Consequências emocionais do estresse em ratos: um modelo experimental de transtorno de estresse pós-traumático

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Data
2013
Autores
Girardi, Carlos Eduardo Neves [UNIFESP]
Orientadores
Suchecki, Deborah [UNIFESP]
Tipo
Tese de doutorado
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Resumo
Situações adversas que desafiam a integridade física ou psicológica de um indivíduo são frequentes ao longo da vida. Porém, há situações que ultrapassam as capacidades adaptativas e são consideradas traumáticas, podendo resultar em sequelas emocionais persistentes e prejuízos significativos nas funções sociais, caracterizando o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). É crucial entender os aspectos psicológicos e biológicos básicos e os fatores de vulnerabilidade e resiliência do TEPT, uma vez que apenas uma parcela das vítimas de eventos traumáticos manifesta este transtorno. Para isso, tem-se empregado modelos animais que mimetizam os aspectos fundamentais do transtorno. O objetivo geral deste trabalho foi investigar a influência de condições pré e peri-traumáticas na magnitude das principais reações emocionais a longoprazo em um modelo de estresse traumático em ratos. Inicialmente foi estabelecido o protocolo experimental para o estresse traumático. Foram comparados dois paradigmas de condicionamento de medo: o condicionamento de medo contextual (CMC), em que apenas um choque intenso, inescapável foi aplicado e a configuração espacial (contexto do evento traumático) foi o elemento condicionado ao choque; e o condicionamento de medo ao som (CMS), em que uma pista de uma única modalidade sensorial (som) foi condicionada ao choque, em apresentações repetidas, aplicando-se um choque de menor intensidade. Na etapa de padronização metodológica também foram ajustados parâmetros importantes para os estudos subsequentes, como a intensidade do choque a ser empregada, o tempo de exposição ao choque e a ordem de realização dos testes comportamentais. Selecionou-se o CMC para aplicação nas etapas subsequentes, uma vez que, além de representar um evento único e intenso, este protocolo também revelou um robusto efeito de sensibilização comportamental frente à apresentação de um estímulo sonoro desconhecido e potencialmente aversivo. No CMS, o som é o estímulo condicionado no momento do trauma. Utilizar o paradigma do CMS no modelo de estresse traumático inviabilizaria a utilização do som como estímulo incondicionado para avaliação da sensibilização do medo. Além disso, a possibilidade de utilização de choque único no CMC favoreceu o emprego do paradigma do choque imediato, uma abordagem que se mostrou crucial para o estudo sobre elementos peritraumáticos. Foi visto que, animais submetidos ao choque imediato, ou seja, que não tiveram a possibilidade de explorar o ambiente do trauma antes do choque, não manifestaram as sequelas emocionais como os animais que exploraram o ambiente. A hipótese aqui defendida para explicar esse fenômeno é de que tenha havido uma importante influência da percepção da inescapabilidade da situação traumática sobre a magnitude das sequelas emocionais a longo-prazo observadas neste modelo. Por fim, foi realizado um estudo para investigar se essas sequelas emocionais de longo-prazo decorrentes do estresse traumático eram também influenciadas por fatores pré-existentes. Especulou-se se a interrupção da relação mãe-filhote por 24 horas em períodos cruciais para o desenvolvimento do eixo HPA, que sabidamente provoca alterações duradouras na vida adulta, tanto em aspectos neuroendócrinos como comportamentais da resposta ao estresse, poderia alterar a magnitude das reações observadas no modelo de estresse traumático aqui empregado. Entretanto, essa hipótese não foi confirmada, pois a privação materna não conferiu qualquer modificação nas consequências emocionais causadas pelo choque traumático.
Adverse situations that challenge an individual´s physical or psychological integrity are frequent throughout life. However, some situations go beyond the adaptive capacities and are considered as traumatic, leading to persistent emotional consequences and significant social impairment, defining what is called Posttraumatic Stress Disorder (PTSD). It is crucial to understand psychological and biological aspects as well as vulnerability and resilience factors, once only some victims that face traumatic events develop PTSD. Animal models that mimic basic aspects of PTSD have been extensively employed in basic research. The general purpose of this study was to investigate the influence of pre- and peritraumatic conditions on the magnitude of the main emotional long-term reactions in a rat model of traumatic stress. Initially, we established the experimental protocol to induce a traumatic stress. We compared two paradigms of fear conditioning: contextual fear conditioning, in which one intense, inescapable electric shock was applied and the spatial configuration (traumatic context) was the element conditioned to the shock; and the tone fear conditioning, in which a single sensorial modality cue (tone) was conditioned to the shock, with successive presentations, applying a weaker shock. In the methodological standardization phase, we also adjusted important parameters for the subsequent studies, like shock intensity, shock exposure duration and the order of behavioral tests. We have selected the contextual fear conditioning for the subsequent phases because, besides representing a single and intensive event, this protocol also revealed a robust behavioral sensitization effect upon presentation of an unknown and potentially aversive acoustic stimulus. In the case of tone fear conditioning, the same tone used as mildly aversive acoustic stimulus is the conditioned stimulus during the traumatic event, hindering sensitization assessment. Moreover, using a single shock with contextual conditioning allowed the employment of the immediate shock paradigm, an essential approach to explore peritraumatic aspects, herein investigated. We found that rats submitted to the immediate shock paradigm, which are not allowed to explore the traumatic environment before shock delivery, do not show the same emotional sequel as do rats that explored the context prior to trauma. Our hypothesis to explain this phenomenon is that there was an important influence of perception of inescapability of the trauma on the magnitude of long-term emotional emotional consequences found in this model. Finally, we investigate if the myriad of emotional consequences would also be influenced by pre-existing factors. We speculated whether the interruption of the mother-infant relationship by 24 hours in moments that are crucial for the development of the HPA axis, which is known to elicit long-lasting neuroendocrine and behavioral changes in adulthood, could alter the magnitude of the reactions observed in the model herein employed. Nevertheless, this hypothesis was not confirmed, because maternal deprivation did not modify the long-term emotional responses previously seen throughout the study.
Descrição
Citação
GIRARDI, Carlos Eduardo Neves. Consequências emocionais do estresse em ratos: um modelo experimental de transtorno de estresse pós-traumático. 2013. 186 f. Tese (Doutorado) – Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo. São Paulo, 2011.