Navegando por Palavras-chave "Literatura machadiana"
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- ItemAcesso aberto (Open Access)Jogo de espelhos: a noção de demoníaco em Schopenhauer, Machado de Assis e Freud(Universidade Federal de São Paulo, 2020-12-22) Torres, Ricardo Rodrigues [UNIFESP]; Imbrizi, Jaquelina Maria [UNIFESP]; Casetto, Sidnei José [UNIFESP]; http://lattes.cnpq.br/3498118188722873; http://lattes.cnpq.br/8682215618761531; http://lattes.cnpq.br/0881732480140934; Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)O uso da palavra demoníaco por Freud, não muito frequente, suscitou uma reflexão sobre o sentido para que aponta esta noção, haja vista não se tratar de um conceito. Ver o termo como um sinônimo de malignidade não parecia corresponder ao conjunto de significância do fraseado. Assim posta a problemática, vislumbrou-se uma via de acesso à questão a partir da literatura machadiana que, em muitas passagens de sua obra, aborda o jogo de forças a se manifestar na trajetória da existência humana, metamorfoseadas nas figuras alegóricas do Diabo, Pandora ou simplesmente natureza. Um importante comentador de Machado de Assis, Raymundo Faoro, identifica na ideia de natureza que transparece na obra do escritor brasileiro uma matriz schopenhauriana, a Vontade. O mesmo comentador encontra também ressonâncias na natureza machadiana do conjunto de ponderações (existenciais, filosóficas, estéticas, literárias) ao qual Goethe veio a nomear de demoníaco. Com Machado de Assis reencontramos, transpostos à realidade brasileira da época e à assimilação estética do gênio tupiniquim, um certo aspecto do universo da cultura de língua germânica. Assim, procuramos discernir, a partir de um conto de Machado, os impulsos demoníacos e naturais da criação literária e as fontes intelectuais de tais noções envolvidas para comparar ao uso do termo pelo Pai da Psicanálise. Freud dizia que os poetas haviam percebido com antecedência certas descobertas psicanalíticas, embora não as sistematizassem. Levando a sério essas considerações, o presente exame busca colocar os textos estudados frente a frente, à maneira especular, sem hierarquizá-los, para nesse “jogo de espelhos” trazer à tona as nuances de sentido no uso do vocábulo demoníaco. A pesquisa resultou que, nos reflexos produzidos, vislumbramos que a potência fisiológica/sexual na criação literária do cônego de Machado configurava a mesma força produtiva obscura de sintomas e sonhos denominada por Freud de demoníaca. A força da natureza que no conto machadiano produz a obra artística não se opõe à significação que o termo demoníaco vem a desenvolver num segundo momento da obra psicanalítica de seu pai fundador, quando suaviza o sentido de produção (embora mantenha essa nuance semântica) para repetição, característica que aponta para tendências conservadoras dos instintos dos seres orgânicos (no nível psíquico) em direção ao estado originário de quietude absoluta, porque tudo que é demoníaco é também natural. Faz-se admissível que, do mesmo modo que o daimon representava um intermediário entre homens e deuses para os gregos, o uso do termo demoníaco por Freud represente uma transição do universo mítico/poético para o mundo do realismo científico professado pelo psicanalista.