Afetividade e potência de ação na construção das práticas dos agentes comunitários de saúde na estratégia saúde da família
Data
2016-03-18
Tipo
Dissertação de mestrado
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Resumo
The Community Health Worker (CHW)?s work, located between the health service and its community, is marked by a strong relational dimension. This worker, responsible for the mediation of these healthcare subjects? actions, builds his role based on previous knowledge and information received in his daily contact with colleagues and the population. His performance is built upon the combination of this knowledge with his own affective references, which will guide the manifestation of his thoughts and actions on the territories he passes through. Thus, we reflect upon the dimension of affectivity as a dialectical psychical category (LANE, 2006) and also Baruch Spinoza?s (2013) theory of the affects, according to commentaries and interpretations by Deleuze (2002) and Sawaia (2001a; 2001b), so we can comprehend its role in the building of this worker?s practices and its political implications, particularly in the context of a highly vulnerable territory. We understand as such, based on the concept of vulnerability discussed by Ayres, Paiva and Buchalla (2012), a territory whose material and socio-historical conditions are felt by its inhabitants as fragilizing, through the experience of inequities and situations that lead to ethical-political suffering (SAWAIA, 2001b). This research, based on those references, had as its objective to comprehend the role of affectivity in the politization of the work process and elaboration of politically transforming practices in the CHW?s actions within the Family Health Strategy (FHS) in highly vulnerable territories. This study was based on etnography applied to psychology (SATO; SOUZA, 2001), consisting on accompanying the routine of the healthcare service and the CHW during four months, using the technique of participant observation (MINAYO, 2010). Collected data was registered on field diaries (GEERTZ, 2013) and analyzed according to the Depth Hermeneutics (THOMPSON, 1995; DEMO, 2001) theory. The healthcare unit in which the study was conducted was in a moment of transition in its attention model, from the Community Health Worker Program (CHWP) to the FHS. Results point to the relevance of the CHW?s affective bond to his territory for sharing experiences with colleagues and the population; the supportive role played by the work team in understanding situations of vulnerability; the importance of building open relationships while respecting alterity in daily relations; and the impact of macropolitical aspects on the attention model?s transition. The CHW?s own affectivity, as it sensitizes him to the difficulties and inequalities of the territory, works in a political dimension as it fights against the naturalization and continuity of these situations. At the same time, this affectivity puts into action other care resources that lead to improvements. This delicate place which the CHW occupies speaks of the development of a subjectivity within a particular cultural context that, precisely due to this placement, can find its own solutions to local problems, even if restricted by macropolitical aspects. It?s the creation of a contextualized political action, brought up by the affective experience and questioning of one?s own reality.
O trabalho do Agente Comunitário de Saúde (ACS), situado entre o serviço de saúde e a população atendida, caracteriza-se por uma forte dimensão relacional. Este trabalhador, a quem cabe a mediação entre estes sujeitos do cuidado em saúde, elabora suas ações a partir dos conhecimentos de que dispõe e de informações recebidas em seu convívio com as pessoas acompanhadas e profissionais do serviço. Sua atuação se dá a partir do cruzamento destes saberes com seus próprios referenciais afetivos, que organizarão a manifestação de seus pensamentos e ações nos territórios por onde circula. Desta forma, pensamos a dimensão da afetividade como categoria do psiquismo, segundo Lane (2006), em consonância com a teoria dos afetos de Baruch Spinoza (2013) e suas releituras por Deleuze (2002) e Sawaia (2001a, 2001b), de maneira a compreender seu papel na construção das práticas deste profissional e suas implicações políticas, especialmente no contexto de um território de alta vulnerabilidade. Entendemos como tal, a partir do conceito de vulnerabilidade discutido por Ayres, Paiva e Buchalla (2012), um território cujas condições materiais e sócio-históricas incidam de maneira potencialmente fragilizadora sobre os sujeitos que o habitam, através da vivência de iniqüidades e situações que o levem ao sofrimento ético-político (SAWAIA, 2001b). Esta pesquisa, a partir destes referenciais, teve como objetivo compreender o papel da afetividade na politização do processo de trabalho e construção de práticas transformadoras do ACS em ações da ESF em territórios de alta vulnerabilidade. Estudo realizado a partir do referencial da etnografia em psicologia (SATO; SOUZA, 2001), mediante acompanhamento da rotina do serviço e dos ACS durante um período de quatro meses através da observação participante (MINAYO, 2010). Os dados coletados foram registrados em diários de campo (GEERTZ, 2013) e posteriormente analisados segundo o referencial da Hermenêutica de Profundidade (THOMPSON, 1995; DEMO, 2001). A USF onde se deu a pesquisa encontrava-se em um momento de transição do modelo PACS para a ESF. Os resultados encontrados apontam a importância da ligação afetiva dos ACS ao território para o compartilhamento de experiências com os colegas e munícipes; o papel do apoio proporcionado pela equipe de trabalho na compreensão de situações ligadas à vulnerabilidade; a importância da abertura e preservação da alteridade no estabelecimento das relações cotidianas; e o impacto de aspectos macropolíticos sobre a transição do modelo de atenção. A afetividade do ACS, conforme se sensibiliza com as dificuldades e iniquidades do território, opera em sua dimensão política ao combater a naturalização e continuidade destes processos. Ao mesmo tempo, a afetividade aciona outros recursos de cuidado que disparam melhorias. Este lugar delicado de sua atuação fala do desenvolvimento de uma subjetividade inserida em um contexto cultural particular e que, justamente por essa inserção, consegue encontrar soluções próprias ainda que limitado por aspectos macropolíticos. Trata-se da criação de uma atuação política contextualizada, mobilizada pela experiência afetiva do questionamento da própria realidade.
