Processamento auditivo central e voz na doença de Parkinson

Abstract

Objetivo. Investigar as habilidades do processamento auditivo central (PAC) por meio de uma plataforma online em idosos com doença de Parkinson (DP) e compará-las com a presença de queixa vocal, com a desvantagem vocal de voz autodeclarada e com a avaliação perceptivo-auditiva da voz. Método. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa institucional. Participaram 28 idosos (18 homens e 10 mulheres), voluntários, com diagnóstico de DP realizado pela Associação Brasil Parkinson (ABP), localizada em São Paulo, Brasil. A faixa etária variou de 60 a 80 anos (média de 69,79 anos), com a maior parte dos participantes apresentando elevado nível de escolaridade (14 ou mais anos de estudo) e o estágio da DP variou entre 1 e 2,5, sendo que a maioria dos participantes estavam no estágio 1 e 1,5 da doença (comprometimento unilateral). A maioria dos participantes (75%) apresentava perda auditiva em frequências altas, com grau variando entre normal e leve nas frequências médias. Nos participantes restantes, o grau observado foi moderado. Os procedimentos utilizados neste estudo oportunizaram caracterizar: 1) Qualidade da voz (grau geral de desvio vocal) via avaliação perceptivo-auditiva (APA) por duas profissionais experientes da área da voz; 2) Medidas autopercebidas pelo participante (desvantagem vocal e presença de queixa vocal); 3) Triagem do PAC, via plataforma online denominada de triagem AudBility. Os dados foram analisados de forma descritiva e inferencial. Resultados. A amostra foi constituída por 50% de idosos com queixa vocal. Entre os idosos com queixa vocal, a maioria declarou apresentar desvantagem vocal, enquanto nos idosos sem queixa vocal, a maioria declarou não apresentar desvantagem vocal. Em 46,43% dos participantes a voz foi classificada por profissionais especializados como alterada. Todos conseguiram realizar a triagem via plataforma online AudBility e verificou-se que 75% dos participantes falharam da triagem AudBility. Não ocorreram diferenças estatisticamente significantes na categoria passou/falhou na triagem AudBility em relação à presença de queixa vocal, à APA e ao IDV-10. Quanto à presença ou não de queixa vocal autorreferida, verificou-se pior resultado na resolução temporal geral. Quanto à APA, verificou-se pior resultado no teste de figura-fundo em ambas as orelhas e no teste de resolução temporal em 2 milissegundos. Ocorreu correlação negativa entre o teste de figura-fundo ipsilateral OD e a média da avaliação. Assim foi possível afirmar que quanto pior o desvio vocal, pior o desempenho em figura fundo OD na triagem AudBility. Conclusão. Todos os participantes conseguiram realizar a triagem online AudBility constituída pelos seguintes testes: consoante vogal por orelha, dicótico de dígitos integração, figura-fundo ipsilateral, resolução temporal e ordenação temporal intensidade e frequência. A maioria falhou na triagem. Assim, recomenda-se a triagem AudBility em idosos, pois poderá auxiliar na sua reabilitação fonoaudiológica.

Aim. To investigate the abilities of central auditory processing through an online platform in elderly people with Parkinson's disease (PD) and compare them with the presence of vocal complaint, with a self-declared vocal handicap and with auditory-perceptual voice assessment. Method. This study was approved by the institutional research ethics committee. Participants were 28 elderly (18 men and 10 women), volunteers, diagnosed with PD performed by the Associação Brazil Parkinson (ABP), located in São Paulo, Brazil. The age ranged from 60 to 80 years (mean of 69.79 years), most participants had a high level of education (14 or more years of schooling) and the PD stage ranged from 1 to 2.5; most participants were in stage 1 and 1.5 of the disease (unilateral impairment). Most participants (75%) had hearing loss at high frequencies, with a degree ranging from normal to mild in the mean frequencies. In the remaining participants, the degree observed was moderate. The procedures used in this study characterized: 1) Voice quality (general degree of vocal deviation) via auditory-perceptual assessment (APA) by two experienced professionals in the voice area; 2) Self-perceived measures by the participant (voice handicap index and presence of vocal complaint); 3) Screening of auditory processing, via an online platform called AudBility screening was analyzed descriptively and inferentially. Results. 50% of the elderly had vocal complaints. Most of the elderly with vocal complaints reported vocal impairment and most of the ones with no vocal complaints reported no vocal impairment. In 46.43% of the participants, the voice was classified by specialized professionals as altered. All were able to perform screening via the AudBility online platform and it was found that 75% of the participants failed the AudBility screening. There were no statistically significant differences in the category passed/failed in audibility screening in relation to the presence of vocal complaint, APA, and voice handicap index. Regarding the presence or not of self-reported vocal complaints, there was a worse result in the general temporal resolution. Regarding APA, there was a worse result in the figure-background test in both ears and in the temporal resolution test in 2 milliseconds. There was a negative correlation between the ipsilateral figure-background test right ear and the mean evaluation. Thus, it was possible to affirm that the worse the vocal deviation, the worse the performance in the right ear figure background in the AudBility screening. Conclusion. All participants were able to perform the AudBility online screening consisting of the following tests: consonant vowel by ear, dichotic digit integration, ipsilateral figure-background, temporal resolution and temporal ordering intensity and frequency. Most failed the screening. Thus, the AudBility screening is recommended in the elderly, as it may help in their speech therapy rehabilitation.