Paulo Freire: 100 anos de práxis libertadora : volume I
Data
2022
Tipo
Livro
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Resumo
Este livro é o primeiro dos dois volumes que realizam o registro e
a memória das narrativas contadas na série de eventos organizados na
UNIFESP durante o ano de centenário de Paulo Freire, um dos maiores
filósofos da educação e, assim, as escritas se configuram como prova que em
tempos de retrocesso político e social, a agência e o trabalho transformador de educadores e pensadores que se inspiram na práxis libertadora de
Paulo Freire continuam vibrantes e radiantes. A multiplicidade das áreas de
conhecimento que renovam, atualizam e reinventam o pensamento freiriano
e a diversidade de possibilidades que esta compreensão da pedagogia crítica
promove, surgem nos textos que fazem parte deste volume.
Os capítulos, organizados em seções, conversam intensamente entre
si e delineiam a diversidade de sujeitos e grupos que participaram de
sua produção, resultado das contribuições realizadas em Conferências,
Mesas-Redondas, Experiências Culturais, Círculos de Cultura, Ciclos de
Debate e Café com Paulo Freire no cenário do evento “Paulo Freire: 100 anos
de práxis libertadora”.
Na abertura, Betania Libanio Dantas de Araujo, Célia Regina Batista
Serrão, Letícia Coelho Squeff e Rosângela Dantas de Oliveira retomam o
processo de criação do selo, criado para marcar a identidade das comemorações do evento “Paulo Freire: 100 anos de práxis libertadora”, organizado ao longo deste ano do centenário de Paulo Freire na EFLCH. Na primeira
seção “Práxis libertadora na e pela educação de jovens e adultos”, Júlio César
Zorzenon Costa abre as discussões com o artigo Paulo Freire e a educação de
Adultos no debate sobre as características do desenvolvimentismo na virada dos anos
1950-1960 que discute uma proposta freiriana de alfabetização que busca
superar a dependência da visão estrangeira sobre a cultura e a educação
brasileiras e procura uma forma de conhecimento adequada às necessidades
do povo brasileiro visando estabelecer, também, uma aliança entre artistas,
intelectuais e trabalhadores nos programas de alfabetização. No segundo
capítulo desta seção, Do Stripp-filmes aos podcasts: tecnologias na EJA com Paulo
Freire, Jarina Rodrigues Fernandes, Cleide Maria dos Santos Muñoz, Mariah
Cruz de Souza Tronco e Nara Venâncio Rossi refletem sobre a tríade Tecnologia, Sociedade e Educação e relatam o trabalho desenvolvido para que aqueles
que “já vivenciaram processos de exclusão na escola e teimosos retornam para
estudar e se empoderar através de sua palavra, ocupando assim os espaços da
sociedade em rede e aprendendo a ler o mundo conectado, também”.
Na segunda seção, “Práxis libertadora na e pela escola pública”, Ozani
Martiniano de Souza investiga a Contemporaneidade do legado de Paulo Freire no
contexto de uma ofensiva conservadora da educação no Brasil através da chave da
crise da democracia e da educação do Estado brasileiro e critica “os projetos
de formação de uma sociedade disciplinarizada e subordinada a urgência do
tempo e a expectativa do mercado”. No segundo capítulo desta seção, Olgair
Gomes Garcia discute a formação do educador que privilegia a reflexão e análise
da prática e não simplesmente o estudo de abordagens teóricas que devem ser
colocadas em prática. O artigo intitulado Artimanhas da exclusão no cotidiano da
educação escolar: o PROVE e a inspiração de Paulo Freire como alternativas para uma
reflexão sobre a questão defende a formação continuada proposta pelo PROVE e
“um formar que se forma e se reforma e que toma forma a cada encontro”.
