Síndrome de Asperger, inclusão no trabalho e desenvolvimento humano: o papel da educação especial e da (falta de) escolaridade nesta relação

Abstract

This paper discusses the role performed by schooling in the processes of professionalization as well as inclusion of people with disabilities in the work field by highlighting the policies and practices of special education developed in the 80s and 90s. The starting point of this paper is a case study developed from 2007 to 2009 as a research mentorship paper, in which we investigated the possibilities for learning and developing explored by an adult man with Asperger syndrome during his volunteering working practices as a teacher assistant, at a specific philanthropic school at the city of São Paulo which works with children and adolescents with cerebral palsy. The findings and considerations about the ways of participation and the social conditions that define the boundaries and possibilities attributed to the subject of this case study, has led us to question the role performed by special education and, more specifically, by the lack of schooling during this subject’s development process. Additionally, aiming to contribute to a broader discussion on the inclusion process of people with disabilities in the work environment, we have also analyzed the subject’s “current” working conditions, as a worker and volunteer adult. In order to understand how this “social” history is reflected and transformed in the “personal” history that constitutes the case studied, our main goal is to present and discuss aspects from the history of education of people with disabilities in Brazil by connecting them with political and economical features framing the disability-work relationship. Such connection is perceived as (a)typical in the studies of disability, education and work, enriching further discussion about the theme. Our studies have been based on the methodological and theoretical foundations from the findings of historical-cultural psychology (Vygotsky 1997; 2000; 2007), from which we highlight development as a social process and the examination of the historical and cultural aspects as a factor contributing to the variety of ways in which mental functioning is damaged. In the research mentorship, this research was categorized as a case study developed from participative observation and microgenetics analysis. In this monograph, such methodological approach gives rise for further reflection about the role performed by schooling (as well as the lack of it) in the processes of inclusion of people with disabilities in the work environment. The study also gives rise for “recalling” and further researching such study.

Este trabalho discute o papel desempenhado pela educação escolar nos processos de profissionalização e inclusão de pessoas com deficiências no campo do trabalho, destacando as políticas e práticas de educação especial desenvolvidas nas décadas de 80 e 90. Tem como ponto de partida um estudo de caso, desenvolvido de 2007-2009 como trabalho de iniciação científica, no qual investigamos as possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento construídas por um homem adulto que tem a síndrome de Asperger em práticas de trabalho voluntário como auxiliar de professor, em uma escola especial de caráter filantrópico que atende crianças e adolescentes com paralisia cerebral na cidade de São Paulo. As constatações e considerações elaboradas neste estudo de caso sobre os modos de participação e as condições sociais definidoras dos limites e possibilidades atribuídos ao sujeito nos levaram a perguntar sobre o papel desempenhado pela educação especial e, mais especificamente, pela falta de escolarização no processo de desenvolvimento do sujeito, de suas condições “atuais” de atuação, como adulto, trabalhador e voluntário, pretendendo contribuir para a discussão mais ampla do processo de inclusão de pessoas com deficiência no trabalho. Temos como objetivo: apresentar e discutir aspectos da história da educação de pessoas com deficiências no Brasil, relacionando-os a aspectos políticos e econômicos que organizam a relação deficiência-trabalho, de forma a compreender como essa história “social” é refletida e transformada na história “pessoal” que constitui o caso estudado, o qual se configura como (a)típico na articulação dos temas deficiência, educação e trabalho, enriquecendo a discussão sobre o tema. Tomamos como fundamentos teóricos metodológicos os pressupostos da psicologia histórico-cultural (Vygotsky, 1997; 2000; 2007), da qual destacamos o desenvolvimento como processo social e a consideração dos aspectos históricos e culturais na constituição das mais diversas formas de comprometimento do funcionamento mental. Na iniciação científica, a pesquisa caracterizou-se como um estudo de caso desenvolvido a partir da observação participante e da análise microgenética, abordagem metodológica que, neste trabalho de monografia, fundamenta a reflexão sobre o papel desempenhado pela escolarização (e por sua falta) nos processos de inclusão de pessoas com deficiências no trabalho, a “retomada” e o adensamento do estudo referido.