Crianças: um olhar diferente sobre a epidemia de aids

Nenhuma Miniatura disponível
Data
2006
Autores
Succi, Regina Célia de Menezes [UNIFESP]
Orientadores
Tipo
Tese de livre-docência
Título da Revista
ISSN da Revista
Título de Volume
Resumo
Os primeiros 25 anos de história da AIDS mostraram ao mundo a possibilidade de desvendar mistérios científicos em curto período de tempo, permitindo minimizar os sofrimentos e oferecer aos pacientes uma melhora significante da qualidade de vida. No início da epidemia, exercíamos a função de expectadores, tentando apenas minimizar o sofrimento e conduzindo a criança a uma morte digna. Hoje as ensinamos a conviver com uma doença crônica e com as suas conseqüências. Algumas frases do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, ainda são válidas nos dias de hoje e podem servir de paradigma para quem deseja continuar a batalha contra o HIV: É importante reduzir o vírus da AIDS à sua real dimensão: um desafio a ser vencido. É fundamental, portanto, reafirmar que esse vírus não é mortal. A idéia da morte inevitável paralisa; a idéia da vida mobiliza. Exercemos nesses 25 anos os três aspectos da carreira universitária: Assistência, Ensino e Pesquisa. No início da epidemia, todas as energias se concentravam na assistência e no aprendizado de uma nova doença: a surpresa das mortes precoces, a urgência em aprender a cuidar de crianças com uma doença que era diferente de tudo o que conhecíamos, a ausência de tratamento disponível, as dificuldades no diagnóstico. Com o início da assistência, além de aprendermos, também foi possível ensinar alunos de medicina e enfermagem, residentes, especializandos em Infectologia Pediátrica, pós-¬graduandos. Os problemas sociais, as dificuldades materiais, a falta de espaço, a falta de apresentação pediátrica dos medicamentos nos fizeram exercer a cidadania e o gasto de energia era dirigido principalmente para buscar melhores condições de vida para nossos pequenos pacientes e suas famílias. As parcerias dentro e fora da universidade foram importantes: trabalhamos com outros setores da DIPe (CRIE, Laboratório de Pesquisa), outras disciplinas e departamentos na UNIFESP (DIPA, Cardiologia, Nutrição, Neuropediatria, Obstetrícia, Fonoaudiologia, Oftalmologia, ORL, entre outras) e outras instituições (Hospital Escola Vila Nova Cachoeirinha, IMTIUSP). A pesquisa, e conseqüente publicação dos seus resultados, vieram posteriormente, como conseqüência da assistência e das parcerias, quando as condições de atendimento já eram mais favoráveis e principalmente após a criação do CEADIPe. Houve mais tempo para a busca de financiamentos e a produção científica aumentou. O resultado de tudo isso pode ser avaliado pelo número de orientações de alunos de iniciação científica, de graduação, de pós-graduação efetivamente finalizados, pelos resumos enviados a congressos nacionais e internacionais; pelos prêmios recebidos, pelo número de financiamentos obtidos, pelas publicações. Mas o grande ensinamento, resultante do atendimento dessas crianças é oriundo dos incontáveis exemplos de coragem e dedicação de anônimos heróis espalhados em cada parte do mundo. Confio ter conseguido transmitir a importância dessas ações para todos os que buscaram aprender a cuidar de crianças com AIDS na UNIFESP. Os sucessos científicos, sociais e as demonstrações individuais e coletivas de solidariedade me enchem de esperança e coragem para o longo caminho que ainda temos que trilhar. É possível que não seja para a minha geração, mas acredito que outras gerações de médicos virão para assistir com a AlDS, um dos marcos históricos que tive o privilégio de vivenciar com o sarampo, a meningite meningocócica, a varíola e a poliomielite. Olhar a epidemia através dos olhos das crianças tem enriquecido sobremaneira minha vida. Os muitos pequenos pacientes que se foram antes de aprendermos a controlar sua doença deixaram saudades e sensação de impotência. Os que hoje ainda nos acompanham nessa jornada e todos os que ainda virão, podem contar com uma certeza inabalável: continuaremos a buscar e divulgar conhecimento científico, que é uma função da Universidade, mas não nos furtaremos a olhá-los como crianças cidadãs e teremos sempre disponíveis, além do conhecimento técnico e científico, nossos ouvidos atentos às suas dores e segredos, nosso carinho, nosso abraço e nossa solidariedade
Descrição
Citação
São Paulo: [s.n.], 2006. 169 p.