Estudo acerca das relações de gênero e suas repercussões sobre o trabalho docente na Rede municipal de ensino de São Paulo
Data
2020-09-30
Tipo
Dissertação de mestrado
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Resumo
The theme of this research is part of the debate on teaching working conditions, with a focus on gender issues, in order to understand the repercussions of gender relations on the work of teachers of the final years of elementary school in the municipal public system of São Paulo. Analyzing the history of women in education, it is possible to verify that their access to schooling was belatedly allowed and the education for them was different comparing to what was offered to men. It can be seen that the feminization of teaching occurred at the same time that teaching work became more precarious and devalued. It is understood that, in a patriarchal society, women's work is considered with lower value and prestige. Thus, the school as a replicator of social inequalities is an environment where sexist practices are reproduced and, often, normalized. Based on the above consideration, the concept of historical materialism is adopted as an investigative approach and the following research question is presented: do gender issues existing inside and outside school affect the relationships in the school environment and teacher’s work, and can they even promote differences in the nature and division of duties between male and female teachers? A quantitative research will purview the following objective: i) to verify whether sex interferes in schooling and teaching functions; besides, from a qualitative perspective, the research aims to investigate: ii) whether gender relations outside school cause effects on teaching work, iii) whether gender inequalities imply an overload of tasks for female teachers, iv) whether precarious working conditions affect more female than male teachers and v) the representations of female teachers about gender roles and stereotypes in their work. For that purpose, it was carried out a quantitative research about the public school servants through the analysis of data provided by the São Paulo Municipal Department of Education, and a field research, with semi-structured interviews with teachers, coordinators and principal of two elementary schools of the municipal school system of São Paulo. The main authors supporting the analyzes as a theoretical framework are Joan Scott, Heleieth Saffioti and José Contreras, in addition to contributions from other researchers, such as Dalila Oliveira and Michael Apple. From the analysis made, it can be seen that teachers are subjected to precarious working conditions, such as loss of autonomy, overload of tasks and low salaries. It was also noticed that gender relations mark the teaching work in schools, with women and girls being more exposed to situations of harassment and discrimination. It can also be observed that most women have a lato sensu postgraduation grade due to the fact that this training is, most of the time, distance learning, allowing flexibility of time dedicated to study. It can be noted that women, especially when they are black, face more difficulties to study and, mainly, to participate in training outside the São Paulo municipal education network, due to the accumulation of working hours and domestic tasks. As a result, women are less likely to grown in their careers, to increase their salaries and to access management positions. Nonetheless, racism is also prominent in the school's daily life. Therefore, gender and race issues must be debated both during teacher training and in basic education classes.
A temática desta pesquisa se insere no debate sobre as condições de trabalho docente, com foco em questões de gênero, a fim de compreender as repercussões de relações de gênero sobre o trabalho de professoras dos anos finais do ensino fundamental na rede pública municipal de São Paulo. Analisando a história das mulheres na educação, constata-se que o acesso destas à escolarização foi permitido tardiamente e a educação destinada a elas era diferenciada da oferecida aos homens. Pode-se perceber que a feminização do magistério ocorreu ao mesmo tempo em que o trabalho docente se tornou mais precarizado e desvalorizado. Parte-se do entendimento que, em uma sociedade patriarcal, o trabalho feminino é considerado de menor valor e prestígio. Sendo assim, a escola como reprodutora das desigualdades sociais é um ambiente onde práticas machistas e sexistas são reproduzidas e, muitas vezes, naturalizadas. Diante do exposto, adota-se a concepção do materialismo histórico, como abordagem investigativa, e apresenta-se a seguinte questão de pesquisa: as questões de gênero, existentes dentro e fora da escola, afetam as relações que ocorrem no ambiente escolar e o trabalho docente, podendo, inclusive, promover diferenças na natureza e divisão de atribuições entre professoras e professores? Dentre os objetivos, pretende-se i) verificar, por meio de pesquisa quantitativa, se o sexo interfere na escolarização e função docente; por meio de pesquisa qualitativa investigar: ii) se as relações de gênero existentes fora da escola provocam efeitos sobre o trabalho docente, iii) se as desigualdades de gênero implicam em sobrecarga de tarefas para professoras, iv) se a precarização das condições de trabalho afeta mais as professoras do que os professores e v) as representações das professoras acerca de papéis e estereótipos de gênero em seu trabalho. Para tanto foi realizada pesquisa quantitativa, com análise de dados sobre servidoras (es), fornecidos pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, e pesquisa de campo, com entrevistas semiestruturadas com professoras (es), coordenadoras e diretor em duas escolas de ensino fundamental da rede pública municipal de São Paulo. As (os) principais autoras (es) que darão suporte para as análises como referencial teórico são Joan Scott, Heleieth Saffioti e José Contreras, além de contribuições de outras (os) pesquisadoras (es), como Dalila Oliveira e Michael Apple. A partir de análises feitas, pode-se constatar que professoras (es) estão sujeitas (os) à precarização das condições de trabalho, como perda de autonomia, sobrecarga de tarefas e baixos salários. Também se percebeu que as relações de gênero marcam o trabalho docente nas escolas, estando as mulheres e meninas mais expostas a situações de assédio e discriminação. Ainda pôde-se observar que a maior parte das mulheres possui pós-graduação lato sensu devido ao fato desta formação ser, em grande parte, a distância, permitindo flexibilidade de tempo de dedicação ao estudo. Pode-se notar que as mulheres enfrentam mais obstáculos para estudar, sobretudo mulheres negras, principalmente para realizar formações fora da rede em que atuam, devido ao acúmulo de jornadas de trabalho e tarefas domésticas. Em consequência, as mulheres têm menos possibilidade de movimentação na carreira, de ampliar seus salários e acessar cargos na gestão. Não obstante, o racismo também é marcante no cotidiano da escola. Portanto, as questões de gênero e raça devem ser debatidas tanto nos momentos de formação docente quanto nas aulas da educação básica.
