Navegando por Palavras-chave "Sermão do Mandato"
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- ItemAcesso aberto (Open Access)As enfermidades do amor: uma leitura do "Sermão do Mandato" (1643), do Padre Antonio Vieira(Universidade Federal de São Paulo, 2024-08-30) Fonseca, Ines Barros [UNIFESP]; Lachat, Marcelo; http://lattes.cnpq.br/3500335089443803; https://lattes.cnpq.br/4413227324764328Ao longo dos séculos, a abordagem temática do amor e sobre o amor resultou em inúmeras produções literárias, poéticas, sacras, filosóficas e sócio-históricas. Porém, nem sempre o amor foi premissa de associação à virtude humana. Objeto de profundo interesse nos Estudos Retóricos, os quase 200 sermões pregados por Padre Antônio Vieira (1608-1697) fazem uso do poder discursivo para instruir as condutas morais vivenciadas no século XVII, período este em que a Igreja contribuiu sistematicamente na condução de seus fiéis e clérigos sobre as concepções atribuídas ao amor e agiu de maneira contundente com o interesse de coibir as paixões tidas como mundanas. É baseado nessas conjecturas que esta pesquisa busca compreender como o amor, Eros (conceito platônico), foi considerado uma doença, seja pelo prisma da Igreja, que se utilizou de clérigos para a produção de tratados de amor voltados apenas a Deus e intensificou represálias às paixões, seja pela vertente da medicina, que, através de estudos clínicos, contribuiu para a propagação de que certos tipos de amor e de condutas amorosas provocavam enfermidades físicas e metafísicas. O ponto de partida para a elaboração de um panorama do amor por esse viés é o Sermão do Mandato de 1643, de Antonio Vieira, no qual o autor, utilizando como locus de seu discurso o Hospital Real de Lisboa, cita a obra De Remedia: Amoris e se propõe a arguir sobre o Cristo que estava enfermo de tanto amor em suas últimas horas de vida. A causa da enfermidade, segundo Vieira, é descrita como: “Diz que é de amor, e de amor nosso, e de amor incurável: de amor: cum dilexisset; de amor nosso: suos qui erant in mundo; e de amor incurável, e sem remédio: in finem dilexit eos”. Se é de amor que o Cristo perece, logo, Vieira apresenta seus quatro remédios, a saber: tempo, ausência, ingratidão e melhorar de objeto. Com o ponto de partida vieiriano de que há um tipo de amor que é causador de enfermidades, para compreender a concepção vieiriana do amor como um possuidor de enfermidades, a pesquisa perpassa pela análise de concepções do amor pré- romântico. É realizado, então, o percurso de como autoridades filosóficas, tais como Platão, Aristóteles e Ovídio, conceituavam o amor, passando para autoridades dos doutores da fé, como São Bernardo de Claraval e São Francisco de Sales, que escreveram dois tratados ensinando como se deve amar a Deus, e, por fim, as influências da medicina que também contribuiu para a mutação do amor/virtude em amor/vício. Utilizamos para a construção deste contexto sócio-histórico a obra de Mary Del Priore, História do amor no Brasil (2005), e observamos algumas doenças como a melancolia, tratada na obra Anatomia da Melancolia (1621), de Robert Burton, a extinta Clorose ou “doença das virgens”, que deflagrou pelos séculos XVII, XVIII e XIX, e, por fim, a Síndrome de Clérambault, um conceito mais moderno (1921). Todas estas doenças corroboram com a ideia do amor como uma patologia. Com a grande exegese de Padre Antonio Vieira, há no Sermão do Mandato (1643) o páthos desencadeado de que o único amor incorruptível é só o de Cristo, e este se fez enfermo por amor aos homens.