Microcristais biliares na pancreatite aguda idiopática: indício para etiologia biliar oculta subjacente
Data
2000-04-01
Tipo
Artigo
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Resumo
The main causes of pancreatic inflammation worldwide are biliary lithiasis and alcoholism. However, 10 to 30% of patients have been considered to have idiopathic acute pancreatitis. Recently, some studies showed that a significant rate of the so called idiopathic pancreatitis are caused by microlithiasis and/or biliary sludge, identified by the presence of cholesterol monohidrate and/or calcium bilirubinate microcrystals in the biliary sediment. In the present study, the analysis of microcrystals from bile obtained during endoscopic retrograde cholangiopancreatography was done in patients with pancreatitis (idiopathic, biliary or alcoholic -- 20 in each group). Patients with idiopathic pancreatitis and microcrystals in the bile underwent cholecystectomy whenever possible. Those who refused or were inapt to surgery underwent endoscopic sphincterotomy or received continuous therapy with ursodeoxycholic acid. Patients with idiopathic pancreatitis without biliary crystals did not receive any specific treatment. The prevalence of biliary microcrystals in patients with idiopathic pancreatitis (75%) and biliary pancreatitis (90%) was significantly higher than in those with alcoholic pancreatitis (15%). In the identification of the etiology of biliary pancreatitis, the presence of microcrystals had a sensitivity of 90%, specificity of 85%, positive predictive value of 85,7%, negative predictive value of 89,4% and accuracy of 87,5%. In the patients with recurrent idiopathic pancreatitis, with biliary crystals, there was an statistically significant reduction in the number of pancreatitis episodes after specific treatment. In the follow-up of this group during 23,3 ± 4,8 months, recurrence of pancreatitis occurred only in patients with persistent biliary factor (choledocholithiasis and/or persistence of cholesterol monohidrate). All patients with idiopathic pancreatitis who underwent cholecystectomy had chronic cholecystitis. Moreover, cholelithiasis was present in one case. In the ultrassonographic follow-up of the patients with idiopathic acute pancreatitis with microcrystals in the bile, cholelithiasis was detected in one case. In the subgroup of five patients with idiopathic pancreatitis without biliary microcrystals recurrence occurred in one case. Ultrassonographic study during follow-up did not reveal biliary stones in any of these patients. We concluded that the detection of biliary microcrystals in idiopathic pancreatitis suggested an underlying biliary etiology, even if occult. What's more, early specific therapeutic procedure (cholecystectomy, endoscopic sphincterotomy or ursodeoxycholic acid) in patients with recurrent idiopathic pancreatitis with microcrystals in the bile reduced significantly the recurrence during the follow-up. Finally, acute pancreatitis (specially recurrent) should not be called idiopathic before the microscopic analysis of the bile, aiming to detect or exclude the presence of microcrystals.
As principais causas de inflamação pancreática no mundo são a litíase biliar e o alcoolismo crônico. Admite-se que 10 a 30% das pancreatites agudas sejam idiopáticas. Sugere-se que parte destas são causadas por microlitíase ou barro biliar, identificados pela presença de microcristais no sedimento biliar. Neste estudo, realizou-se análise microscópica da bile obtida por colangiopancreatografia endoscópica, em pacientes com pancreatite aguda idiopática, pancreatite aguda biliar e pancreatite crônica alcoólica - 20 em cada grupo. Pacientes com pancreatite aguda idiopática e microcristais na bile foram submetidos a colecistectomia. Naqueles inaptos à cirurgia efetuou-se esfincterotomia endoscópica ou tratamento com ácido ursodesoxicólico. Pacientes com pancreatite aguda idiopática sem cristais não receberam tratamento específico. A prevalência de microcristais biliares em pacientes com pancreatite aguda idiopática (75%) e pancreatite aguda biliar (90%) foi significativamente maior que naqueles com pancreatite crônica alcoólica (15%). A detecção de microcristais apresentou sensibilidade de 90%, especificidade de 85%, valor preditivo positivo de 85,7%, valor preditivo negativo de 89,4% e acurácia de 87,5% em identificar pancreatite de origem biliar. Nos pacientes com pancreatite aguda idiopática recurrente, cursando com microcristais, houve redução significante dos episódios de pancreatite após tratamento específico. No seguimento deste grupo durante 23,3 meses, recidiva ocorreu apenas naqueles que apresentavam fator biliar persistente (coledocolitíase ou microcristais). Todos os pacientes com pancreatite aguda idiopática submetidos a colecistectomia apresentavam colecistite crônica, e microlitíase foi observada em um paciente. No seguimento ultra-sonográfico, colelitíase foi detectada em um dos casos. No subgrupo de cinco pacientes com pancreatite aguda idiopática sem microcristais houve uma recidiva. Estudo ultra-sonográfico durante o seguimento não revelou cálculo biliar em nenhum destes. Concluiu-se que a detecção de microcristais biliares na pancreatite aguda idiopática sugeriu etiologia biliar oculta subjacente. Adicionalmente, intervenção terapêutica específica nos pacientes com pancreatite aguda idiopática recurrente e microcristais reduziu as recidivas durante o seguimento. Finalmente, pancreatite aguda (particularmente, recurrente) não deveria ser rotulada como idiopática antes da análise microscópica da bile visando a detecção ou exclusão da presença de microcristais.