A temática desta pesquisa se insere no debate sobre as condições de trabalho docente, com foco em questões de gênero, a fim de compreender as repercussões de relações de gênero sobre o trabalho de professoras dos anos finais do ensino fundamental na rede pública municipal de São Paulo. Analisando a história das mulheres na educação, constata-se que o acesso destas à escolarização foi permitido tardiamente e a educação destinada a elas era diferenciada da oferecida aos homens. Pode-se perceber que a feminização do magistério ocorreu ao mesmo tempo em que o trabalho docente se tornou mais precarizado e desvalorizado. Parte-se do entendimento que, em uma sociedade patriarcal, o trabalho feminino é considerado de menor valor e prestígio. Sendo assim, a escola como reprodutora das desigualdades sociais é um ambiente onde práticas machistas e sexistas são reproduzidas e, muitas vezes, naturalizadas. Diante do exposto, adota-se a concepção do materialismo histórico, como abordagem investigativa, e apresenta-se a seguinte questão de pesquisa: as questões de gênero, existentes dentro e fora da escola, afetam as relações que ocorrem no ambiente escolar e o trabalho docente, podendo, inclusive, promover diferenças na natureza e divisão de atribuições entre professoras e professores? Dentre os objetivos, pretende-se i) verificar, por meio de pesquisa quantitativa, se o sexo interfere na escolarização e função docente; por meio de pesquisa qualitativa investigar: ii) se as relações de gênero existentes fora da escola provocam efeitos sobre o trabalho docente, iii) se as desigualdades de gênero implicam em sobrecarga de tarefas para professoras, iv) se a precarização das condições de trabalho afeta mais as professoras do que os professores e v) as representações das professoras acerca de papéis e estereótipos de gênero em seu trabalho. Para tanto foi realizada pesquisa quantitativa, com análise de dados sobre servidoras (es), fornecidos pela Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, e pesquisa de campo, com entrevistas semiestruturadas com professoras (es), coordenadoras e diretor em duas escolas de ensino fundamental da rede pública municipal de São Paulo. As (os) principais autoras (es) que darão suporte para as análises como referencial teórico são Joan Scott, Heleieth Saffioti e José Contreras, além de contribuições de outras (os) pesquisadoras (es), como Dalila Oliveira e Michael Apple. A partir de análises feitas, pode-se constatar que professoras (es) estão sujeitas (os) à precarização das condições de trabalho, como perda de autonomia, sobrecarga de tarefas e baixos salários. Também se percebeu que as relações de gênero marcam o trabalho docente nas escolas, estando as mulheres e meninas mais expostas a situações de assédio e discriminação. Ainda pôde-se observar que a maior parte das mulheres possui pós-graduação lato sensu devido ao fato desta formação ser, em grande parte, a distância, permitindo flexibilidade de tempo de dedicação ao estudo. Pode-se notar que as mulheres enfrentam mais obstáculos para estudar, sobretudo mulheres negras, principalmente para realizar formações fora da rede em que atuam, devido ao acúmulo de jornadas de trabalho e tarefas domésticas. Em consequência, as mulheres têm menos possibilidade de movimentação na carreira, de ampliar seus salários e acessar cargos na gestão. Não obstante, o racismo também é marcante no cotidiano da escola. Portanto, as questões de gênero e raça devem ser debatidas tanto nos momentos de formação docente quanto nas aulas da educação básica.