Papel da proteína quinase ativada por AMP (AMPK) em Trypanosoma cruzi

Data
2021
Tipo
Dissertação de mestrado
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Resumo
O Trypanosoma cruzi é um protozoário flagelado, causador da doença de Chagas. Durante o seu ciclo biológico o T. cruzi apresenta uma alta capacidade de adaptação ambiental, pois vive em diferentes hospedeiros em cada etapa do seu ciclo de vida. Entretanto os mecanismos que medeiam estas adaptações ainda não são bem conhecidos e se postula que dependem da disponibilidade de nutrientes e da presença de espécies reativas de oxigênio e nitrogênio. Um dos principais mecanismos envolvidos no controle do estado energético de células eucariotas ocorre por meio da proteína quinase ativada pelo aumento de AMP (AMPK), que fosforila diferentes substratos modificando o metabolismo para produzir energia em estados de carência nutricional. A AMPK é um heterotrímero formado por duas subunidades reguladoras (β e γ) e uma subunidade catalítica (α). Já foi mostrado que a ativação da AMPK de Trypanosoma brucei é capaz de induzir a diferenciação da forma replicativa à forma quiescente e que esta ativação está relacionada à indução de autofagia. Genes que codificam proteínas homólogas a AMPK estão presentes em T. cruzi, mas o seu papel ainda não é conhecido neste parasita. Neste trabalho investigamos o papel da TcAMPK em T. cruzi enquanto proteína sinalizadora como já descrito em outros eucariotos. Ensaios in silico mostraram conservação estrutural e de composição de aminoácidos das subunidades da TcAMPK com outros organismos. A alça catalítica das subunidades α1 e α2 são conservadas, porém a TcAMPKα1 exibe uma treonina na posição correspondente a serina 172, aminoácido fosforilável responsável pela ativação da proteína em eucariotos superiores. Utilizando um anticorpo específico para estas fosforilações verificamos que a enzima nas formas epimastigotas se fosforila gradativamente nas primeiras 24 horas quando os parasitas são inoculados em meio rico onde a concentração de ATP intracelular não variou. A fosforilação também foi detectada na subunidade α1 em fusão com mNeonGreen confirmando se tratar da AMPK. A fosforilação mostrou ser dependente da presença de espécies reativas de oxigênio e independente da presença de glicose no meio. Em meio privado de todos os nutrientes, ocorreu fosforilação simultaneamente ao decréscimo de ATP. Neste caso a fosforilação foi inibida pelo Composto C (Dosomorfina), potente inibidor da AMPK de diversos organismos. Em meio pobre a dosomorfina causou perda de viabilidade e os parasitas sofreram uma mudança morfológica, exibindo um formato esférico e sem flagelo similar à forma amastigota. A adição de nutrientes como glicose, prolina e ácido glutâmico diminuíram o decréscimo de ATP mesmo na presença do Composto C favorecendo a sobrevivência dos epimastigotas e não afetaram a fosforilação da AMPK. Várias tentativas de se obter parasitas depletados tanto na subunidade α1 como α2 foram infrutíferas sugerindo que a atividade da AMPK seja essencial para o crescimento do parasita. Assim, concluímos que a AMPK em T. cruzi é ativada continuamente e essa fosforilação é modulada pelos níveis de ATP e em diferentes condições de crescimento.
Trypanosoma cruzi is a flagellated protozoan that causes Chagas disease. During its biological cycle, it has a high capacity for environmental adaptation, as it lives in different hosts at each stage of its life cycle. However, the mechanisms that control these adaptations are not yet well known and it is postulated that they depend on the availability of nutrients, which results in different signaling mechanisms leading to energy production in states of nutritional deficiency. Adenosine monophosphate kinase (AMPK) is a heterotrimer formed by two subunits (β and γ) and a catalytic subunit (α). It has been shown that AMPK activation of Trypanosoma brucei is capable of inducing differentiation of replicative forms. Genes encoding proteins homologous to AMPK are also present in T. cruzi, and their role is still poorly characterized in this parasite. In this work, we investigated the role of AMPK in T. cruzi by examining its phosphorylation under different situation. We performed in silico tests to estimate the structural conservation and amino acid composition of the TcAMPK subunits with other organisms. T. cruzi were found to contain two catalytic subunits, TcAMPK α1 and α2 with a high degree of conservation in the catalytic loop. Only TcAMPKα1 showed a typical phosphorylatable serine (Ser 172). In contrast, TcAMPKα2 has at the same position a serine residue. In parasites maintained in rich medium both chains were found phosphorylated. We observed that glucose levels did not affect TcAMPKα1 and α2 phosphorylation. A band recognized by the same anti-phospho-172 was recognized with the expected size when the α-1 chain was tagged with mNeonGreen-Myc protein. The presence of Compound C (Dorsomorphin), an inhibitor of AMPK of different organisms, inhibited growth of epimastigotes but did not cause dephosphorylation of TcAMPK. However, we noticed that the parasites in a nutrient-poor environment, in which ATP levels decreased, the presence of this inhibitor, did not recover the phosphorylation of TcAMPKα and the parasites underwent morphological changes, exhibiting a spherical and flagella-free format becoming like intracellular amastigotes. Addition of nutrients in poor medium in the presence of Compound C restored partially the ATP levels favoring the survival of epimastigotes. Several attempts to generated parasites lacking either the α1 or α2 chains were unsuccessful, suggesting it’s essential role for the parasite.
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Citação
GREGÓRIO, N. R. H. Papel da proteína quinase ativada por AMP (AMPK) em Trypanosoma cruzi. São Paulo, 2021. 69 p. Dissertação (Mestrado em Biologia Estrutural e Funcional) – Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, 2021.
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