Navegando por Palavras-chave "Análise Dialógica do Discurso"
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- ItemAcesso aberto (Open Access)De "res" a "persona", vozes e silêncio: a categorização dos negros na legislação brasileira em perspectiva dialógica do discurso(Universidade Federal de São Paulo, 2023-08-31) Cândido, Daniel Eduardo [UNIFESP]; Magalhães, Anderson Salvaterra [UNIFESP]; Souza, Janderson Lemos de [UNIFESP]; http://lattes.cnpq.br/5242623034107836; http://lattes.cnpq.br/7806510956818017; https://lattes.cnpq.br/0647677802859065Nesta dissertação, examina-se a tensão entre desigualdade e igualdade racial na historicização do Brasil pela perspectiva discursiva. O estudo recorta do campo jurídico textos normativos que regeram e regem as relações sociais desde o Brasil Colônia até os dias de hoje. Nesses textos, rastreiam-se os modos como o negro é simbolizado na linguagem, relativamente às categorias geopolíticas do território e aos domínios experienciais ativados. No tempo dialógico, da cadeia comunicativa de normas jurídicas estudadas, emerge uma dinâmica discursiva que encaminha a memória coletiva em torno das tensões raciais, cuja perspectiva vai sendo paulatinamente alterada de uma memória sobre o negro para uma memória também do negro. Com base na premissa de não cisão entre linguagem e mundo, esta dissertação articula dois quadros teóricos. Por um lado, a dimensão histórico-social é mobilizada pelo viés dos estudos bakhtinianos, especialmente os estudos em Análise do Discurso de orientação dialógica. Por outro, a dimensão sociocognitiva é tratada pelo viés da Linguística Cognitiva. Pela integração dessas abordagens, descreve-se como o processo linguageiro, por meio do qual os negros participantes da história do Brasil têm sido conceptualizados na legislação nacional, no experienciar de três domínios – trabalho, religião e militância –, permanece a atualizar tensões que constituem certa memória coletiva de sua participação na construção da denominada brasilidade. Metodologicamente, o estudo parte da Lei Federal n. 12.288, de 2010, que instituiu o Estatuto da Igualdade Racial, e retrocede de forma não linear até as Ordenações Filipinas (Livro V) de 1603 a fim de aceder aos discursos que incidem sobre as tensões raciais. São analisadas as condições socioculturais que delineiam valores estruturantes do campo e seus textos acerca dos povos negros em diferentes momentos da história brasileira. São identificados e descritos nos textos jurídicos selecionados os processos de categorização do negro e os processos enunciativo-discursivos pelos quais a tensão entre os discursos da desigualdade e igualdade racial constitui certa memória coletiva acerca desses povos e sua participação na cultura brasileira. Por fim, a partir das pistas lexicais identificadas no corpus escolhido da legislação doméstica, nos domínios experienciais mencionados, tais como “escravos”, “negros”, “elemento servil”, “libertos”, “pretos forros”, “escravos de Guiné”, “cativos”, “réo escravo”, “cabeça de escravo importado”, “pirataria de escravos”, “tráfico de africanos”, “escravo inválido”, “vadio”, “capoeira”, “objeto de usufruto da coroa”, “afro-brasileiros”, “afrodescendentes”, etc., é possível perceber como a alusão ao negro ativa processos sociocognitivos tanto em quem a produz quanto naqueles que a mobiliza. Dessa forma, faz espelhar valores historicamente em conflito que reverberam das leis até hoje e fazem flutuar o negro da categoria coisa à pessoa. Esta dissertação traz contribuições inter-relacionadas de duas ordens. Teoricamente, apresenta-se o alcance descritivo-analítico da articulação de uma abordagem histórico-social com uma abordagem sociocognitiva da linguagem. Do encontro desses dois vieses, emerge um dispositivo que atende ao desafio de investigar como os contextos interacionais incidem sobre o funcionamento da linguagem. Socialmente, a investigação contribui para a compreensão do percurso discursivo pelo qual o negro, na historicização do Brasil, tem integrado a sociedade, desde uma condição enunciativa absolutamente subalterna, quando é reificado, até uma condição de sujeito discursivo que participa na construção das normas jurídicas.