O artigo Extensão como prática de liberdade de João Tristan Vargas começa
a próxima seção do livro, “Práxis libertadora na e pela extensão universitária”, apontando iniciativas de projetos e programas de extensão universitária que incluem “iniciativas nos campos da educação, de ativismo cultural,
de promoção social e de formas de relacionamento sustentáveis entre as
atividades humanas e os ambientes naturais”. No segundo capítulo desta
seção, Memórias e Vivências de Educação Popular em Santos/SP: o projeto “Cultura
da Palavra e Saúde Mental” da Universidade Federal de São Paulo, Fabrício Gobetti
Leonardi, Ana Paula Vicente de Oliveira, Beatriz Ferreira Pontes, Leticia
Martins dos Santos Quinta, Maria Luisa de Lima e Silva e Thaynara Leandro dos Reis relatam a importância da emergência dos afetos cotidianos, a
necessidade de apreciação dos momentos musicais, o valor dos vínculos
criados na confecção de uma colcha de retalhos a várias mãos e a relevância
das trocas de saberes. No capítulo Em meio ao caos a esperança: um relato sobre
o processo de construção do projeto de extensão Vozes das crianças, adolescentes e
jovens: educação em direitos humanos, Juliana Fracaro da Silva destaca percursos educativos que permitem que as crianças e adolescentes se reconheçam
como sujeitos fazedores de sua história e protagonistas na transformação
de sua sociedade. No último capítulo desta seção, Cursinho Popular CIUNI –
Relato de experiência do campus Diadema, Cristiane Gonçalves da Silva, Erika
Rosany de Almeida Lima, Nani Junilia de Lima, Romilda Fernández-Felisbino
e Suelen Mirota da Silva destacam o papel das universidades no combate
das desigualdades sociais, especialmente através dos cursos pré-vestibulares
comunitários, e fazem relatos comoventes dos seis anos de atuação do CIUNI.
A seção do livro, “Práxis libertadora na e pela afirmação dos direitos
humanos”, inicia com o capítulo de João Pedro Innecco Eu que nasci homem e
me tornei mulher: a autoria LGBTQIAP+ no cárcere que relata o trabalho que o
autor desenvolveu com pessoas LGBTQIAP+ encarceradas para promover a
apropriação da linguagem poética pelos participantes. No segundo capítulo
desta seção, Reinventando Paulo Freire junto às artes do corpo, Rosana Nogueira
Pinto revela que o pensamento de Paulo Freire não pode ser limitado nas
instituições escolares e deve contribuir com as reflexões sobre a dramaturgia do corpo e a dramaturgia da mente levando as dançarinas a se escutarem, prática que não é comum nas atuações artísticas do dia-dia. O próximo
capítulo, Por uma pedagogia da sustentabilidade: para superar o autointeresse e
intensificar a cooperação social de Flávio Tayra, reflete sobre uma pedagogia da ou para uma sustentabilidade não somente antropocêntrica capaz
de nos levar a repensar nosso papel como cidadãos criando novas práticas,
atitudes e comportamentos, para a construção de novos valores e de uma
sociedade sustentável. No último capítulo desta seção, A biblioteca popular
Paulo Freire em defesa de seu legado em tempos de retrocessos, Rosa Maria Alves
do Nascimento, Sara Alves Bezerra e Tiago Alves do Nascimento fazem um
balanço da existência há mais de 2 anos da biblioteca Paulo Freire Jardim
Oratório, um espaço onde emergem a sabedoria popular, as manifestações
autênticas da cultura do povo e a memória de suas lutas.
Na próxima seção do livro intitulada “Práxis libertadora no mundo e
com o mundo”, no capítulo A Educação como prática da liberdade: Pensando-
-falando com Paulo Freire hoje, traduzido por Rosângela Dantas de Oliveira, Catherine Walsh dialoga com Paulo Freire, sobre uma práxis educativa
estratégica, desobediente, rebelde, criativa e insurgente, em três movimentos reflexivos: Com-vivendo e caminhando, Entrelaçando tempos e Causando
rupturas e fissuras. O segundo capítulo, Com-vivências: um convite de Adriano
Salmar Nogueira e Taveira, traz as memórias do autor de momentos de
com-vivência e aprendizagem junto com o Paulo Freire e ressalta a influência deste grande educador na formação docente. Em seguida vem o capítulo
de Peter Mayo, Antonio Gramsci e Paulo Freire, traduzido da língua inglesa
por Priscila Nascimento Pires e Carlos Eduardo Oliveira Gonçalves. O autor
argumenta que as ideias de Paulo Freire e Antonio Gramsci se relacionam,
pois são baseadas nas teorias marxistas dando ênfase, também, no papel
das condições econômicas nos processos de mudança social e dialogam
ainda nas perspectivas no campo da educação que procuram aliar ativismo
político e mobilização com um importante trabalho educacional e cultural.
