Estigma Internalizado entre dependentes de álcool e crack em tratamento no Brasil

Data
2014-07-30
Tipo
Tese de doutorado
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Resumo
Drug dependence is considered one of the most stigmatizing health conditions. Growing evidences have shown that stigma is associated with different impairments to stigmatized individuals. In order to widen the knowledge on the theme, the current study was organized in three different studies. Study 1 aimed to review the scientific literature in the studied field. Searches were done in sources such as Psycinfo, Pubmed, web of Knowledge and Scopus, using the keywords “self-stigma” and “internalized stigma”. It was observed the increase in the amount of publications since the first publication in 2003. The studies revealed socio-demographic (gender, age, employment, school level and family income) and psycho-social (assigning responsibility, angst and perception of devaluation) features associated with internalized stigma. Among the consequences of internalized stigma, the following psychological implications were observed: low willingness to search for help, adoption of healthy behaviors, low adhesion to treatment, worsening of symptoms, low quality of life, expectation over rejection, discrimination, isolation and social avoidance. In regards to coping strategies, cognitive restructuration, empowerment, larger social contact, attitude changing as well as the sense of belonging to a group were stood as effective means to avoid stigma internalization or a way to face it. Study 2 aimed to assess the relation between internalized stigma and psycho-social features. The used instruments were: (a) ISMI adapted for Substance Dependents; (b) MINI; (c) CES-D; (d) Herth Hope Scale (HHS) and (e) Rosenberg Self-esteem Scale. The sample comprised 461 substance dependents that had looked for treatment. Among the sample members, 35.8% just used alcohol, 33.6% alcohol and crack and 30.6% crack. The associations among variables were analyzed by means of multiple linear regression, adopting internalized stigma as outcome variable and the other explanatory variables were organized into three blocks (socio-demographic, psycho-social and type of dependence). The socio-demographic model presented adequate data adjustments and explained about 4% of the variance in ISMI scores, but only gender, kind of used drug and the status of employment have significantly helped the explanation. The psychological model explained 31% of the variance. The third model held all the variables and explained 34% of the variances. Self-esteem, hope, depression and occupational status were strongly associated with the internalized stigma. Study 3 aimed to study the internalized stigma and other psycho-social aspects throughout the first month of treatment among crack dependents. The following instruments were used: (a) ISMI adapted to Substance Dependents; (b) MINI; (c) CES-D; (d) Herth Hope Scale (HHS); (e) Rosenberg self-esteem Scale; (f) Social Support; and (g) Socio-demographic questionnaire. The sample comprised 114 crack dependents who joined a treatment service and, after a month, patients who were still undergoing treatment (N=29) were interviewed again. The comparison between answers from before and after 30 days treatment showed that there was a decrease on depression symptoms and an increase on hope. No statistically significant differences were verified for all the studied variables among patients who had abandoned treatment when compared to those who had acceded to it. Differently from what was expected, internalized stigma was not an abandonment predictor. Based on the performed studies, it was possible to observe that internalized stigma among substance dependents is associated with a complexity of psycho-social factors. Stigma was not configured as abandonment predictor in the first month of treatment for crack dependents. However, literature data point towards other significant impairments for these individuals, mainly as an obstacle in treatment previous stages, thus deserving attention on further studies in drug dependence fields.
A dependência de drogas é considerada uma das condições de saúde mais estigmatizantes. Crescentes evidências têm apontado que o estigma está associado a diversos prejuízos aos indivíduos estigmatizados. Para ampliar o conhecimento sobre o tema, o presente estudo organizou-se em três estudos. O Estudo 1 teve por objetivo revisar a literatura científica na área. Buscas foram realizadas nas bases Psycinfo, Pubmed, Web of Knowledge e Scopus com as palavras-chave “self-stigma” e “internalized stigma” Observou-se crescimento de publicações, desde a primeira publicação, em 2003. Os estudos revelaram características sociodemográficas (gênero, idade, emprego, escolaridade e renda) e psicossociais (atribuição de responsabilidade, angústia e percepção da desvalorização) associadas ao estigma internalizado. Entre as consequências do estigma internalizado observaram-se implicações psicológicas, menor disposição para buscar ajuda, adotar comportamentos saudáveis, baixa adesão ao tratamento, agravamento de sintomas, baixa qualidade de vida, expectativas de rejeição, discriminação, isolamento e evitação social. Com relação às estratégias de enfrentamento, a reestruturação cognitiva, empoderamento, maior contato social, a mudança de atitudes e o pertencimento ao grupo, foram apontados como meios eficientes de evitar a internalização do estigma ou de enfrentá-lo. O Estudo 2 teve por objetivo avaliar a relação entre o estigma internalizado e características psicossociais. Os instrumentos utilizados foram: (a) ISMI adaptada para Dependentes de Substâncias; (b) MINI; (c) CES-D; (d) A Escala de Esperança de Herth (EEH) (e) Escala de Autoestima de Rosenberg. A amostra foi composta por 461 dependentes de substâncias que procuraram tratamento, sendo 35,8% usavam apenas álcool, 33,6% álcool e crack e 30,6% crack. As associações entre variáveis foram analisadas por regressão linear múltipla, adotando o estigma internalizado como variável desfecho e as demais variáveis explicativas organizadas em três blocos (sociodemográficas, psicossociais e tipo de dependência). O modelo sociodemográfico apresentou ajuste adequado aos dados, explicando cerca de 4% da variância dos escores da ISMI, mas apenas o sexo, tipo de droga utilizada e o status de emprego contribuíram significativamente para a explicação. O modelo psicológico explicou 31% da variância. O terceiro modelo composto por todas as variáveis explicou 34% da variância, sendo a autoestima, esperança, depressão e status ocupacional significativamente associadas ao estigma internalizado. O Estudo 3 teve por objetivo estudar o estigma internalizado e outros aspectos psicossociais ao longo do primeiro mês de tratamento de entre dependentes de crack. Utilizaram-se os seguintes instrumentos: (a) ISMI adaptada para Dependentes de Substâncias; (b) MINI; (c) CES-D; (d) A Escala de Esperança de Herth (EEH) (e) Escala de Autoestima de Rosenberg; (f) Suporte Social; e (g) Questionário sociodemográfico. A amostra foi composta por 114 dependentes de crack que deram entrada em um serviço de tratamento e, após um mês, os pacientes que ainda estavam em tratamento (N = 29) foram reentrevistados. Na comparação entre antes e após um mês de tratamento, verificou-se que houve uma diminuição dos sintomas de depressão, bem, como aumento da esperança. Para todas as variáveis estudadas, não foram observadas diferenças estatisticamente significantes entre os pacientes que abandonaram comparados aos que aderiram ao tratamento. Diferente do que era esperado, o estigma internalizado não foi preditor de abandono. A partir dos estudos realizados, foi possível observar que o estigma internalizado, entre dependentes de substâncias, está associado a uma complexidade de fatores psicossociais. O estigma não se configurou como preditor de abandono no 1º mês de tratamento para dependentes de crack, porém, os dados da literatura apontam para outros prejuízos significativos para esses indivíduos, especialmente como obstáculo em etapas anteriores ao início do tratamento, merecendo atenção de estudos futuros na área de dependência de drogas.
Descrição
Citação
SILVEIRA, Pollyanna Santos da. Estigma Internalizado entre dependentes de álcool e crack em tratamento no Brasil. 2014. 177 f. Tese (Doutorado) - Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, 2014.
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