- ItemAcesso aberto (Open Access)Memória do negro nos ecos da nacionalidade em enunciados fílmicos brasileiros: um olhar dialógico(Universidade Federal de São Paulo, 2022-08-26) Carneiro, Karen Almeida [UNIFESP]; Magalhães, Anderson Salvaterra [UNIFESP]; http://lattes.cnpq.br/7806510956818017; http://lattes.cnpq.br/6654130201110042Este trabalho descreve como se dá a construção discursiva da obra Alma no Olho (1973), de Zózimo Bulbul, em relação com outras que também têm o negro como tema. Apoiando-nos teórico-metodologicamente nos estudos do Círculo de Bakhtin, Medviédev e Volóchinov (B.M.V.) e atualizados por práticas da Análise Dialógica do Discurso (ADD), delineamos três principais etapas de investigação: i) levantamento bibliográfico interdisciplinar e documental para construção do objeto de pesquisa e orientação de procedimentos descritivo-analíticos; ii) seleção de documentos para análise enunciativo-discursiva, quais sejam, os filmes Alma no Olho (1973), Também Somos Irmãos (1949) e Quantos Eram pra Tá? (2018), considerando que deles emergem enunciados que compõem uma cadeia discursiva mais ampla acerca da constituição das identidades raciais que conformam a ideia de nacionalidade; e iii) delimitação dos procedimentos de interpretação, descrição e análise: cotejamos como a memória do negro reacentua os discursos da nacionalidade ao longo da cadeia utilizando-nos das noções de memória do objeto e memória do sujeito (AMORIM, 2009) e de signo ideológico (VOLÓCHINOV, 2018). Identificamos que a perspectiva semântica chamada “cinema negro” no Brasil se deve à constituição de uma memória do negro revestida de multivocalidade que lhe confere contornos éticos, estéticos e políticos conforme a atualização da cadeia discursiva. Sendo a memória linguagem e, como tal, lugar de disputa, ela é revestida de diferentes sentidos a depender do grupo social que a atualiza e lhe confere significados. Na condição de objeto falado, é constituída em tensão com a noção de nacionalidade, que oculta e revela também os sentidos de branquitude. Na condição de objeto falante, reconfigura o espaço simbólico-discursivo possibilitado pelo jogo de memórias objetiva e subjetiva.
- ItemAcesso aberto (Open Access)Pejoração e constituição do léxico do português brasileiro: um estudo semântico acerca de bantuísmos na interface da Análise Dialógica do Discurso e da Linguística Cognitiva(Programa de Pós-Graduação de Letras Vernáculas, 2018-07) Magalhães, Anderson Salvaterra [UNIFESP]; http://lattes.cnpq.br/7806510956818017Nesta pesquisa, sustenta-se a tese de que os aportes linguísticos africanos no português brasileiro atualizam crenças acerca da hierarquia entre etnias e, por isso, não figuram como mero repertório vocabular, mas como itens lexicais cuja natureza sociocognitiva se emoldura por domínios epistêmico-pragmáticos. O léxico, desse ponto de vista, constitui-se por categorias que moldam o modo como a cultura brasileira conceitua a si própria e às relações empreendidas desde o período colonial. Por conta do lugar ocupado por negro-africanos escravizados, a contribuição linguística deles tende a passar por mudança semântica, especialmente, mudança de perspectiva, entrando no português brasileiro pelos “olhos” lusitanos. A semiose dessa mudança é motivada pela pejoração, aqui entendida como um fenômeno sociocognitivo gradiente e generalizado de desdém por X (intensão) que penetra na enunciação e na gramática (extensão). A pejoração evidencia o valor projetado sobre os negro-africanos, e a descrição de como isso se dá linguístico-discursivamente constitui a principal contribuição acadêmica e, também, social desta pesquisa. A tese se sustenta sobre a premissa de que há continuidade entre a experiência histórica dos falantes na comunidade linguística e a dimensão semântica da língua, sendo o léxico socioculturalmente motivado. Com base nessa premissa, “visitam-se” algumas “ilhas” da Linguística Cognitiva para dar conta da descrição e análise de processos linguístico-cognitivos da mudança semântica implicada na produção e na produtividade de bantuísmos. As noções de enquadramento e de domínio funcionam como principais categorias de descrição dos aportes lexicais bantos no português brasileiro e de análise de sua produtividade pejorativa. Mobilizam-se, também, da Análise Dialógica do Discurso, noções como a de signo ideológico, que não dissocia formação e organização sociais e linguagem, como dispositivo interpretativo das relações linguístico-discursivas analisadas. Selecionaram-se, inicialmente, 54 vocábulos de origem banta e de uso corrente no português brasileiro. A partir deles, foram levantadas outras construções mais complexas que evidenciam a produtividade dos bantuísmos. Ao final, demonstra-se como a pejoração instalada sociocognitivamente na perspectivação dos enquadramentos brasileiros operam como premissa estruturante de domínios superordenados AFRO-BRASILEIROS, tornando-se poderoso vetor linguístico-discursivo.