Navegando por Palavras-chave "Participatory mapping"
Agora exibindo 1 - 1 de 1
Resultados por página
Opções de Ordenação
- ItemEmbargoPaisagem cultural e conservação de florestas na Terra Indígena Boa Vista do Sertão do Prumirim (Tekoa Jaexaá Porã)(Universidade Federal de São Paulo, 2024-02-16) Berte, Marccella Lopes [UNIFESP]; Vieira, Elisa Hardt Alves [UNIFESP]; Talebi, Mauricio Gomes [UNIFESP]; http://lattes.cnpq.br/8900428205538307; http://lattes.cnpq.br/1622817303276574; http://lattes.cnpq.br/5109478892294084A Terra Indígena Boa Vista do Sertão do Prumirim, ocupada pelos indígenas do povo Guarani Mbya é considerada uma área duplamente protegida e a mais eficaz na conservação da vegetação nativa em todo o território nacional. Os indígenas dessa comunidade são responsáveis por conservar 5.298 hectares de Floresta Atlântica o que representa 97% da cobertura da área atual. As atividades dos indígenas neste território envolvem o uso parcial dos recursos naturais, baseados na sua cosmovisão de conservação de florestas. Tal cosmovisão determina o uso e cobertura da terra, incluindo a construção de moradias em áreas de menor valor para a proteção da vegetação nativa. O objetivo deste estudo foi compreender relações entre cultura e natureza na área de estudo e construir e analisar expectativas de mudanças no uso e cobertura da terra. O método utilizado baseou-se em uma revisão bibliográfica sobre a área de estudo e um conjunto de ferramentas participativas para a construção de mapas em sistema de informação geográfica, cálculo e análise de métricas de ecologia de paisagem, comparando o cenário de expectativas com a o mapa recente. Os resultados mostram um cenário para os próximos 13 anos, baseado no desejo de ocupar áreas já "abertas", e demandas voltadas principalmente para a construção de moradias e espaços comunitários de lazer e práticas culturais, que representam menos de 1% da cobertura da terra. Embora não seja um conceito que exista na cultura Guarani Mbya, a área caracteriza-se como uma paisagem cultural, que se adapta ao contexto atual sem renunciar aos valores culturais de conservação de florestas. Os indígenas desejam restaurar áreas na zona que corresponde as áreas intocadas e guardadas por entidades sagradas. O cenário de expectativa prevê uma diminuição de apenas 0,08% de floresta, com aumento de 1,5 metros na distância entre os fragmentos florestais em 13 anos. Por outro lado, fica evidente que há uma manutenção da disponibilidade de recurso ótimo para a conservação da biodiversidade. As análises de ecologia de paisagem indicam que o cenário de expectativas dos indígenas nesta área de estudo segue um padrão de uso e ocupação atual, próprio dos Mbya, que se caracteriza pelo aldeamento em áreas de menor valor para a conservação e por estabelecer uma fronteira de amortecimento entre a ocupação humana e a floresta composta principalmente por sistemas agroflorestais que funcionam como uma zona de amortecimento para a floresta e ao mesmo tempo aumenta o bem-estar da população. A relação entre os indígenas e a natureza nesta localidade é baseada na sua cosmologia e é na própria cosmologia, nos conhecimentos tradicionais e no seu modo de organização social que se encontram os valores imateriais que conduzem a conservação da floresta. Este estudo trouxe aspectos metodológicos inovadores no mapeamento, com potencial contribuição para outras terras indígenas em contextos similares, especialmente aquelas em processo de demarcação. As métricas de paisagem, quando aplicadas à perspectiva de uma paisagem cultural, complementam a compreensão sobre os efeitos das dinâmicas espaço-temporais da paisagem. Porém, as métricas não são suficientes para compreender a complexidade desse tipo de paisagem, bem como mensurar os efeitos no bem-estar das populações que as constroem. Neste estudo de caso, a cosmologia Guarani Mbya emerge como uma inspiração para o planejamento de paisagens para a conservação da biodiversidade. Esta cosmologia tem resistido e conservado a Mata Atlântica.