Ambiente alimentar e sua relação com o estado nutricional, consumo alimentar e adição por alimentos no grupo materno infantil em aglomerados subnormais de Maceió-Alagoas

Abstract

O objetivo desta tese foi avaliar a relação entre o ambiente alimentar com o estado nutricional, consumo alimentar e adição por alimentos no grupo materno infantil que vive em situação de vulnerabilidade social. Trata-se de um estudo transversal, realizado em aglomerados subnormais de Maceió, capital do Estado de Alagoas, Nordeste do Brasil. Foram incluídas no estudo 1882 mulheres, com idade entre 20 e 44 anos, e 665 crianças, com idade entre 6 e 59 meses, que foram recrutadas em 40 aglomerados subnormais. No que se refere ao ambiente alimentar foi realizado de trabalho de campo, procedimento este considerado o padrão ouro para avaliação do ambiente alimentar. Foi criada uma camada de buffer com raio de 400 m em cada aglomerado, delimitando a área de coleta. Foram incluídos 624 estabelecimentos que tinham como atividade principal a venda de alimentos para consumo no domicílio. Nas visitas domiciliares foram coletados dados socioeconômicos e demográficos, e realizada avaliação antropométrica e do consumo alimentar por meio da aplicação de recordatório alimentar de 24 horas, também foi avaliada a presença de adição por alimentos nas mulheres e realizada a dosagem da concentração de hemoglobina capilar nas crianças incluídas no estudo, além de suas mães. A avaliação do ambiente alimentar foi realizada por meio da utilização do instrumento de Auditoria do Ambiente Alimentar Baseado na Nova Classificação de Alimentos do Guia Alimentar. Também foram coletadas as coordenadas geográficas (latitude e longitude) de todos os estabelecimentos avaliados. Adicionalmente, foi avaliado o ambiente alimentar percebido pelas mulheres por meio da Escala de Disponibilidade de Alimentos Saudáveis na vizinhança. Os resultados estão apresentados em quatro artigos originais. O primeiro artigo teve por objetivo avaliar a existência de associação entre medidas do ambiente alimentar comunitário e do consumidor com a presença de excesso de peso, obesidade abdominal e anemia no grupo materno infantil. Foram incluídas 1882 mulheres e 665 criançass. Na análise de associação foi identificado que a pior percepção do ambiente alimentar foi preditivo para o excesso de peso (OR= 1.35; IC95%: 1.05, 1.73) e obesidade abdominal (OR= 1.38; IC95%: 1.04, 1.84) nas mulheres; a menor saudabilidade do ambiente aumentou a probabilidade das mulheres apresentarem obesidade abdominal (OR= 1.69; IC95%: 1.05, 2.73) e anemia (OR= 1.74; IC95%: 1.15, 2.63), e das crianças apresentarem excesso de peso (OR= 1.69; IC95%: 1.05, 2.73); e a maior disponibilidade de alimentos ultraprocessados (AUP) no ambiente foi preditivo para presença de excesso de peso (OR= 2.64; IC95%: 1.61, 4.33) e anemia nas crianças (OR= 1.77; IC95%: 1.08, 2.89). O segundo artigo teve por objetivo determinar a prevalência de adição por alimentos nas mulheres e identificar se existe associação entre a adição por alimentos e o ambiente alimentar, consumo de AUP e o estado nutricional. Foram incluídas 1878 mulheres. A prevalência de adição por alimentos encontrada foi de 15.1%. Observou-se que residir em lugares com maior disponibilidade de AUP no ambiente alimentar (OR: 1.47; IC95%: 1.07, 2.01), apresentar maior participação calórica de AUP na alimentação (OR: 1.40; IC95%: 1.01, 1.96) e ter obesidade (OR: 2.96; IC95%: 2.09, 4.21) é preditivo para a adição por alimentos. O objetivo do terceiro artigo foi avaliar se existe relação entre a obesidade, anemia e o consumo de AUP com a qualidade da dieta das mulheres. Foram incluídas 1702 mulheres, sendo que para a avaliação da anemia foram incluídas 580 mulheres. Foi possível identificar que a maior participação calórica proveniente de AUP na alimentação (β: -0.10; IC95%: -0.15, -0.04), assim como apresentar quadro de obesidade (β: -1.98; IC95%: -3.45, -0.52) e anemia (β: -4.41; IC95%: -8.53, -0.30), estão associados negativamente com a qualidade da dieta. E o quarto artigo teve por objetivo avaliar a prevalência de dupla carga de má nutrição nas crianças e investigar a sua relação com práticas alimentares relacionadas ao aleitamento materno exclusivo e complementar, além da introdução alimentar precoce de bebidas adoçadas artificialmente. Foram incluídas 665 crianças. A prevalência de dupla carga de má nutrição encontrada foi de 5.4%. Foi possível observar que as crianças que receberam aleitamento materno exclusivo por seis ou mais meses (OR: 0.30; IC95%: 0.10, 0.89) e foram amamentadas de forma complementar por 12 ou mais meses (OR: 0.43; IC95%: 0.19, 0.97) tinham menor probabilidade de apresentar dupla carga de má nutrição, ao mesmo tempo que as crianças as quais foi introduzido na sua alimentação ainda no primeiro ano de vida refrigerante (OR: 4.30; IC95%: 1.39, 13.29) tinham uma maior probabilidade de apresentar dupla carga de má nutrição. Diante do que foi exposto, percebe-se que as diferentes caraterísticas do ambiente alimentar foram associadas positivamente com a presença de excesso de peso, obesidade abdominal e anemia no grupo materno infantil. Ao mesmo tempo que foi identificada uma elevada prevalência de adição por alimentos, situação associada positivamente com a maior disponibilidade de AUP no ambiente alimentar, maior consumo de AUP e obesidade. Adicionalmente, também foi percebido que essas mulheres apresentam uma baixa qualidade da dieta, situação que foi associada ao maior consumo de AUP, quadro de obesidade e anemia. Além disso, foi identificada uma elevada prevalência de dupla carga de má nutrição nas crianças, situação associada positivamente a introdução de refrigerante ainda no primeiro ano de vida da criança, e negativamente com o aleitamento materno exclusivo ou complementar.

