Impacto dos sintomas psiquiátricos na experiência de dor de pacientes com doença falciforme em dois países
Data
2015-01-19
Tipo
Tese de doutorado
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Resumo
Objetivo: Avaliar se a presença de sintomas depressivos, ansiosos e de abuso de álcool em pacientes com doença falciforme de São Paulo, SP, Brasil e de Richmond, VA, Estados Unidos impactam na experiência de dor total, aguda e crônica referida em seis meses. Método: Trata-se de um estudo longitudinal, prospectivo, realizado em dois centros. Nos Estados Unidos a amostra foi criada a partir de uma busca ativa de pacientes através de jornais, rádios e anúncios, na região de Richmond e Tidewater, Virginia, e no Brasil os pacientes do ambulatório de doenças falciformes da Disciplina de Hematologia da Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo foram convidados a participar. A amostra de 271 pacientes foi composta por 226 pacientes dos Estados Unidos e 45 do Brasil, que completaram a avaliação inicial e depois o seguimento. Em ambos os centros, a avaliação inicial consistiu no preenchimento de questionários e instrumentos que abordavam aspectos sócio-demográficos, clínicos (como o genótipo da doença) e de avaliação de sintomas psiquiátricos (depressivos, ansiosos e de abuso de álcool, avaliado pelo Patient Health Questionnaire). O seguimento consistiu no preenchimento de diários de dor por 6 meses, o qual continha medidas sobre que dias eram de dor aguda, crônica ou sem dor; no caso de dor qual a intensidade da dor, do sofrimento e da interferência da dor, e se o paciente procurava algum atendimento médico emergencial na vigência da dor. A análise dos dados considerou a descrição e comparação da avaliação inicial dos pacientes no Brasil e dos Estados Unidos, e o estudo do impacto de sintomas psiquiátricos sobre a experiência de dor total, aguda e crônica ao longo de 6 meses, por meio de modelos de regressão logística. Resultados: Os pacientes em São Paulo apresentaram uma experiência de dor total com menor impacto do que os pacientes de Richmond (26,9% vs. 57,5%, respectivamente, p?0,05), principalmente à custa da dor crônica (dor sem crise falciforme). A análise dos sintomas psiquiátricos sobre a experiência de dor mostrou ter impacto diferente entre as amostras: a presença de sintomas ansiosos aumentou a frequência de dor em ambos os centros, porém de forma muito mais expressiva em São Paulo do que em Richmond (p?0,001); a presença de sintomas depressivos diminuiu a frequência de dor em São Paulo e aumentou em Richmond (p?0,001); e a presença de abuso de álcool diminui a frequência em São Paulo e Richmond, porem de forma mais expressiva em São Paulo (p?0,001). Conclusão: Os resultados mostram que a presença de sintomas psiquiátricos alteram a expressão da dor, e foi diferente entre os dois locais de coleta. Em São Paulo, a presença de sintomas depressivos e de abuso de álcool teve um efeito protetor sobre a dor, e a presença de sintomas ansiosos piorou muito a experiência de dor. Em Richmond, o abuso de álcool e a presença de ansiedade tiveram o mesmo impacto, mas a presença de sintomas depressivos também piorou a experiência de dor do paciente. O médico que atende o paciente com doença falciforme deve sempre ter em mente que a presença de sintomas ansiosos e depressivos pode contribuir para desencadear a dor, assim como o abuso do álcool ser um problema. O médico deve incluir na sua triagem um questionamento sobre estes aspectos.
Descrição
Citação
LUCCHESI, Fatima. Impacto dos sintomas psiquiátricos na experiência de dor de pacientes com doença falciforme em dois países. 2015. Tese (Doutorado) - Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, 2015.