43% dos casos e em fludarabina em 39%. Anticorpo monoclonal anti-CD20 foi usado em apenas 35% dos casos (rituximabe em 32% e obinutuzumabe em 3%). Novos agentes (ibrutinibe, venetoclax ou acalabrutinibe) foram usados em primeira linha em apenas 23 pacientes (2%), sendo 19 desses no contexto de estudo clínico. Em hospitais públicos significativamente menos pacientes receberam regimes baseados em fludarabina (36% vs. 52% em hospitais privados, P<0,0001), e regimes contendo anticorpos monoclonais anti-CD20 (26% vs. 75%, respectivamente, P<0,0001). A sobrevida global em 7 anos foi significativamente pior entre pacientes acompanhados em hospitais públicos do que nos privados (68% vs. 92%, respectivamente, P<0.0001). Após análise multivariada, a sobrevida de pacientes em hospitais públicos permaneceu significativamente menor (razão de risco – hazard ratio HR 2,88, 95% intervalo de confiança 1,59 – 5,24), após correção para idade, estadiamento de Binet e beta-2-microglobulina elevada. A sobrevida livre de tratamento em 7 anos também foi significativamente pior em hospitais públicos do que em privados (30% vs. 48%, respectivamente, P<0,0001). Entretanto, essa diferença não permaneceu significativa após corrigirmos para estadiamento de Binet e beta-2-microglobulina elevada em análise multivariada (HR 0,91, IC95% 0,50- 1,66, P=0,76). Conclusão: Observamos significativas diferenças entre pacientes tratados em hospitais públicos ou privados no Brasil. A pior condição clínica do paciente e a falta de acesso a exames laboratoriais essenciais e a terapias adequadas podem explicar o pior desfecho de pacientes tratados em instituições públicas no Brasil.