Estudo das práticas parentais de alimentação entre escolares brasileiros

Data
2017-10-10
Tipo
Tese de doutorado
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Resumo
Com as crescentes prevalências de excesso de peso e doenças crônicas não transmissíveis e a comprovação científica da associação entre estas condições e o consumo alimentar inadequado, caracterizado pelo excesso de alimentos ultraprocessados e a carência de alimentos in natura, destaca-se a importância de se compreender os determinantes do consumo alimentar e do estado nutricional infantis. Dentre os fatores relacionados ao ambiente em que a criança está inserida, é evidente a influência da família e, principalmente, dos pais na formação dos hábitos e comportamentos alimentares infantis. Apesar de crianças em idade escolar sofrerem influências de outros atores, como professores e pares, os pais ainda influenciam o desenvolvimento de hábitos e comportamentos alimentares dos filhos. Para isso, se utilizam de estratégias denominadas práticas parentais de alimentação, a depender de suas características e dos seus filhos, preocupações, percepções, compreensão de responsabilidade, estado nutricional e consumo alimentar, entre outros fatores. Dentre as estratégias mais utilizadas destacam-se a restrição, a pressão, o monitoramento, a regulação da emoção, a comida como recompensa e práticas parentas ditas positivas, como modelo, ensinamentos sobre nutrição e a promoção de um ambiente saudável. A presente tese é composta por dois artigos científicos e teve como objetivo o estudo das práticas parentais de alimentação entre crianças de cinco a nove anos matriculadas em escolas particulares de Campinas e São Paulo, SP. O primeiro artigo científico teve como objetivo traduzir e a validar o questionário americano Comprehensive Feeding Practices Questionnaire para o estudo de práticas parentais. A versão brasileira do instrumento é composta de 42 itens divididos em seis fatores: “orientação para uma alimentação saudável”, “monitoramento”, “restrição para a saúde”, “restrição para controle de peso”, “regulação da emoção/comida como recompensa” e “pressão”. A partir de métodos e análises estatístcas rigorosas, incluindo adaptação transcultural, teste-reteste, correlações entre fatores e validades interna, discriminante e convergente, a versão brasileira do instrumento se mostrou válida e adequada para ser utilizada no estudo de práticas parentais de alimentação entre pais de crianças brasileiras entre cinco e nove anos incompletos pertencentes a famílias com níveis médios e altos de escolaridade e socioeconômico. Já o segundo artigo científico teve como objetivo investigar as associações entre as práticas parentais de alimentação potencialmente positivas (“orientação para uma alimentação saudável” e “monitoramento”) e negativas (“restrição para a saúde”, “restrição para controle de peso”, “regulação da emoção/comida como recompensa” e “pressão”) com características sociodemográficas, antropométricas e comportamentais de pais e de seus filhos entre cinco e nove anos incompletos. Dentre os achados, destacam-se as associações entre o baixo uso de práticas positivas e a menor percepção de responsabilidade em relação à alimentação infantil, o uso frequente de tela e o alto consumo de alimentos ultraprocessados. Além disso, o uso de práticas restritivas associou-se à maior percepção de responsabilidade pela alimentação da criança e à preocupação com o excesso de peso infantil. O uso de “pressão” foi associado à percepção e à preocupação parental com o baixo peso da criança e à maior percepção de responsabilidade pela alimentação infantil. Por fim, o alto consumo de produtos ultraprocessados e a menor idade materna foram associados ao maior uso de “regulação da emoção/comida como recompensa”. Assim, o uso de práticas parentais positivas demonstrou ser fator relevante para o desenvolvimento de hábitos alimentares saudáveis e estado nutricional adequado dos escolares da amostra estudada, o que aponta para a necessidade de programas e políticas para educar os pais sobre a alimentação infantil motivando-os a promover estilos de vida saudáveis para seus filhos.
With the increasing prevalence of overweight and non-communicable diseases and the association between these conditions and unhealthy eating, marked by the excess of ultra-processed foods and the lack of fresh foods, it is important to understand the determinants of child food consumption and nutritional status. Among the factors related to the child’s environment, it is evident the influence of the family and, especially, of the parents in the formation of children's eating habits and behaviors. Although school-aged children are influenced by other actors, such as teachers and peers, parents still influence the development of children's eating habits and behaviors. For that, they use strategies called parental feeding practices, depending on their characteristics and their children’s, concerns, perceptions, understanding of responsibility, nutritional status and food consumption, among other factors. Among the most important strategies are restriction, pressure, monitoring, emotion regulation, food as reward, and positive practices, such as modeling, teaching about nutrition and promoting a healthy environment. This thesis is composed of two scientific papers, and aimed to study of the parental feeding practices among children of five to nine years old enrolled in private schools of Campinas and São Paulo, SP. The first scientific paper aimed to translate and validate the American Comprehensive Feeding Practices Questionnaire for the study of parental feeding practices. A Brazilian version of the instrument is composed of 42 items divided into six factors: "healthy eating guidance", "monitoring", "restriction for health", "restriction for weight control", "emotion regulation/food as reward", and "pressure”. Based on rigorous statistical methods and analysis, including transcultural adaptation, test-retest reliability, factor correlations, and internal, item-discriminant, and convergente validity, the Brazilian version of the instrument proved to be valid and appropriate for its use in the study of parental feeding practices among five- to nine-year-old Brazilian children from middle and high schooling and socioeconomic status. The second scientific paper aimed to investigate the associations between potentially positive ("healthy eating guidance" and "monitoring") and negative ("restriction for health", "restriction for weight control", "emotion regulation/food as reward”, and "pressure") feeding practices with sociodemographic, anthropometric and behavioral characteristics of parents and their children from five to nine years old. Among the findings are the associations between the lower use of positive feeding practices and the lower parental perceived responsibility for child feeding, the frequent use of the screen, and the higher consumption of ultraprocessed foods. In addition, the use of restrictive feeding practices was associated with a greater parental perceived responsibility for child feeding and concern about child overweight. Moreover, the use of "pressure" was associated with parental perception and concern about child underweight, and greater parental perceived responsibility for child feeding. Finally, higher consumption of ultra-processed foods and lower maternal age were associated with greater use of "emotion regulation/food as reward". Thus, the use of positive parental feeding practices was shown to be a relevant factor for the development of healthy eating habits and adequate nutritional status of school-aged children in the studied sample, which points to the need for programs and policies to educate parents about child feeding, motivating them to promote healthy lifestyles for their children.
Descrição
Citação
MAIS, Laís Amaral. Estudo das práticas parentais de alimentação entre escolares brasileiros. São Paulo, 2017. [203] p. Tese (Doutorado em Pediatria e ciências aplicadas à pediatria) - Escola Paulista de Medicina (EPM), Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, 2017.
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