“Não há parte de mim que não seja dos deuses”: a construção do corpo na Missa Gnóstica thelêmica

Data
2022-11-04
Tipo
Dissertação de mestrado
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Resumo
A presente dissertação tem como objetivo compreender a maneira pela qual o corpo é construído mediante o ritual nas práticas mágicas da Nova Era a partir do caso da Missa Gnóstica, que é um dos principais rituais de Thelema, sistema mágico-religioso desenvolvido por Aleister Crowley (1875-1947) na Inglaterra no começo do século XX. A Missa Gnóstica consiste, em linhas gerais, de uma Eucaristia que encena a união místico-sexual dos princípios feminino e masculino do Universo para a criação de uma criança mágica, esta portadora dos ideais de uma nova era. O rito se utiliza dos estados alterados de consciência e de uma linguagem altamente sexualizada a fim de atingir sua eficácia no plano simbólico e prático. Este estudo tem a hipótese de que o aparato mítico-ritual, por meio dos estados alterados de consciência, produz um idioma simbólico e um “fazer ativo” capaz de resgatar uma presença, um “estar aí” em crise, este promovido pela falta de sentido da vida para a burguesia, causada pela modernidade. Tem-se como tese que a Missa Gnóstica thelêmica, através de sua linguagem sexualizada e de um estado alterado de consciência coletivo, provoca a crise de presença ao encenar dada situação que emula tal crise através de “sintomas” diversos, mas, ao mesmo tempo, oferece um regime protegido através do dispositivo mítico-ritual, que permite que esse “ser aí” seja resgatado através de valores outros, estes compartilhados pela comunidade thelêmica e que dotariam a vida de sentido – os valores da nova era -, além de abrirem espaço para uma corporalidade thelêmica, uma forma particular de construção do corpo, do Eu.
This dissertation aims to understand the way in which the body is constructed through ritual in New Age magical practices based on the case of the Gnostic Mass, which is one of the main rituals of Thelema, a magical-religious system developed by Aleister Crowley (1875-1947) in England in the early 20th century. The Gnostic Mass consists, in general, of a Eucharist that enacts the mystic-sexual union of the feminine and masculine principles of the Universe for the creation of a magical child, this one bearer of the ideals of a new era. The rite makes use of altered states of consciousness and a highly sexualized language in order to achieve its effectiveness on a symbolic and practical level. This study has the hypothesis that the mythical-ritual apparatus, through altered states of consciousness, produces a symbolic language and an "active doing" capable of rescuing a presence, a "being there" in crisis, this promoted by the lack of meaning of life for the bourgeoisie, caused by modernity. The thesis is that the Thelemic Gnostic Mass, through its sexualized language and an altered state of consciousness that is collective, provokes a crisis of presence by enacting a given situation that emulates such a crisis through diverse “symptoms”, but, at the same time, offers a protected regime through the mythical-ritual device, which allows this “being there” to be rescued through other values, these shared by the thelemic community and which would endow life with meaning - the values of the new era -, in addition to opening up space for a thelemic corporeality, a particular form of construction of the body, of the Self.
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