O trabalho do Agente Comunitário de Saúde (ACS), situado entre o serviço de saúde e a população atendida, caracteriza-se por uma forte dimensão relacional. Este trabalhador, a quem cabe a mediação entre estes sujeitos do cuidado em saúde, elabora suas ações a partir dos conhecimentos de que dispõe e de informações recebidas em seu convívio com as pessoas acompanhadas e profissionais do serviço. Sua atuação se dá a partir do cruzamento destes saberes com seus próprios referenciais afetivos, que organizarão a manifestação de seus pensamentos e ações nos territórios por onde circula. Desta forma, pensamos a dimensão da afetividade como categoria do psiquismo, segundo Lane (2006), em consonância com a teoria dos afetos de Baruch Spinoza (2013) e suas releituras por Deleuze (2002) e Sawaia (2001a, 2001b), de maneira a compreender seu papel na construção das práticas deste profissional e suas implicações políticas, especialmente no contexto de um território de alta vulnerabilidade. Entendemos como tal, a partir do conceito de vulnerabilidade discutido por Ayres, Paiva e Buchalla (2012), um território cujas condições materiais e sócio-históricas incidam de maneira potencialmente fragilizadora sobre os sujeitos que o habitam, através da vivência de iniqüidades e situações que o levem ao sofrimento ético-político (SAWAIA, 2001b). Esta pesquisa, a partir destes referenciais, teve como objetivo compreender o papel da afetividade na politização do processo de trabalho e construção de práticas transformadoras do ACS em ações da ESF em territórios de alta vulnerabilidade. Estudo realizado a partir do referencial da etnografia em psicologia (SATO; SOUZA, 2001), mediante acompanhamento da rotina do serviço e dos ACS durante um período de quatro meses através da observação participante (MINAYO, 2010). Os dados coletados foram registrados em diários de campo (GEERTZ, 2013) e posteriormente analisados segundo o referencial da Hermenêutica de Profundidade (THOMPSON, 1995; DEMO, 2001). A USF onde se deu a pesquisa encontrava-se em um momento de transição do modelo PACS para a ESF. Os resultados encontrados apontam a importância da ligação afetiva dos ACS ao território para o compartilhamento de experiências com os colegas e munícipes; o papel do apoio proporcionado pela equipe de trabalho na compreensão de situações ligadas à vulnerabilidade; a importância da abertura e preservação da alteridade no estabelecimento das relações cotidianas; e o impacto de aspectos macropolíticos sobre a transição do modelo de atenção. A afetividade do ACS, conforme se sensibiliza com as dificuldades e iniquidades do território, opera em sua dimensão política ao combater a naturalização e continuidade destes processos. Ao mesmo tempo, a afetividade aciona outros recursos de cuidado que disparam melhorias. Este lugar delicado de sua atuação fala do desenvolvimento de uma subjetividade inserida em um contexto cultural particular e que, justamente por essa inserção, consegue encontrar soluções próprias ainda que limitado por aspectos macropolíticos. Trata-se da criação de uma atuação política contextualizada, mobilizada pela experiência afetiva do questionamento da própria realidade.
Descrição
Citação
MOURA, Raul Franklin Sarabando de. Afetividade e potência de ação na construção das práticas dos agentes comunitários de saúde na estratégia saúde da família. 2016. 101 f. Dissertação (Mestrado Interdisciplinar em Ciências da Saúde) - Instituto de Saúde e Sociedade, Universidade Federal de São Paulo, Santos, 2016.