Bem-Vindos à Educação Popular: relatos e reflexões a partir da extensão universitária
Data
2014
Tipo
Livro
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Resumo
Esta publicação foi elaborada com o objetivo de reafirmar a contribuição da Educação Popular,
fundamentada no referencial teórico-metodológico freiriano, para o contexto atual: o início do século XXI, marcado
pelo questionamento sobre a capacidade dos paradigmas científicos hegemônicos, das instituições sociais vigentes e
dos instrumentos legitimados para a ação política, de responderem as questões e expressões que emergem da
realidade social constituída por imensas desigualdades, decorrentes do conflito de classe, das relações étnico-raciais,
do conflito geracional, das relações de gênero e da forma de exercício do poder político e econômico.
Dante este cenário, os questionamentos também são estendidos para a universidade, ou seja, qual
capacidade desta em desempenhar sua função sui generis: que conhecimento a universidade está sendo capaz de
gerar (como, para quem e para que o conhecimento tem sido produzido)? Tem sua produção (os novos
conhecimentos e a formação profissional) referenciada nas questões postas pela realidade social, sem se submeter à
mesma, articulando saberes por meio de um diálogo crítico, fecundo e propositivo? A sua dinâmica político-institucional e didático-pedagógica tem sido sustentada pelos princípios da autonomia do saber e da liberdade de
expressão, como também tem preservado a sua natureza pública, laica e democrática?
As respostas a essas indagações serão formuladas de acordo com as concepções de educação e de
projetos societários que disputam o sentido atribuído à formação dos sujeitos, as formas e as estratégias utilizadas para
desenvolver o processo de ensino-aprendizagem e a intencionalidade da produção do conhecimento. Assim, a
universidade cumprirá com a sua função social a partir da sua capacidade de organizar e articular os saberes
existentes, avançar as fronteiras culturais, produzir conhecimento, gerar pensamento crítico, propor pautas e agendas,
formar profissionais e intelectuais. Ou seja, sua capacidade de ser socialmente referenciada, ter a sua existência
dinamizada historicamente, promovendo um diálogo crítico, fecundo e propositivo com as questões postas pela
realidade social, garantindo a autonomia do saber e a liberdade de expressão.
A tarefa é bastante complexa e exigente, pois a universidade é uma instituição dinamizada por interesses,
demandas e expectativas variadas, podendo coexistir propostas pedagógicas que tenham intencionalidades distintas
e até antagônicas, que tomam materialidade no ensino, na pesquisa, na extensão e nas instâncias deliberativas.
Em defesa de uma universidade que tenha como intencionalidade a construção da autonomia dos sujeitos,
na perspectiva da emancipação humana, é que a Educação Popular é apresentada como uma concepção que, ao
promover a indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, constrói uma formação acadêmica constituída por
saberes específicos (técnico-científico) de um dado campo do conhecimento e por saberes construídos a partir de
vivências em determinada realidade (priorizando os produzidos pelos movimentos sociais, comunitários e pelas
instituições públicas).
Os textos organizados para este livro expressam, a partir das experiências e das reflexões de diferentes
sujeitos, argumentos que possibilitam reconhecer a contribuição da Educação Popular para uma formação
acadêmica fundada em princípios éticos, na autonomia, na capacidade crítica e propositiva, como também
comprometida com a defesa dos direitos humanos e a luta pela emancipação humana.
Assim, o primeiro capítulo contém um artigo construído por várias mãos e a partir da práxis (ação-reflexao-ação) vivenciada no Programa de Extensão “Educação Popular - criando e recriando a realidade social”, UNIFESP/BS,
em parceria com o grupo do Programa de Educação Tutorial (PET) em Educação Popular (convênio UNIFESP e
MEC/Sesu)
O segundo capítulo traz, através de um trabalho de iniciação científica, uma análise crítica sobre o sistema
prisional paulista e as intervenções profissionais dos assistentes sociais na perspectiva de sua direção social e política. O
estudo traz reflexões gestadas na parceria com o GEPEX (Grupo Estudos, Pesquisa e Extensão em Segurança Pública,
Justiça Criminal e Direitos Humanos na UNIFESP/BS).
O terceiro capítulo surge num cenário de violação dos direitos humanos, o bairro Quarentenário, em que a
parceria entre a ONG Camará e o CRDH Unifesp/BS (Centro de Referência em Direitos Humanos da Unifesp Baixada
Santista) propôs espaços de diálogos abertos sobre os temas emergentes daquela realidade. Este texto sistematiza a
aprendizagem acumulada na graduação em Serviço Social e na experiência de estágio supervisionado realizado no
local.
No quarto capítulo, a dimensão religiosa no cotidiano das mulheres encarceradas é analisada à luz de duas
religiões que oferecem assistência religiosa dentro dos presídios, a evangélica e a católica. Este estudo qualitativo
também surge das reflexões e parcerias junto ao GEPEX (Grupo Estudos, Pesquisa e Extensão em Segurança Pública,
Justiça Criminal e Direitos Humanos na UNIFESP/BS).
O quinto capítulo coloca uma reflexão sobre a metodologia da Educação Popular Freiriana, a partir de sua
concepção de sociedade, de ser humano e de conhecimento. Nele, será possível entrar em contato com termos
como: conscientização, círculo de cultura, práxis, leitura de mundo, etc.
O sexto capítulo oferece reflexões sobre uma experiência protagonizada pelo Centro de Referência em
Direitos Humanos em parceria com o Núcleo de Estudos Heleieth Saffioti (NEHS): relações de gênero, sexualidades e
movimentos sociais da UNIFESP/Baixada Santista, através da realização da Oficina “Gênero, Diversidade e Direitos”
com profissionais da Secretaria Municipal de Educação do município de Santos. O desafio foi introduzir mecanismos
capazes de causar rupturas com significados essencialistas presentes na sociedade e reproduzidos nas escolas, além
de tentar deixar, a partir dos(as) educadores(as), o terreno fértil para transformações no modo de compreender as
relações de gênero e a sexualidade.
Desejamos uma ótima leitura e que os textos aqui apresentados possam estimular o debate, reflexões para
qualificar a prática e gerar provações sobre nossa capacidade de construirmos a História, sermos sujeitos nos
processos sociais em que estamos inseridos, possibilitam que outros, que não se fizeram presentes, tenham a
possibilidade de estarem comprometido com construção de uma sociedade que negue qualquer forma de
desigualdade.
Descrição
Citação
LEONARDI, Fabricio Gobetti; ASSUMPÇÃO, Raiane Patrícia Severino. Bem-Vindos à Educação Popular: relatos e reflexões a partir da extensão universitária / organizadores Raiane Patrícia Severino Assumpção e Fabrício Gobetti Leonardi. 1ª Edição – Santos, SP:Editora Pet educação Popular: 2014. 60 p.