Navegando por Palavras-chave "Ferenczi"
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- ItemAcesso aberto (Open Access)O sonhar dos jovens em situação de vulnerabilidade social no contexto político brasileiro contemporâneo(Universidade Federal de São Paulo, 2022-12-12) Granello, Caio Francisco Garrido [UNIFESP]; Garrido, Caio [UNIFESP]; Imbrizi, Jaquelina Maria [UNIFESP]; Ab'Sáber, Tales Afonso Muxfeldt; http://lattes.cnpq.br/0068191762253620; http://lattes.cnpq.br/8682215618761531; http://lattes.cnpq.br/0674882068812028; Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)O método psicanalítico de investigação do Inconsciente, e sua perspectiva clínica e de cuidado, tem na teoria do sonho o principal meio de acesso aos sentidos profundos dos indivíduos em determinada sociedade e tempo. À grande descoberta do Inconsciente se associou a invenção do método de interpretação dos sonhos, que de certa forma inaugura a potência da Psicanálise em 1900. Aqueles tempos de ciência positivista – ciência da qual Freud era tributário – apontavam para a promessa de um ser humano em busca de mais civilidade e ampliação de seus sentidos e colocação na cultura, esperando-se que pelo conhecimento científico e um crescente afastamento de um discurso religioso, o ser humano pudesse ficar dotado de mais domínio de suas faculdades, e de suas competências conciliadoras. Ao mesmo tempo em que Freud apontava que o Eu não era senhor em sua própria casa e já fizesse a crítica à ideia de progresso em seu clássico texto “O mal-estar na cultura”. O que se viu de lá para cá é a luta entre as pulsões de vida e de morte, com a ascensão da última. O propósito desta pesquisa foi coletar e investigar o que os jovens em situação de vulnerabilidade social – que frequentam o Cursinho Cardume do Campus Baixada Santista da Unifesp – têm sonhado (sonhos noturnos) e o concomitante potencial de elaboração psíquica em suas produções oníricas. Tivemos como objetivos nesta pesquisa os de observar a existência de sonhos que revelam elementos do contexto sociopolítico, averiguar se a perda da esperança está presente nos sonhos, investigar as funções do sonho, se seria a de manter o sujeito dormindo e realizando desejos e/ou se seria a de fazer o sonhante despertar para sua realidade socioeconômica e cultural. A escolha teórica para abordar os sonhos partiu da concepção freudiana, integrada às críticas e desenvolvimentos posteriores, dando voz aos analistas, intelectuais e teóricos, tais como Ferenczi, Lacan, Bion, Winnicott e Beradt, cujos pensamentos delinearam uma visão mais ampla e aprofundada do fenômeno onírico, em que a função passa a ter, além da realização de desejos, uma função restauradora do sujeito, permitindo um melhor uso dos sonhos, incluindo a elaboração de questões de ordem traumática. Para Ferenczi, por exemplo, os restos diurnos deixam de ser coadjuvantes e passam a ter protagonismo no mecanismo de formação dos sonhos, assim como para sua interpretação, dado que tais “restos” são considerados por ele, substancialmente, como “impressões sensíveis traumáticas”, que buscam acesso ao consciente para a resolução e elaboração psíquica. O que provocou e permitiu pensarmos mais profundamente sobre essa função traumatolítica do sonho na relação com as catástrofes. A pesquisa foi qualitativa, do tipo pesquisa-intervenção e de abordagem psicanalítica. O material coletado foi registrado pelo pesquisador em diários de campo. A partir da análise dos sonhos, houve algumas conclusões, baseadas no fato de que os relatos dos sonhos e suas respectivas associações indicaram uma posição ambivalente e melancólica dos jovens diante do futuro (bem como a “melancolização do laço social”), produzido pelo contexto histórico de ascensão da extrema direita no Brasil, mas ao mesmo tempo com certa esperança e confiança preservadas nos jovens. A presença de uma instituição – no caso o cursinho Cardume – que acolhe e acredita em seus desejos, sonhos e potenciais é determinante para a consecução desses planos. Essa é uma questão política evidente, de reconhecimento fundamental desses sujeitos, o que é o “avesso do desmentido”, do descrédito, da desconsideração, do trauma e do desamparo, no contexto de uma sociedade capitalista e neoliberal. A falta de “horizontes de expectativa” por parte das sonhantes, potencialmente afetadas também pelo contexto pandêmico que vivemos (a pandemia se revelou muito nos sonhos delas), assim como pelo contexto político opressor, ora parece ter atingido de forma mais intensa os sonhos como projeto de vida, a esperança e a confiança, e ora não. A resultante desta equação depende do que foi conquistado a partir da relação inicial desses sujeitos com as pessoas de confiança de sua história (mãe, pai, avós) na relação com a história social mais ampla, mas muito mais e principalmente a partir do ambiente maior que é aquele que seria o oferecido em determinado contexto sociopolítico e econômico, pelos agentes públicos que teriam o potencial de amparar os sujeitos e promover e propiciar às juventudes um ambiente democrático para se viver, com os direitos sociais e humanos minimamente garantidos e respaldados.