Acometimento cardíaco e o valor prognóstico da medida da função sistólica do ventrículo esquerdo pelo método da deformação miocárdica (strain) nas miopatias autoimune sistêmicas

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Data
2022-08-01
Autores
Machado, Luiz Samuel Gomes [UNIFESP]
Orientadores
Sato, Emilia Inoue [UNIFESP]
Tipo
Tese de doutorado
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Resumo
Introdução: Miopatias autoimunes sistêmicas (MAS) podem afetar outros órgãos além dos músculos, como os pulmões, o esôfago, o coração e as articulações. O acometimento cardíaco é bastante variável, sendo uma das principais causas de óbito desses pacientes. O strain ecocardiográfico é a medida, em porcentagem, do grau de deformação do miocárdio, um parâmetro capaz de detectar alterações cardíacas precoces. Objetivos: primário: comparar pacientes e controles em relação aos acometimentos cardíacos e strain; secundários: avaliar se a medida do strain global longitudinal (GLS) do ventrículo esquerdo (VE), pela técnica de Speckle Tracking Echocardiography (STE) tem valor prognóstico nas MAS; avaliar as características demográficas, clínicas, laboratoriais e eletro e ecocardiográficas de pacientes com GLS do VE normal e reduzido; avaliar associação entre anticorpos miosite específicos e miosite associados e envolvimento cardíaco. Métodos: O estudo foi realizado em duas fases: 1) Fase transversal, em que 61 pacientes com MAS, constituíram o grupo paciente e 32 controles sem MAS formaram o grupo controle. Os grupos foram comparados em relação às dosagens de NT-proBNP e troponina, alterações eletrocardiográficas e ecocardiográficas, incluindo medidas de GLS do VE e strain da parede livre do VD. Foi também avaliada associação entre acometimento cardíaco dos pacientes e os anticorpos miosites específicos (AME) e miosites associados (AMA) 2) Fase longitudinal, em que os pacientes foram divididos em dois subgrupos: 26 com GLS do VE reduzido e 35 com GLS do VE normal e acompanhados com avaliações clínicas e laboratoriais a cada 4-5 meses. Ao final do seguimento, os subgrupos foram comparados em relação à ocorrência de eventos cardiovasculares, internações, mortalidade e aos critérios de atividade da MAS: dosagem de creatinofosfoquinase (CPK), avaliação do manual muscle testing (MMT8), da escala visual analógica (EVA) do médico e do paciente, do Health Assessment Questionnaire (HAQ) e do myositis disease activity assessment visual analogue scales (MYOACT). Resultados: O grupo paciente teve maior proporção de indivíduos hipertensos (55,7% vs 21,9%, p=0,002) e dislipidêmicos (50,8% vs 21,9%; p=0,007) que os controles. A média do GLS do VE foi menor nos pacientes quando comparado aos controles (18,5 ± 2,9% vs 21,6 ± 2,5%; p<0,001). A média da medida do strain da parede livre de VD também foi menor nos pacientes que nos controles (21,9 ± 6,1% vs 27,5 ± 4,7%; p<0,001). Foi observado que no grupo paciente havia maior proporção de indivíduos com medida de GLS do VE reduzida (42,6% vs 3,1%; p<0,001) e medida de strain da parede livre de VD reduzida (23,0% vs 0,0%; p=0,002) quando comparados ao grupo controle. A média da dosagem de NT-proBNP nos pacientes foi superior aos dos controles (103,0 ± 125,6 vs 61,3 ± 90,6, p=0,006) e a proporção de NT-proBNP elevado também foi maior no grupo paciente (23% vs 6,3%, p=0,048). Não houve diferença em relação aos outros acometimentos cardíacos. A positividade do anti-Jo1 foi associado às alterações gerais no ECG (p=0,018 e odds ratio=4,650) e à disfunção diastólica de VE (p=0,005, odds ratio=6,833). Os outros anticorpos não tiveram associação com envolvimento cardíaco. O subgrupo de pacientes com redução da medida do GLS, no início do seguimento, tinha uma maior proporção de acometimento esofágico (34,6% vs 8,6%, p=0,011) e de sobrecarga de VE no ECG (19,2% vs 0,0%, p=0,001), uma menor média da fração de ejeção (FE) do VE (67,4 ± 3,9 vs 69,6 ± 3,4, p=0,011) e proporcionalmente mais homens (17/9 vs 32/3, p=0,011) do que o subgrupo com GLS normal. Após seguimento médio de 25,0 ± 3,0 meses, foi observado que o subgrupo com GLS reduzido teve maiores médias de CPK, de MYOACT (8,25 ± 4,9 vs 4,14 ± 5,4, p=0,002), da EVA do médico (2,99 ± 1,9 vs 1,73 ± 1,7, p=0,006) e do paciente (3,19 ± 1,9 vs 1,96 ± 1,8, p=0,009) e do HAQ (0,665 ± 0,490 vs 0,368 ± 0,467, p=0,014), além de maior proporção de pacientes com recidivas do que o subgrupo com GLS normal (57,7% vs 11,4%, p=0,001). Não houve diferença entre os subgrupos em relação à mortalidade, internações e eventos cardiovasculares. Conclusões: pacientes tiveram maior média e proporção de NT-proBNP, além de apresentarem menor medida do strain da parede livre do VD e do GLS do VE em relação aos controles, tanto em avaliação quantitativa quanto qualitativa. O subgrupo de pacientes com redução da medida do GLS, no início do seguimento, era semelhante ao subgrupo com GLS normal. Após seguimento de 25 meses, o subgrupo de pacientes com GLS do VE reduzido evoluiu com mais recidivas e maior atividade da doença quando comparado ao subgrupo com GLS do VE normal. Foi observada associação entre positividade de anticorpo anti-Jo1 e alterações gerais no ECG e disfunção diastólica de VE. Nosso estudo sugere que a medida do GLS de VE reduzida possa identificar subgrupo de pacientes com maiores chances de evoluírem com mais recidivas e maior atividade da doença.
Descrição
Citação
MACHADO, L.S.G. Acometimento cardíaco e o valor prognóstico da medida da função sistólica do ventrículo esquerdo pelo método da deformação miocárdica (strain) nas miopatias autoimune sistêmicas. São Paulo, 2022. 107 f. Tese (Doutorado em Ciências da Saúde Aplicadas à Reumatologia) - Escola Paulista de Medicina (EPM), Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). São Paulo, 2022.