O quarto texto desta seção, Paulo Freire, Gramsci e Vygotsky: três comunistas
interessantes, de autoria de Lisete Arelaro,1
comentadora da “Mesa Redonda:
Diálogos”, que promoveu uma conversa entre os estudiosos Peter Mayo e
Peter Jones, delineia as confluências no pensamento dos três teóricos tanto
na busca da justiça social através do direito de todos/as à educação quanto na
importância da práxis na conscientização de homens e mulheres. O capítulo
de Wagner Hosokawa, A contribuição teórico política de Gramsci e Paulo Freire e
a questão da centralidade da formação político pedagógica exercida pelos Movimentos Populares e Sociais destaca a relevância dos movimentos populares e sociais
no Brasil que têm em Gramsci e Freire duas referências que influenciam os
projetos político pedagógicos e a formação política dos movimentos populares e sociais para transformação e libertação da sociedade.
A sexta parte do livro reúne os textos dos discursos que foram proferidos
por autoridades da Unifesp por ocasião da Mesa de abertura: Paulo Freire:100
anos de práxis libertadora que, ao reconhecerem a legitimidade de se organizar e desenvolver um evento em comemoração ao seu centenário, expõem
o quanto o legado de Paulo Freire entranhou-se e se faz presente na gestão
universitária da instituição. Nessa direção, o texto Paulo Freire nos conduzirá aos
caminhos da reconstrução no pós pandemia, Soraya Shobi Smaili, ao confirmar
que a obra do educador pode conduzir a diferentes caminhos e apresentar
soluções, mesmo em situações bastante complexas como as que enfrentamos atualmente, reitera a sua influência nas mais diversas áreas em que a Unifesp passou a atuar, após sua expansão, seja nos cursos de licenciatura, nas
pesquisas e na pós graduação, ou nas atividades de extensão e reafirma que
ao cultivar o pensamento crítico e a formação plena, conforme Paulo Freire
sempre defendeu, as universidades públicas representam a mudança e a
esperança. Em seguida, no texto A relevância do pensamento freireano, Lia Rita
Azeredo Bittencourt, chama à atenção para a necessidade de comemorarmos
a vitória da democracia, tema tão caro à Paulo Freire, pela recente nomeação
do reitor eleito. Tece considerações sobre o legado de Paulo Freire ser “um farol”
que orienta os processos educativos ao colocar o educando como sua finalidade
principal. O terceiro texto, A leitura do mundo, de Bruno Konder Comparato,
explica que, por defender que a alfabetização e a prática da leitura são formas
de desenvolver a compreensão do mundo e a autonomia de pensamento, Paulo
Freire, durante a ditadura militar, foi cassado e exilado, por ter sido considerado pelo regime militar como um “perigoso subversivo internacional”. O
autor, apoiado pelos escritos de Rancière e bell hooks, reafirma os caminhos
da leitura da palavra e da leitura do mundo em seu caráter transformador do
pensamento crítico e emancipador dos indivíduos. O último texto, Paulo Freire:
100 anos de práxis libertadora, de Magali Aparecida Silvestre, descreve como o
evento foi concebido e organizado e exalta a necessidade de se comemorar os
100 anos de existência de Paulo Freire, principalmente numa época em que
enfrentamos inúmeros retrocessos. Assim, o texto expõe a ideia de que essa
comemoração “é um ato de resistência, de insubordinação e de esperança, próprios
para uma universidade pública que defende e produz cotidianamente o pensamento
crítico e a problematização da realidade para que os sujeitos que por ela passam atuem
de fato para desenvolver uma práxis libertadora.”
A sétima seção do livro expõe a programação do evento ao reunir o
conjunto de atividades que foram desenvolvidas ao longo do ano de 2021.
A oitava seção, que encerra a obra, exalta os agradecimentos da comissão
organizadora a todos aqueles e a todas aquelas que, generosamente, colaboraram dando o apoio necessário e fundamental para que acontecesse o projeto
“Paulo Freire: 100 anos de práxis libertadora”, que representa “uma verdadeira
experiência de atuação coletiva que a educação libertadora sempre nos ensina”