This thesis aimed to evaluate the relationship between the food environment and nutritional status, food consumption, and food addiction in the maternal and child group living in a situation of social vulnerability. This is a cross-sectional study carried out in subnormal agglomerations in Maceió, the capital of the State of Alagoas, Northeastern Brazil. The study included 1882 women, aged between 20 and 44 years, and 665 children, aged between 6 and 59 months, recruited from 40 subnormal agglomerations. Concerning the food environment, fieldwork was carried out, a procedure considered the gold standard for evaluating the food environment. A buffer layer with a radius of 400 m was created in each agglomerations, delimiting the collection area. A total of 624 establishments whose main activity was selling food for consumption at home were included. During home visits, socioeconomic and demographic data were collected, and anthropometric and food consumption assessments were carried out through the application of a 24-hour food recall, the presence of food addiction in women was also evaluated, and capillary hemoglobin concentration was measured in the children included in the study, in addition to their mothers. The food environment assessment was conducted using the Food Environment Audit instrument based on the New Food Classification of the Food Guide. All evaluated establishments' geographic coordinates (latitude and longitude) were also collected. Additionally, the food environment perceived by the women was evaluated using the Healthy Food Availability Scale in the neighborhood. The results are presented in four original articles. The first article aimed to evaluate the association between measures of the community and consumer food environment with the presence of overweight, abdominal obesity, and anemia in the maternal and child group. 1882 women and 665 children were included. In the association analysis, it was identified that the worst perception of the food environment was predictive of overweight (OR= 1.35; 95% CI: 1.05, 1.73) and abdominal obesity (OR= 1.38; 95% CI: 1.04, 1.84) in women; less healthy environment increased the probability of women having abdominal obesity (OR= 1.69; 95%CI: 1.05, 2.73) and anemia (OR= 1.74; 95%CI: 1.15, 2.63), and of children being overweight (OR= 1.69; 95%CI: 1.05, 2.73); and the greater availability of ultra-processed foods (UPF) in the environment was predictive of overweight (OR= 2.64; 95%CI: 1.61, 4.33) and anemia in children (OR= 1.77; 95%CI: 1.08, 2.89). The second article aimed to determine the prevalence of food addiction in women and to identify whether there is an association between food addiction and the food environment, UPF consumption, and nutritional status. 1878 women were included. The prevalence of food addiction found was 15.1%. It was observed that residing in places with greater availability of UPF in the food environment (OR: 1.47; 95%CI: 1.07, 2.01), having a more outstanding caloric contribution of UPF in food (OR: 1.40; 95%CI: 1.01, 1.96) and having obesity (OR: 2.96; 95% CI: 2.09, 4.21) is predictive of food addiction. The third article aimed to assess whether there is a relationship between obesity, anemia, and UPF consumption with the quality of women's diets. A total of 1702 women were included, and 580 women were included for assessing anemia. It was possible to identify that the greater participation of calories from UPF in food (β: -0.10; CI95%: -0.15, -0.04), as well as presenting obesity (β: -1.98; CI95%: -3.45, -0.52) and anemia (β: -4.41; 95%CI: -8.53, -0.30), are negatively associated with diet quality. Moreover, the fourth article aimed to evaluate the prevalence of the double burden of malnutrition in children and investigate its relationship with dietary practices related to exclusive and complementary breastfeeding and the early introduction of artificially sweetened beverages. 665 children were included. The prevalence of double burden of malnutrition found was 5.4%. It was possible to observe that children who received exclusive breastfeeding for six or more months (OR: 0.30; CI95%: 0.10, 0.89) and were breastfed in a complementary way for 12 or more months (OR: 0.43; CI95%: 0.19, 0.97) were less likely to have a double burden of malnutrition, while children who had soda added to their diets in their first year of life (OR: 4.30; 95%CI: 1.39, 13.29) were more likely to have the double burden of malnutrition. Given the above, it is clear that the different characteristics of the food environment were positively associated with the presence of overweight, abdominal obesity, and anemia in the maternal and child group. At the same time, a high prevalence of food addiction was identified, a situation positively associated with the greater availability of UPF in the food environment, higher UPF consumption, and obesity. It was also noticed that these women had a low-quality diet associated with higher consumption of UPF, obesity, and anemia. In addition, a high prevalence of double burden of malnutrition was identified in children, a situation positively associated with introducing soda in the child's first year of life and negatively with exclusive or complementary breastfeeding.