As principais causas de inflamação pancreática no mundo são a litíase biliar e o alcoolismo crônico. Admite-se que 10 a 30% das pancreatites agudas sejam idiopáticas. Sugere-se que parte destas são causadas por microlitíase ou barro biliar, identificados pela presença de microcristais no sedimento biliar. Neste estudo, realizou-se análise microscópica da bile obtida por colangiopancreatografia endoscópica, em pacientes com pancreatite aguda idiopática, pancreatite aguda biliar e pancreatite crônica alcoólica - 20 em cada grupo. Pacientes com pancreatite aguda idiopática e microcristais na bile foram submetidos a colecistectomia. Naqueles inaptos à cirurgia efetuou-se esfincterotomia endoscópica ou tratamento com ácido ursodesoxicólico. Pacientes com pancreatite aguda idiopática sem cristais não receberam tratamento específico. A prevalência de microcristais biliares em pacientes com pancreatite aguda idiopática (75%) e pancreatite aguda biliar (90%) foi significativamente maior que naqueles com pancreatite crônica alcoólica (15%). A detecção de microcristais apresentou sensibilidade de 90%, especificidade de 85%, valor preditivo positivo de 85,7%, valor preditivo negativo de 89,4% e acurácia de 87,5% em identificar pancreatite de origem biliar. Nos pacientes com pancreatite aguda idiopática recurrente, cursando com microcristais, houve redução significante dos episódios de pancreatite após tratamento específico. No seguimento deste grupo durante 23,3 meses, recidiva ocorreu apenas naqueles que apresentavam fator biliar persistente (coledocolitíase ou microcristais). Todos os pacientes com pancreatite aguda idiopática submetidos a colecistectomia apresentavam colecistite crônica, e microlitíase foi observada em um paciente. No seguimento ultra-sonográfico, colelitíase foi detectada em um dos casos. No subgrupo de cinco pacientes com pancreatite aguda idiopática sem microcristais houve uma recidiva. Estudo ultra-sonográfico durante o seguimento não revelou cálculo biliar em nenhum destes. Concluiu-se que a detecção de microcristais biliares na pancreatite aguda idiopática sugeriu etiologia biliar oculta subjacente. Adicionalmente, intervenção terapêutica específica nos pacientes com pancreatite aguda idiopática recurrente e microcristais reduziu as recidivas durante o seguimento. Finalmente, pancreatite aguda (particularmente, recurrente) não deveria ser rotulada como idiopática antes da análise microscópica da bile visando a detecção ou exclusão da presença de microcristais.
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Arquivos de Gastroenterologia. Instituto Brasileiro de Estudos e Pesquisas de Gastroenterologia - IBEPEGE Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva - CBCD Sociedade Brasileira de Motilidade Digestiva - SBMD Federação Brasileira de Gastroenterologia - FBGSociedade Brasileira de Hepatologia - SBHSociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva - SOBED, v. 37, n. 2, p. 93-101, 2000.